Aos 52 anos, Band precisa planejar mais e improvisar menos na busca pela audiência

Publicado em 14/05/2019

A Band celebrou seus 52 anos no ar neste dia 13 de maio. E infelizmente há pouco a ser comemorado na atual fase da emissora fundada por João Jorge Saad em 1967. Poucas atrações com alguma repercussão, muitos tapa-buracos e a luta não pelo primeiro ou segundo lugares, mas para não cair de vez para a quinta colocação no ranking das emissoras de TV aberta. A saber, atrás de Globo (a líder), SBT, Record TV (que disputam a segunda colocação) e RedeTV!.

Jornalismo na Band: ainda um ponto forte, mas que poderia ser revisto

Em grandes blocos pela manha e à tarde, a Band investe em jornalismo, tanto local quanto nacional. Das 6h às 9h, considerada a grade da matriz em São Paulo, vão ao ar o Jornal BandNews, o Café Com Jornal nacional e depois sua edição local. A partir das 16h, entra o Brasil Urgente com José Luiz Datena, e às 19h20min o Jornal da Band, que acaba às 20h25min. No fim da noite, o Jornal da Noite, antes que a grade seja tomada por games com participações pelo telefone ou reprises de jornalísticos e esportivos. A qualidade do jornalismo e sua linha editorial incisiva são marcas da casa.

O antigo “canal do esporte” hoje mais debate do que transmite competições esportivas

Nos últimos tempos, a Band não tem transmitido muitas competições esportivas, se compararmos com sua tradição de “canal do esporte”. Mesmo seus programas esportivos se restringem quase que unicamente ao futebol. Jogo Aberto e Os Donos da Bola, que começam no fim da manhã e ultrapassam a faixa do almoço, exigem amor, disposição e paciência dos espectadores inveterados que os acompanham. Uma vez que representam parcela significativa e fiel do público da emissora, eles seguem firmes e fortes na posição que ocupam há muito tempo. Uma recente tentativa de implantação de um jornal local foi vencida pela resistência de Renata Fan e Neto, os apresentadores dos debates futebolísticos. Além disso, das 3h em diante os dois programas são reprisados de madrugada.

Musicais: um ponto positivo e diferenciado da grade atual da Band

Nas noites de sexta-feira vai ao ar o Música na Band, com shows de ídolos populares, senão nacionalmente, em mercados importantes. Aqui um ponto louvável, já que musicais do gênero raramente ocupam a faixa nobre em emissoras de TV aberta comerciais. A própria TV Globo, por exemplo, há anos não exibe de forma fixa em sua grade um musical que vá ao ar antes da madrugada. O semanal Altas Horas não conta, porque também exibe entrevistas com seus convidados.

Infantojuvenis: a Band tem nas mãos um nicho a ser explorado, quase totalmente deixado de lado pela TV aberta hoje

Desde as férias, as manhãs da Band voltaram a ter boa parte do tempo dedicada ao público infantojuvenil. Mundo Animado exibe desenhos e representa alternativa ao SBT. Mesmo porque entra no ar às 9h, enquanto o Bom Dia & Cia. só começa às 10h30, quando se encerra o jornalístico Primeiro Impacto. Desenhos e séries têm público cativo, e uma boa seleção pode representar real alternativa para crianças e adolescentes.

Variedades: não faz sentido que o Melhor da Tarde seja dividido em duas partes, local e nacional

Cátia Fonseca ocupa duas horas de segunda a sexta-feira com seu Melhor da Tarde, das 14h às 16h. No entanto, apenas a segunda hora é nacional, com a primeira transmitida apenas para São Paulo. Essa é uma atitude quase incompreensível, já que mesmo tendo passado anos na TV Gazeta, que é eminentemente local, Cátia anteriormente estivera na Record TV apresentando o Note e Anote. E é figura conhecida do público-alvo da atração, o feminino.

Filmes e séries na tela da Band

Várias noites da semana são preenchidas por filmes na Band. A sessão Cine + tem ficado entre as dez maiores audiências da emissora, a saber. Quando não há filme, há um reality show e/ou um documentário da BBC. Aos domingos o recente resgate do Cine Band Clássicos representa boa opção para o espectador. Seja o cinéfilo, seja aquele que busca encerrar seu final de semana mais tranquilamente.

Dramaturgia: acomodada nas turcas, Band deixa de ousar mais

Elenco principal da novela turca Minha Vida, da Band (Divulgação)
Elenco principal da novela turca Minha Vida da Band Divulgação

À parte Minha Vida, que vai ao ar às 20h25min, não há mais dramaturgia na grade atual da Band. A produção turca nem de longe tem a mesma repercussão de outras já exibidas pela emissora. Especialmente a primeira delas, As Mil e Uma Noites. Reapresentações de produções nacionais da própria Band, como Floribella (2005) e Paixões Proibidas (2006), eventualmente poderiam atrair um público que não se interessa pelas novelas turcas. De tal forma que se preparasse o terreno para uma eventual novela brasileira inédita, por que não?

Reality shows: o sucesso da Band pode ser também o caminho de outras dificuldades

Paola Carosella e Ana Paula Padrão no MasterChef
Paola Carosella e Ana Paula Padrão no MasterChef ReproduçãoBand

MasterChef e O Aprendiz, ambos formatos já consagrados e mesmo desgastados, são os representantes atuais do gênero na Band. Principalmente o primeiro, que atingiu boa repercussão, praticamente reduziu as atenções da emissora em si. Aliás, esse é um mal comum nas concorrentes da Globo. Agarrar-se a algo que dá certo além do previsto ou comum no horário/dia de exibição e explorar à exaustão. Sem que se saiba bem o que e como será colocado no lugar para manter a audiência.

A necessidade de deixar o improviso de lado

Num cenário de grande concorrência como é o da TV aberta, é natural que as emissoras apostem muitas fichas naquilo que lhes rende uma audiência dentro ou acima das expectativas. No entanto, um dos fatores que levam o público a trocar de canal e mudar seus hábitos é ver num canal o que os outros não lhe oferecem.

Se há mais de um noticiário no mesmo horário, escolhe-se aquele que mais agrade por sua visão dos fatos. Caso haja várias novelas na mesma hora, vê-se aquela que conte uma história mais atrativa. Ou que tenha um elenco mais interessante. Se o que se busca é um programa de variedades, quem conhece todos pode muito bem optar por aquele que ofereça algo que só ele pode oferecer, além da figura do apresentador, que acaba meio genérica num formato fácil de cansar.

A Band nunca foi uma grande campeã de audiência. Ora apostou num público de alto poder aquisitivo e elevado nível de instrução, ora valeu a pena praticamente só para aqueles que procurassem esporte e jornalismo. Todavia, nos últimos anos sua audiência tem sido cada vez mais “roubada” pelas concorrentes. Embora dificuldades administrativas, comerciais e financeiras representem problemas evidentes, para que desses 52 anos comemorados em 2019 venham muitos outros é preciso que a Band improvise menos e planeje mais. Que balance suas estruturas.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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