Jesus tem estreia confusa, mas demonstra potencial

Publicado em 25/07/2018

Estreia da noite de ontem (24) da Record, a novela Jesus tem tudo para agradar aos fãs da dramaturgia da emissora. O canal retoma as tramas bíblicas passadas na antiguidade, e tem como protagonista a figura mais importante do Livro Sagrado. Por si só, trata-se de um belo chamariz de audiência. Entretanto, o primeiro capítulo da nova novela foi um tanto confuso e disperso.

Jesus começou com uma espécie de “flashforward” (se é que é possível usar essa palavra numa trama bíblica), com cenas da crucificação de Cristo (Dudu Azevedo). O recurso não chega a ser uma novidade, já que A Terra Prometida, cuja reprise estreia hoje (25), também começa com cenas do “futuro”. No entanto, logo depois do retrato do sacrifício de Jesus, a história dá um belo “salto para trás” e chega ao Gênesis, mostrando a criação do mundo. Em cena, Adão (Rodrigo Soni) e Eva (Thalita Xavier) no Paraíso, uma bela sequência, com uma fotografia que saltou aos olhos. Mas completamente deslocada da trama que se pretende contar. Soou como uma “propaganda” da próxima novela, que deve ser justamente Gênesis.

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Depois que Eva morde o “fruto proibido”, a novela deu um novo salto, chegando ao ano anterior do nascimento do protagonista. Aí, Jesus seguiu sem um foco definido. Ao mesmo tempo em que a narrativa foca na juventude de Maria (Juliana Xavier) e José (Guilherme Dellorto), também dá espaço a Herodes (Paulo Gorgulho) e à guerra com os romanos. Tanta informação deixou a trama dispersa, sem uma unidade que garantisse um interesse maior. A tentativa de contextualizar a audiência quanto ao período histórico é sempre válida, mas foi feita sem muita sutileza. Pareceu uma sucessão de cenas soltas.

Por outro lado, o texto de Paula Richard chamou a atenção pela maneira como retrata Maria e José. São dois personagens que passaram uma pureza, mas, ao mesmo tempo, não exageraram na ingenuidade. Mérito não somente do texto, mas também da interpretação dos jovens Juliana e Guilherme. Jesus também chamou a atenção pelo capricho da ambientação, cenários e figurinos, bem mais convincentes que das tramas anteriores. Além disso, a novela terminou com um gancho poderoso. Na última cena, Maria se encontra com o anjo Gabriel (Raphael Sander), que a avisa que ela vai gerar o filho de Deus.

Jesus deve reconfigurar a “guerra de audiência”

Na audiência, Jesus não conseguiu fazer frente a As Aventuras de Poliana, do SBT, na grande São Paulo. A trama infantil é realmente um fenômeno e, pelo visto, tem um público cativo e fiel. Mesmo assim, a trama bíblica não fez feio na estreia, levantando a audiência da Record no horário. Com isso, são grandes as chances de haver uma reconfiguração no quadro de audiência dos três principais canais abertos brasileiros. Jesus, Poliana e Segundo Sol, da Globo, hão de disputar a atenção do público.

E Jesus tem potencial para crescer e fazer a Record voltar a sorrir no ramo das novelas. Afinal, ao fazer uma novela sobre Jesus, a emissora deve conquistar boa parte dos cristãos, independente de igreja. Se não cair na armadilha de Apocalipse, que abusou do texto doutrinário, tem tudo para ser bem-sucedida na missão.

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*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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