Em final de temporada, Filhos da Pátria se mostra uma comédia vigorosa

Publicado em 10/12/2019

Depois de tocar o terror no Brasil Império, a família Bulhosa chegou à Era Vargas. E a ideia de transportar os estereótipos do brasileiro comum pelo tempo foi a melhor das sacadas de Filhos da Pátria. A comédia da Globo, criada por Bruno Mazzeo , se mostrou vigorosa, no sentido de servir como sátira política e entretenimento inteligente. Com isso, atestou que poderia ir ainda mais longe, mostrando outras épocas da história do Brasil.

A segunda temporada de Filhos da Pátria funcionou muito bem dentro da proposta. Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero) e Maria Teresa (Fernanda Torres) mantiveram suas personalidades intactas neste novo contexto histórico. Os dois são personas reconhecíveis do país: a do funcionário público ingênuo, que se torna bode expiatório dentro de conspirações políticas; e da dona de casa de classe média deslumbrada, que sonha em pertencer à alta sociedade.

Vivendo na Era Vargas, Geraldo e Maria Teresa repetem usos e frases que pertencem ao século 21. Com isso, Filhos da Pátria faz uma provocação contundente, ao mostrar que o Brasil não sai do lugar. Seja em que época for, a engrenagem política e social cambaleante impede que o país se desenvolva. E o desfecho da atual temporada é uma provocação ainda mais intensa, ao afirmar que a eterna esperança do brasileiro, somado à sua falta de educação e informação, ajuda a levar o país para o buraco. Porém, a esperança persiste: “ninguém solta a mão de ninguém”, disparou Maria Teresa.

Ideia longeva

Além do texto esperto, a segunda temporada de Filhos da Pátria também consolidou o formato interessante da comédia. Ao fazer os mesmos personagens do primeiro ano viverem numa época distinta, os autores criaram um formato que permite longevidade à ideia. Não é difícil imaginar outros períodos históricos do Brasil como cenário para as novas desventuras da família Bulhosa.

Justamente pela proposta criativa, Filhos da Pátria merecia continuar. Seria bem interessante ver Geraldo, Maria Teresa e sua família tão reconhecível vivendo num outro momento do Brasil. Num momento complicado do país como o atual, uma sátira neste nível ajuda no sentido de fazer o espectador refletir.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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