Rompendo barreiras

Amor Sem Igual surpreende ao abordar estupro com personagem conservadora

Novela até então parecia não avançar em temas existentes

Publicado em 04/03/2020

Na última sexta-feira (28), em Amor Sem Igual, a Record TV exibiu a cena em que Maria Antônia (Michelle Batista) é estuprada por Leandro (Gabriel Gracindo). O crime ocorreu durante a festa de aniversário de Fernanda (Bárbara França).

A sequência, dirigida por Rudi Lagemann, pode ser considerada um divisor de águas para a trama. Com as constantes intervenções de Cristiane Cardoso no texto, Amor Sem Igual tem explorado pouco as diversas possibilidades de discutir os assuntos existentes na história.

Há quase três meses no ar, a trama escrita por Cristianne Fridman tem ido na contramão do que a autora já apresentou ao público em seus 15 anos de emissora. Principalmente pela leveza e falta de ampliação do tema da prostituição, drama enfrentado pela protagonista Poderosa (Day Mesquita).

Agora, após mais de 50 capítulos, o folhetim acabou abrindo caminho para uma nova cara. Sem dúvida, esta mostra que a obra tem força para ser mais um novelão da autora, livrando-se das impressões que o enredo vinha mostrando, com elementos que aproximavam a novela a uma espécie de telecurso da filha de Edir Macedo.

A ‘Vivi Guedes da Record TV’, em Amor Sem Igual

No entanto, a maior surpresa nem está na abordagem do tema estupro, mas sim na personagem escolhida. Vendida como uma Vivi Guedes (A Dona do Pedaço/TV Globo) da Record TV, por ser influencer digital, Maria Antônia caminha na história como a boba e sonhadora vizinha de Miguel (Rafael Sardão). Ela é completamente apaixonada por ele, e até aqui ficou longe do que foi Paolla Oliveira na trama da novela global.

Marcada como uma jovem conservadora, filha de uma família tradicional brasileira, a personagem de Michelle Batista tem agora a chance de mostrar sua força longe de fazer rivalidade a Poderosa, mocinha da história. Ela pode deixar marcada a importância da discussão sobre o estupro em um ambiente em que, na maioria das vezes, o assunto não é explorado com a devida importância.

Na história, o abuso do advogado da Brás Esportes à filha de Oxente (Ernani Moraes) trata-se de um plano do vilão Tobias (Thiago Rodrigues) para tentar afastar Pedro Antônio (Guilherme Dellorto), irmão da vítima, de sua família. Entretanto, o plano do malvado parece não ter dado certo, uma vez que, assim como a maioria das mulheres inseridas no sistema conservador, Maria Antônia parece querer optar pelo silêncio. Com efeito, uma arma poderosa para defesa da jovem, que ficará traumatizada e envergonhada com a situação.

Ao mesmo tempo, abre-se espaço para a oportunidade de encarar o tema como até então não havia sido explorado em meio ao cenário talvez mais esperado como campo de discussão do assunto: o núcleo da prostituição.

Estupro é marca do trabalho da autora de Amor Sem Igual

Em sua sétima novela como autora principal na Record TV, Cristianne Fridman já tem experiência quando o assunto é o estupro. Um drama e problema social enfrentado diariamente por milhões de mulheres.

Em Chamas da Vida (2008), novela de maior audiência da escritora na emissora, o tema foi tratado por meio da adolescente Vivi (Letícia Colin). Ela por mais de uma vez foi vítima dos abusos do maníaco Lipe (André di Mauro).

Vivi (Letícia Colin) é vítima de abuso sexual em Chamas da Vida
Vivi Letícia Colin em <em>Chamas da Vida<em> Foto ReproduçãoRecord TV

Na ocasião, a novela, que alcançava uma boa marca de audiência nas principais capitais, foi oportunidade para falar sobre o tema. Especialmente ao envolver uma jovem menor.

Em Vidas em Jogo (2011), Andréa (Simone Spoladore) passou poucas e boas nas mãos de Cléber (Sandro Rocha). A personagem chegou a ser abusada pelo vilão, em uma cena que comoveu os telespectadores com a brilhante atuação da atriz.

Cléber (Sandro Rocha) estupra Andréa (Simone Spoladore) em Vidas em Jogo
Andréa Simone Spoladore sendo abusada por Cléber Sandro Rocha em <em>Vidas em Jogo<em> Foto ReproduçãoRecord TV

Na ocasião, a discussão foi além do momento e retratou, ainda, a dificuldade para lidar com o assunto, mostrando o preconceito sofrido por Andréa na delegacia ao querer denunciar o crápula.

Em Vitória (2015), o tema também não ficou de fora. Dessa vez, a tentativa de estupro foi mostrada entre personagens jovens. Na história, Enzo (Raphael Montagner) tentou abusar de Beatriz (Letícia Medina), em uma cena forte de assalto, que envolveu agressão física e tortura psicológica. No entanto, o rapaz não conseguiu consumar o fato, uma vez que Mossoró (Ricky Tavares) conseguiu chegar a tempo e evitar o estupro.

Beatriz (Letícia Medina) sendo vítima de tentativa de estupro em Vitória
Beatriz Letícia Medina sendo vítima de tentativa de estupro de Enzo Raphael Montagner em <em>Vitória<em> Foto ReproduçãoRecord TV

Em sua experiência como autora bíblica, Cristianne Fridman também teve a oportunidade de falar sobre estupro com Raquel (Stephany Brito).

Raquel (Stephany Brito) é estuprada em Jezabel

Na macrossérie Jezabel (2019), a personagem acabou sendo perseguida e levada por um desconhecido ao sair da taberna de Phineas (Eduardo Lago) em uma sequência que retratou o desespero da jovem sendo ameaçada e arrastada para sofrer o abuso.

A partir de terça-feira (21), substituindo Amor Sem Igual, entra no ar a reprise da novela Apocalipse, exibida originalmente em entre 2017 e 2018 na Record TV.

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