Fina Estampa é uma novela problemática. Mas tem seus acertos. O principal deles é Griselda, a protagonista. A personagem de Lília Cabral é uma heroína firme, honesta, mas que tem sangue nas veias e não leva desaforo para casa. Com macacão e caixa de ferramentas a tiracolo, a Pereirão é um tipo marcante, daqueles que se tornam eternos.
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No entanto, nesta altura da reprise da Globo, há muito pouco da Griselda “raiz”. Apesar de Fina Estampa ter como espinha dorsal a virada na vida da heroína, que enriquece após ganhar na loteria, esta transição de tipo popular a milionária não foi bem conduzida pelo autor Aguinaldo Silva. Griselda comprou uma mansão, repaginou o figurino e se tornou empresária. Mas perdeu seu encanto inicial.
Atualmente, Griselda vive um romance insosso com René (Dalton Vigh), enquanto se dedica a rusgas quase infantis com Tereza Cristina (Christiane Torloni). Já não se reconhece mais aquela mulher firme, decidida, dura e disposta a tudo por sua família. A mudança é tão evidente que até Lília Cabral parece ter perdido o tom da personagem.
Isso porque Pereirão era muito definida pelo figurino e pelo trabalho. Assim que Griselda abandona o macacão, Lília Cabral também parece buscar um meio-termo entre a masculinidade excessiva do início da trama e a fase mais romântica da personagem. Mas ela não encontra este tom.
Sem função
Esta mudança no perfil da personagem é agravada pelo desenrolar da trama de Fina Estampa. Inicialmente, há uma proposta muito clara, quase um contraponto entre Griselda e Tereza Cristina, que dá o ritmo da trama. Mas, quando Pereirão enriquece, ela perde também o seu protagonismo. Sua rivalidade com a vilã se reduz a gags non sense.
Tanto que Tereza Cristina muda o foco de suas maldades. Ela não ataca mais diretamente Griselda, mas sim seus filhos. Além disso, passa a se ocupar com outras maldades. O assassinato de Marcela (Suzana Pires) e as constantes tentativas de esconder seu famigerado segredo passam a mover mais a personagem. E Griselda é jogada para escanteio.
Por fim, há uma incoerência no discurso de Griselda. A heroína é uma defensora do trabalho duro e honesto. Mas ela só melhorou de vida e realizou seus sonhos ao ganhar na loteria. Com isso, seu discurso fica um tanto vazio. Afinal, apesar de ter trabalhado duro, ela só foi recompensada por conta da sorte.
Griselda é uma grande personagem. Não é uma heroína rasa, nem chata. E tem em Lília Cabral uma intérprete sensível e atenta. Mas a reprise de Fina Estampa evidencia que a personagem vai se apagando no decorrer da obra. O que é um desperdício.
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