Canal Viva

Fernanda Torres e o remake de Selva de Pedra: mitos e verdades

Desempenho da atriz pode ser hoje visto de outro prisma

Publicado em 21/02/2020

Terminou a reprise de Selva de Pedra, versão 1986, no Canal Viva. No decorrer dos últimos seis meses, pelos grupos da vida na internet vi não uma, nem duas, tampouco três, mas dezenas de vezes, comentários como: “Fernanda Torres não fez mais novelas porque não gostou de Selva de Pedra“, “Fernanda Torres faz mal seu papel em Selva de Pedra” etc. Apesar de alguns desníveis, motivados pela própria história que a colocava como a mocinha da época em que fora escrita por Janete Clair, e pela direção que mudou algumas vezes no decorrer da novela, Fernanda Torres desempenhou o melhor que pôde um papel complicado, que vivia entre a busca pela afirmação profissional e as muitas concessões que achava que poderia ou deveria fazer em nome de um amor que ela mesma não sabia muito bem como explicar, mas sentia intensamente.

É fato que, nesses quase 34 anos, Fernanda Torres nunca mais fez nenhuma novela inteira. E que declarou em algumas ocasiões que não gostava do modo de ser da personagem, com seus “Cris, eu te amo”. No entanto, quem se lembra ou consultou por agora pôde ver declarações da mesma Fernanda Torres na época dando conta de que um dos motivos para aceitar fazer Selva de Pedra foi justamente a oportunidade de dar vida à tradicional mocinha de uma novela de quase 15 anos antes, além do fato de compor o elenco de uma ‘reprise’, como a imprensa ainda confundia ao nomear o projeto. A atriz chegou a dizer que se lembrava bem da novela, e de Simone, porque a assistiu quando criança. Logo, seu descontentamento com a personagem no decorrer do trabalho me soa hoje um pouco descabido.

Simone (Fernanda Torres) na segunda versão de Selva de Pedra
Simone Fernanda Torres na segunda versão de <em>Selva de Pedra<em> Nelson Di RagoTV Globo

“Eu não nasci para ser mocinha”

Numa edição do programa Ofício em Cena, da GloboNews, apresentado por Bianca Ramoneda, Fernanda Torres disse Fernanda a Regina Duarte, a Simone dos anos 1970: “Eu não sei ser você”. “Amava a novela, mas não nasci para fazer mocinha”, contou a atriz na ocasião. “Fui me irritando com a mocinha porque ela sofre muito e a atriz passa oito meses sofrendo!” “A gente tem que ter cuidado com o que pede porque as coisas vêm”, Fernanda brincou referindo-se ao fato de ter resolvido na época que, após ser reconhecida e premiada no cinema, estava na hora de fazer uma mocinha de novela das 20h. De cara surgiu para ela uma das mais emblemáticas de todas as novelas.

Bem, vá lá que tenham prometido a ela uma adaptação intensa e mais incisiva do que a que se viu, fiel a Janete ao máximo e, portanto, com uma masculinidade hoje tida como tóxica, conforme nossos códigos atuais, ao mesmo tempo em que personagens femininas fugiam a determinados aspectos do esperado para mulheres, tanto de novelas, quanto da vida real. Quem sabe ela tenha no decorrer do trabalho esperado uma mocinha “menos mocinha”.

Selva de Pedra foi um sucesso, ao contrário do que tem quem espalhe

Ademais, não, ela não se saiu mal na interpretação de Simone. Ao longo dos anos as duas coisas – insatisfação com a personagem e desinteresse de Fernanda por fazer novelas – se confundiram. E misturadas à história de que Selva de Pedra não fez sucesso em 1986. A propósito, fez, sim, apesar das críticas e da troca de tom. Consta que apenas Roque Santeiro, sua antecessora e cuja sombra a atrapalhou durante todo o percurso, ou quase todo, teve um início com maior audiência do que o do remake de Selva de Pedra. Seus 30 capítulos iniciais a colocaram entre as maiores audiências da faixa das 20h da TV Globo em mais de 10 anos.

A novela atingiu “apenas” 65 pontos de Ibope no início. No entanto, depois chegou a passar dos 80 em momentos de clímax dramático, conforme o jornal O Globo. Não se pode chamar algo assim de fracasso. Menos ainda se pode comparar com os nada usuais números de Roque Santeiro, um fenômeno como poucos em nossa TV.

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