Carla Diaz está muito bem no papel de Suzane von Richthofen nos dois filmes que reconstroem a história do crime que abalou São Paulo no início dos anos 2000.
Veja também:
Numa atuação muito convincente, pode-se dizer que o desempenho da atriz é a melhor coisa dos dois filmes de longa-metragem que estão sendo lançados simultaneamente: A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou Meus Pais, no catálogo do Amazon Prime Video.
Mais: ela consegue reverter com o bom desempenho o passo errado que deu na sua imagem e carreira ao participar do BBB 21, onde jamais deveria ter entrado.
Lembremos que Carla Diaz já tinha encerrado as filmagens quando ingressou no BBB 21, exibido entre janeiro e maio deste ano.
Com este papel nos longas-metragens em cartaz no serviço de streaming de vídeo, ainda que seja como vilã, a atriz realimenta a admiração do seu fã-clube, conquistada ao longo de muitos anos por meio de papéis marcantes.
Éramos Seis, Chiquititas, Laços de Família, O Clone, A Casa das Sete Mulheres, Mutantes – Promessa de Amor, Rebelde, Milagres de Jesus, A Terra Prometida e A Força do Querer são algumas das obras onde ela atuou, só para citar alguns trabalhos feitos por Carla Diaz para a televisão.
Dois filmes, um crime
Os dois filmes do Amazon Prime Video vão na linha dos true crimes, produções baseadas em crimes reais.
É um gênero de grande repercussão e audiência, geralmente feitos sem muita elaboração estética e artística.
Porém, contam com garantia de público em decorrência de abordarem casos famosos.
O roteiro debruçou-se nos autos do processo do assassinato de Marísia e Manfred von Richthofen, pais de Suzana von Richthofen.
Utilizam-se dos depoimentos dados pelos réus confessos ao longo do processo e no tribunal, diante do juiz e dos jurados.
O crime, ocorrido em 2002 num bairro de classe alta na zona sul paulistana, mobilizou o País, principalmente quando apareceram como réus a filha do casal, seu namorado, Daniel Cravinhos e o irmão dele, Cristian.
Os dois filmes reconstroem a relação do casal de namorados e, a partir das versões de ambos, dá uma ideia de como era toda a relação familiar de Suzane von Richthofen até o dia do crime brutal.
A Suzane von Richthofen vivida por Carla Diaz é a figura central em ambos os filmes.
Carla Diaz fez um grande trabalho de expressão facial.
Incorpora até mesmo o olhar distante e vazio que nos acostumamos a ver em Suzane, ao longo de tantas reportagens, até mesmo na entrevista dada por ela ao Fantástico, antes de ser condenada.
Privilegiada pelo seu tipo físico mignon e por um aspecto juvenil, a atriz já balzaquiana está totalmente à vontade como a jovem estudante prestes a completar 18 anos e que ainda vai entrar na faculdade.
Narrativas
Foram quatro anos, desde a prisão de Suzane, Daniel e Cristian, até o julgamento, que culminou com a condenação dos três a penas superiores a 38 anos de reclusão.
É da relação com o namorado Daniel, interpretado com competência por Leonardo Bittencourt, que vem a diferença das narrativas.
No papel de Daniel Cravinhos, Leonardo Bittencourt abre para si mais portas para bons papéis no cinema e nas séries, unindo-se aos bons de sua geração, como Gabriel Leone e Chay Suede.
Ele já tinha chamado atenção ao viver o Hugo Rabelo de Malhação: Vidas Brasileiras, e também atuou em Segunda Chamada (2019).
Os roteiristas seguiram à risca as informações oficiais e os filmes acabaram sendo reconstruções detalhadas de todas as circunstâncias que envolveram o crime.
A Menina Que Matou os Pais
A Menina Que Matou os Pais é a versão contada por Daniel Cravinhos.
Este filme privilegia o lado familiar de Daniel e busca justificar o crime pela influência exercida pela então amada Suzane, por quem se dizia manipulado.
A influência seria tamanha que Daniel também convenceu o irmão Cristian a participar do ato criminoso de modo a salvarem a namorada de pais tão cruéis.
Em determinados momentos, Daniel também sugere que Suzane sofria abusos de ordem sexual por parte do pai, algo que não se vê no outro filme.
O Menino que Matou Meus Pais
Já na outra versão, O Menino que Matou Meus Pais, o filme é conduzido pela versão de Suzane von Richthofen.
Temos o retrato da moça ingênua e apaixonada que perdeu a virgindade com o namorado, conheceu as drogas e com ele se afundou no plano macabro.
Ele a explorava financeiramente e ela foi induzida à facilitação do crime para enfrentar a família que era contra seu relacionamento amoroso e humilhava o seu amado.
Aqui, Carla Diaz mergulha no papel da moça carente e menina de família que é levada ao mau caminho por causa das más companhias e das drogas ilícitas.
Ambos os filmes foram dirigidos por Maurício Eça.
O filme com a versão Daniel tem um maior detalhamento na cena fatídica do crime, quando o casal foi assassinado a sangue frio com pancadas enquanto dormia.
No que diz respeito à produção, tem-se uma caracterização toda realista.
O roteiro é da dupla Ilana Casoy e Raphael Montes.
São os mesmos que trabalharam para Bom Dia, Verônica, premiado pela APCA – Associação Paulista dos Críticos de Artes.
Repete-se o mesmo elenco nos dois filmes: Vera Zimmermann (Marísia von Richthofen), Kauan Ceglio (Andreas von Richthofen), Allan Souza Lima (Cristian Cravinhos), Leonardo Medeiros (Manfred von Richthofen), Débora Duboc (Nadja Cravinhos) e Augusto Madeira (Astrogildo Cravinhos) entre os personagens principais.
** Informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de sua autora e podem ou não refletir a opinião deste veículo.