Nos mais recentes capítulos da reapresentação de Malhação: Viva a Diferença, na Globo, Lica (Manoela Aliperti) promoveu uma grande movimentação no Colégio Grupo, do qual é estudante e herdeira. A jovem liderou um grupo de manifestantes, que protestavam contra a instalação de catracas de acesso no local. Intimidada pelo diretor (e seu pai), Lica aumentou o tom do protesto, recebendo um tapa na cara como resposta.
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Ou seja, apenas nesta sequência, a trama de Cao Hamburger mostrou o quanto ainda está atual, três anos depois de sua exibição original. No arco dramático em questão, a novela abordou dois temas alinhados com os dias de hoje: protestos democráticos e violência contra a mulher.
Ao liderar um “movimento anti-catraca”, Lica defendeu o direito dos alunos do Grupo de opinarem sobre as novidades da escola. Enquanto o diretor e o conselho de pais definiam o que achavam melhor, os adolescentes solicitaram voz. Não foram atendidos. E, para serem ouvidos, organizaram um grande “apitaço”.
Era uma situação escolar. Mas o tema em questão pode ser estendido à democracia como um todo. Num momento em que o país se divide ao ponto de existirem defensores do fim da democracia, a luta pelo fortalecimento das instituições se faz necessária. Mais do que nunca, a defesa da liberdade de expressão e a manutenção dos direitos adquiridos a duras penas se faz presente.
Além disso, o tapa que Lica levou de seu pai, Edgar (Marcello Antony), também serviu para um debate oportuno sobre a violência contra a mulher. Edgar, além de pai, é também o diretor da escola. Que fez uso da força ao se descontrolar diante de uma manifestação legítima. Os desdobramentos foram imediatos: o vídeo da violência ganhou a internet e uma grande discussão foi levantada.
Urgência da educação
Outro mote de Malhação: Viva a Diferença que segue alinhado aos dias atuais é o debate sobre a educação. A trama contrapõe duas escolas: a escola pública Cora Coralina e o colégio particular Grupo. Próximas uma da outra, as duas instituições também acabam aproximando seus alunos e transformando-se a partir disso.
Com este pano de fundo, Malhação desmistifica a suposta ausência de qualidade do ensino público. Porém, não de maneira utópica, afinal, o ensino público é mesmo, no geral, bastante precário.
Por isso, a trama sempre bate na tecla da falta de recursos e do quanto isso atrapalha o ensino. Por outro lado, reforça a importância da figura do professor engajado e da participação da comunidade como alternativas para elevar o nível da educação pública.
Trata-se de um debate fundamental para um país que nem ao menos Ministro da Educação tem. Por mais que o ensino público tenha suas deficiências, defendê-lo é fundamental. Afinal, trata-se do único acesso da grande maioria da população a um sistema de ensino. E isso se estende para as universidades. É uma discussão urgente, que ganha ainda novos contornos com a pandemia e o fechamento das escolas.
Ou seja, Malhação: Viva a Diferença consegue ir além da mera trama adolescente ao mesclar o conflito geracional com temas sociais de grande importância. E o faz de maneira responsável, não apenas expondo problemas, mas apontando soluções.
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