outros tempos

Com formato engessado e sem participação popular, No Limite não cai nas graças do público

Totalmente gravado e sem interação, programa chega "frio" ao público

Publicado em 07/06/2021

A primeira edição de No Limite, exibida em 2000, foi um marco da televisão brasileira. Foi a primeira vez que o público brasileiro teve contato com um reality show de competição e acompanhava, a cada domingo, os desdobramentos das aventuras daquele grupo de pessoas. Como numa “novelinha” semanal, a audiência se envolveu com aquelas pessoas e torceu.

Mas, passados 21 anos, muita coisa mudou. Hoje, o público já está mais do que acostumado com o formato e suas inúmeras variações. O reality show não é mais uma novidade, mas sim um hábito que foi incorporado à rotina do espectador. Tal qual uma novela. Porém, este hábito se moldou, sobretudo, a partir do Big Brother Brasil, que segue como o principal programa deste gênero por aqui.

Após 21 anos de BBB, o público brasileiro se acostumou a acompanhar a rotina dos participantes em tempo real. O programa tem edições diárias, além de inúmeros desdobramentos, seja no pay per view, nas plataformas digitais, na imprensa e nas redes sociais. Ou seja, acompanhar o BBB se transformou numa rotina diária e multiplataforma.

Além disso, ainda há a participação do público no destino dos participantes. É o público que escolhe quem sai, quem fica e quem ganha. Isso dá a sensação de interação, mexe com a audiência, forma torcidas e gera discussão. Com isso, a repercussão de um BBB é praticamente garantida.

Anos depois…

Neste contexto, é possível concluir que o No Limite, com suas limitações, envelheceu mal. O fato de ele ser gravado em alguns dias, mas exibido ao longo de três meses, já dá um ar de programa frio. Informações vazam e o público já sabe o que vai acontecer. O tempo real, dentro de um reality show, é importante para o engajamento.

Soma-se a isso o fato de o público não participar das decisões. Com seus episódios semanais que já não permitem haver uma conexão entre espectador e participantes, No Limite não cria no público a vontade de seguir ali.

O primeiro No Limite contava com o fator novidade e com o fato de spoilers serem mais raros, já que vazar uma informação naquele tempo de internet discada era tarefa das mais complicadas. E, mesmo assim, os jornais ainda conseguiram adiantar o nome da vencedora da primeira edição. Hoje, a informação corre numa velocidade infinitamente maior.

A Globo até tentou fazer um No Limite em tempo real e com a participação do público na quarta edição, produzida em 2009. Mas não funcionou. Afinal, transformar No Limite em BBB é injusto, tendo em vista que o primeiro é uma competição que valoriza o esforço individual.

Na verdade, o No Limite deve, sim, ser neste formato como o atual, gravado e sem participação do público. O propósito da competição pede algo assim. Porém, é um formato que não deve alcançar uma repercussão do tamanho de um BBB. Não adianta inventar ou mudar.

Se a direção da emissora esperava um programa capaz de manter a temperatura de um BBB, o No Limite não é a opção. Ele foi feito para ser uma febre em 2000. Em 2021, ele é apenas mais um programa.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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