Jezabel foi mais uma tentativa frustrada da Record TV de “inovar” em trama bíblica

Publicado em 12/08/2019

Pode-se traçar um paralelo entre Apocalipse, primeiro grande fracasso da dramaturgia bíblica da Record TV, e Jezabel, macrossérie encerrada hoje (12). Nos dois casos, a ideia foi trazer algo inspirado no Livro Sagrado, mas buscando uma abordagem diferenciada. Assim, enquanto Apocalipse ousou ao trazer uma história contemporânea baseada na Bíblia, Jezabel ofereceu algo mais convencional, porém com alguma pretensa novidade.

Neste caso, a grande novidade de Jezabel foi trazer uma protagonista vilã e negra. A autora Cristianne Fridman narrou os embates entre a rainha fenícia Jezabel (Lidi Lisboa) e o profeta Elias (Iano Salomão) centrada na figura feminina. Foi claramente uma tentativa de fugir da fórmula das novelas centradas em profetas, como Os Dez Mandamentos, A Terra Prometida e Jesus.

Com esta mudança de eixo, a dramaturgia da Record experimentou ir além do arroz com feijão. No entanto, a prática se revelou pouco eficiente no sentido de fazer de Jezabel um produto diferenciado. O que se viu em cena foram os mesmos figurinos, os mesmos cenários e a mesma fala empostada vista nas produções anteriores. Com isso, apesar da tentativa de sair do lugar-comum, Jezabel se mostrou uma trama bem parecida com as que vieram antes.

Apesar disso, ao analisar Jezabel sem considerar suas antecessoras, é possível afirmar que a Record ofereceu um bom produto. A produção foi caprichada (com exceção, claro, da caracterização de “envelhecimento” dos atores, bem estranha), com uma direção correta e boas atuações. A experiência da autora Cristianne Fridman nos folhetins também foi bem-vinda, já que ela conseguiu construir uma boa arquitetura entre trama e personagens.

Jezabel: Lidi Lisboa foi acerto

É possível destacar também o bom elenco escalado pela emissora nesta produção. Lidi Lisboa começou acima do tom, mas logo encontrou a personagem-título e fez um belo trabalho. Jezabel foi uma vilã implacável, e a atriz deitou e rolou na construção da personagem. Liderou o elenco com muita competência. Nomes como André Bankoff (Rei Acabe), Iano Salomão, Juliana Knust (Queila) e Sthefany Brito (Raquel) merecem menção, assim como o veterano Flavio Galvão (Nabote).

Entretanto, mesmo assim, Jezabel amargou baixos índices de audiência. Provavelmente, a audiência conservadora da emissora não aceitou bem uma série sobre uma mulher vilã. Além disso, o desgaste das produções bíblicas também pesa. A emissora foi feliz ao tentar buscar algo novo para suas novelas sobre a Bíblia. Mas ainda não acertou o passo. Vai tentar novamente com Gênesis, que deve ser uma novela diferente, com várias histórias em uma. Mas a nova produção virá somente no ano que vem. Será que vai funcionar?

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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