desperdício

Falta de estratégia de programação compromete desempenho de Um Lugar ao Sol

Troca-troca de horários da trama de Lícia Manzo ajuda a dispensar o público

Publicado em 18/11/2021

No ar há pouco mais de uma semana, a novela Um Lugar ao Sol não vem registrando os índices de audiência esperados para um folhetim das nove da Globo. A trama de Lícia Manzo vem penando para conquistar o público em meio a uma estranha falta de estratégia de programação da emissora, que vem sacrificando a saga dos gêmeos vividos por Cauã Reymond.

Com 10 capítulos exibidos, Um Lugar ao Sol já foi exibida em vários horários diferentes. Na primeira semana, por conta do futebol, começou uma hora antes de seu horário habitual na quarta (10) e na quinta-feira (11). Na segunda semana, a trama foi exibida depois das 22h30 na terça (16) e, no dia seguinte, às 20h30.

Para qualquer novela, este troca-troca de horários é sempre prejudicial. A Globo e sua grade “diferente” em dias de futebol, normalmente às quartas-feiras, registra uma habitual queda de audiência neste dia em que todas as suas novelas começam mais cedo. Mas o prejuízo é ainda pior para uma novela que está começando, afinal, o público normalmente ainda está disperso. Alterar o horário o faz dispersar ainda mais.

Como se não bastasse, o texto de Lícia Manzo também não “facilita”. A autora tem oferecido uma trama um tanto engenhosa, com pouco espaço para reiteração. Com isso, Um Lugar ao Sol não fica o tempo todo se explicando. São muitos acontecimentos por capítulo, o que dificulta o entendimento de quem não a acompanha diariamente.

Ou seja, ao entrar num horário diferente a cada dia, Um Lugar ao Sol faz com que o espectador desavisado corra o risco de perder um capítulo. E, ao voltar no dia seguinte, a compreensão pode não ser das melhores. Assim, a trama perde um espectador confuso. Complicado.

Proposta diferente

A falta de estratégia da programação da Globo não é o único empecilho para Um Lugar ao Sol. A novela de Lícia Manzo é ótima, mas tem uma proposta um tanto diferente do que o público está habituado no horário. Por mais que tenha a batida troca de irmãos gêmeos no centro, a novela percorre caminhos menos usuais para contar esta história.

Afinal, não deixa de ser uma ousadia apostar numa trama protagonizada por um anti-herói. Christian é um sujeito de pouco carisma, cabisbaixo e derrotado, e que assume a vida do irmão movido, principalmente, pela ambição. Porém, ele não é um mau caráter, e é justamente esta dicotomia que leva ao conflito principal da novela.

Por ostentar esta ambiguidade, é difícil torcer por ele. Ou seja, Um Lugar ao Sol não tem um protagonista clássico com o qual o público pode se identificar. É possível até se envolver com seu drama, mas não dá para engatar uma torcida de fato.

Além disso, Lícia Manzo não é adepta de vilões em suas novelas. Todos os seus personagens carregam ambiguidades que geram conflitos, normalmente psicológicos. Ou seja, Um Lugar ao Sol não tem nem um herói e nem um vilão clássico, promovendo uma ruptura na estrutura folhetinesca que pode soar estranha para o espectador mais conservador.

Assim, a Globo tem em mãos uma trama muito boa, mas que traz algo novo em meio ao melodrama tradicional. E o exibe em horário “flutuante”. E mais: a emissora não tem sido feliz na divulgação da novela. Um Lugar ao Sol não tem rendido assunto em praticamente nenhum programa de variedades da emissora. Tudo isso colabora com o parco desempenho da trama.

O que é uma pena! Um Lugar ao Sol tem inúmeras qualidades e devia ser descoberta por mais espectadores.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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