Espelho da Vida: Júlia Lemmertz, duas vezes mãe da mocinha

Publicado em 01/04/2019

Quem acompanhou a novela Espelho da Vida, que termina nesta segunda-feira na Rede Globo, seguramente se emocionou uma vez mais com o ótimo trabalho da atriz Júlia Lemmertz. Na história escrita por Elizabeth Jhin, ela interpretou duas personagens, Piedade e Ana. No entanto, ambas cumpriram a mesma função: a de mãe da protagonista, Júlia Castelo nos anos 1930 e Cris Valência na atualidade, interpretada por Vitória Strada.

Ana: bom caráter e bom coração

Pode ser difícil para o ator se destacar na interpretação de um personagem sem maiores arroubos de dramaticidade ou de vilania. Não é o caso de Júlia Lemmertz, que interpreta como poucas atrizes a mulher doce, serena, tranquila e amorosa. Esses são adjetivos que combinam perfeitamente com Ana, seu papel na fase de Espelho da Vida passada neste começo do século 21.

Ana teve um relacionamento na juventude com Américo (Felipe Camargo), o qual gerou a filha Cristina. Os dois não se entenderam muito bem, em virtude do grande sentimento ter sido corroído pelo espírito malandro dele, e o casal se separou. Ana uniu-se a Flávio (Ângelo Antônio), que a ajudou a cuidar de Cris. A jovem até o chama de pai, em detrimento de Américo.

Piedade: a caminhada até o grito contra a opressão do marido tirano

Na vida passada de Cris, em que ela se reconhece como Júlia, sua mãe também é Ana. Ou melhor, a mãe de Júlia, Piedade Castelo, tem a mesma figura física de Ana. A exemplo dos costumes e tradições de antigamente, Piedade não pôde escolher com quem se casaria, e foi destinada a Eugênio (Felipe Camargo), um fazendeiro arrogante e muito severo. Teve com ele somente uma filha, Júlia. No entanto, ele teve outros filhos fora do casamento, em pleno uso de sua figura de machão que pode tudo. Com a lavadeira Graça (Patricya Travassos), as filhas Dora (Alinne Moraes) e Teresa (Clara Galinari). Com Maristela (Letícia Persiles), o garoto Henrique (Otávio Martins).

Especialmente após a chegada da sogra Albertina (Suzana Faini) ao casarão da família, Piedade começou a manifestar mais ostensivamente seu descontentamento com o modo de seu marido tratá-la, e à filha. Cruel, Eugênio pouco se importava com os sentimentos delas, desde que sua vontade fosse cumprida e seu nome não fosse conspurcado. A grande ironia era o ciúme que sentia do padre Luiz (Ângelo Antônio). Não por amor a Piedade, mas por sentir-se ofendido em sua condição de marido.

A experiência e a habilidade de Júlia Lemmertz

Temos Júlia Lemmertz em nossas casas através da televisão desde 1981. Foi quando ela estreou como a Bia de Os Adolescentes, escrita por Ivani Ribeiro e Jorge Andrade para a hoje Band. Posteriormente estreou na Globo vivendo Adriana em Eu Prometo (1983/84). Teve bons papéis em produções da Manchete como Kananga do Japão (1989) e Guerra Sem Fim (1993). De volta à Globo, rendeu momentos interessantes em novelas como Andando nas Nuvens (1999), Porto dos Milagres (2001), Celebridade (2003) e na minissérie JK (2006). Aqui ela foi Dona Júlia, mãe do protagonista Juscelino Kubitschek (Alberto Szafran/Wagner Moura), enquanto menino e jovem. Posteriormente Ariclê Perez assumiu a personagem.

Em 2009 Júlia protagonizou a série Tudo Novo de Novo com Marco Ricca, e foi a Helena da vez de Manoel Carlos na novela Em Família (2014). Além de diversos outros trabalhos em teatro, televisão e cinema, esses são alguns que, só para ilustrar, ajudam a entender melhor a vasta galeria de figuras às quais Júlia Lemmertz já deu vida. E que a levam a tirar de letra duas mulheres boas e carinhosas que não saem iguais, como Piedade e Ana em Espelho da Vida, que se despedem hoje.

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