Falha nossa

Equívocos em obituários: no de Gilberto Braga, mais exemplos

Autoria de trabalhos de outros autores e prêmio não vencido pela obra do novelista são alguns dos problemas

Publicado em 27/10/2021

Na noite desta terça-feira (26), a notícia da morte do escritor Gilberto Braga, aos 75 anos, pegou de surpresa o público que há quase cinco décadas acompanha suas dezenas de trabalhos na teledramaturgia brasileira. Entre eles, várias histórias marcantes como Dancin’ Days (1978), Água Viva (1980), Corpo a Corpo (1984), Vale Tudo (1988), Celebridade (2003) e Paraíso Tropical (2007), esta atualmente em cartaz em dois horários no Canal Viva.

Em que pese o compreensível fato de que obituários de figuras célebres são feitos com alguma pressa, no calor dos acontecimentos e por vezes com notícias mais precisas sobre causa da morte e o funeral chegando enquanto se preparam os necrológios, alguns erros são comuns quando morrem pessoas importantes da televisão, do cinema, da nossa cultura enfim.

No obituário de Gilberto Braga não foi diferente. A TV Globo, emissora na qual o novelista trabalhou por 48 anos, citou em seu Jornal da Globo que uma trilogia que discutiu a honestidade no Brasil, escrita por Gilberto, foi composta por Vale Tudo, O Dono do Mundo (1991) e… O Salvador da Pátria (1989) – esta também no ar atualmente no Canal Viva.

Estaria tudo bem – e O Salvador da Pátria de fato trata de honestidade em seu enredo -, não fosse o fato de que seu autor, também muito competente e um dos nossos mais importantes dramaturgos, é Lauro César Muniz. Ao lado do qual, inclusive, Gilberto deu os primeiros passos como autor de novelas, assinando em parceria Corrida do Ouro (1974).

Na GloboNews, durante entrada ao vivo na edição desta terça-feira do Jornal das 10, o repórter Ricardo Abreu disse que, das novelas de Gilberto Braga, Paraíso Tropical foi vencedora do Emmy Internacional. Indicada à premiação a história, assinada também por Ricardo Linhares, realmente foi. Mas não venceu, infelizmente. Nossa primeira novela premiada com o Emmy foi Caminho das Índias (2009), de Glória Perez.

Também tem constado em mais de um local que Rainha da Sucata (1990), novela de Silvio de Abreu, teve Gilberto Braga como “colaborador”. Na verdade, o que houve foi que Silvio, com alguns problemas pessoais na época, recorreu ao amigo para ajudá-lo a colocar a entrega dos capítulos em dia para a produção. Durante cerca de duas semanas, os textos da novela tiveram participação de Gilberto. Mas o escritor não esteve junto com Silvio durante toda a história.

Volto a dizer: é claro que entendo que a correria da preparação de um obituário pode fazer surgirem equívocos. No entanto, dizer que a novela de um autor é de outro ou que o ator esteve em trabalhos que não integrou, embora passe batido para o grande público, quem sabe, é imediatamente percebido por quem conhece o assunto.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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