Com texto afiado e ótimo elenco, Vade Retro faz excelente estreia

Publicado em 21/04/2017

Alexandre Machado e Fernanda Young são donos de um texto sem meio-termos: ou se ama, ou se odeia. Em seus trabalhos, é muito comum brincarem com os gêneros narrativos, ao mesmo tempo em que se disparam diálogos rápidos e cheios de ironia e humor corrosivo. Por isso mesmo, a única das séries assinadas pela dupla a agradar gregos e troianos foi Os Normais, por ser uma comédia de costumes sobre a vida de um casal, o que gerou identificação imediata e tornou Rui (Luiz Fernando Guimarães) e Vani (Fernanda Torres) fenômenos.

O que veio depois disso foram sátiras sem tanta identificação. Os autores brincaram com o mundo das celebridades em Minha Nada Mole Vida; com a ficção científica em O Sistema; com o serviço público nacional em Os Aspones; com o cinema-catástrofe em Como Aproveitar o Fim do Mundo; e com os quadrinhos e o universo pop em O Dentista Mascarado. Também retornou ao mundo dos casais, desta vez com narrativa de documentário, em Separação!?. Ou seja, tais séries vinham propondo universos satíricos que agradavam quem estava inserido no segmento satirizado, mas não fazia muito sentido para o espectador não familiarizado com tais universos, daí Alexandre Machado e Fernanda Young jamais repetirem o sucesso de Os Normais.

E a dupla veio, novamente, com a proposta que lhes caracteriza em Vade Retro, que estreou na noite de ontem (20). Desta vez, a brincadeira é com o sobrenatural, usando da linguagem dos filmes de terror para fazer uma comédia. Não faltam elementos sacros e religiosos na nova aposta, que mostra a relação entre uma advogada que foi beijada pelo Papa, a doce Celeste, e um empresário misterioso que mais parece o próprio diabo, que carrega o singelo nome Abel Zebu. Monica Iozzi e Tony Ramos dão vida a estes dois tipos que, de cara, já formam uma parceria bastante vitoriosa.

No primeiro episódio, não faltaram brincadeiras entre Deus e o diabo, o bem e o mal e, claro, a realidade nacional. O texto, como sempre, deita e rola com inteligência sobre os mais variados assuntos, sempre cheios de ironia e o sarcasmo, além do mais puro besteirol. Não é uma comédia das mais palatáveis para quem estava acostumado com o texto “água-com-açúcar” de tramas como Tapas & Beijos ou Chapa Quente, humorísticos que ocupavam a primeira linha de shows da Globo tempos atrás. Por isso mesmo, não deixa de ser uma ousadia da emissora em apostar numa comédia de mais alta voltagem nesta faixa, já que, anteriormente, os trabalhos de Alexandre Machado e Fernanda Young eram vistos, sempre, após às 23 horas, a maioria às sextas-feiras. Vai ser interessante acompanhar a reação deste novo público a um produto como Vade Retro.

Vade Retro, além do texto afiado e ótimo elenco, ainda conta com uma direção certeira de Mauro Mendonça Filho. Além disso, a trama é produzida pela O2 e se passa numa São Paulo pouco mostrada pela própria Globo. Por estar sob o guarda-chuva de uma produtora, a série imprime um novo olhar, dando a Vade Retro uma cara bastante diferente de outras séries da Globo. Tudo parece mais real, com locações ao invés de cenários, e takes que valorizam a ambientação. Enfim, Vade Retro fez uma ótima estreia e deixou um gosto de “quero mais”. Aguardemos os próximos episódios.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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