Amor de Mãe tem trama engenhosa, mas peca pelo excesso de dramalhão

Publicado em 19/12/2019

No ar há quase um mês, Amor de Mãe não tem economizado nas reviravoltas. Muita coisa já aconteceu na novela das nove da Globo que marca a estreia de Manuela Dias no horário nobre. A história chama a atenção pela arquitetura bem armada, com situações que reverberam e revelam as diferentes ligações entre os personagens. Nada parece por acaso na trama, e é isso que a torna envolvente. Porém, a história tem pesado a mão no drama, revelando-se demasiadamente soturna.

Um dos principais méritos de Amor de Mãe é não entregar de cara o que é a novela. A sinopse divulgada pouco revelava dos personagens e seus rumos. Sendo assim, parecia uma trama baseada unicamente nas relações humanas. Mas o primeiro capítulo já havia mostrando algo além, quando Magno (Juliano Cazarré) mata um homem (ou pensa tê-lo feito) e envolve a mãe Lurdes (Regina Casé) numa trama policial. Aos poucos, esta morte vai resultando em reflexos diretos nas demais histórias da novela.

Assim, Manuela Dias vai desenrolando o seu novelo. A ligação entre as protagonistas Lurdes, Vitória (Taís Araújo) e Thelma (Adriana Esteves) começa a se mostrar muito maior do que simples encontros casuais. A trama do filho perdido da primeira, que poderia ser Sandro (Humberto Carrão), vai se revelando muito mais complexa, com participação direta das demais “heroínas”. São muitas peças soltas, que vão montando um quebra-cabeça engenhoso. Deste modo, Manuela Dias demonstra uma tremenda habilidade na condução destas histórias. Amor de Mãe é uma novela que exige atenção.

Novela ou cinema?

O texto menos didático, somado à direção mais arrojada de José Luiz Villamarim, dá à Amor de Mãe uma nova estética. A novela dribla alguns vícios do folhetim. Com isso, vem gerando algumas críticas, como se a novela buscasse ser algo além de uma novela. O que é bastante relativo. Afinal, o desejo do diretor de tentar fugir do óbvio é uma tentativa válida de trazer alguma novidade no gênero. Não é pedantismo, é a busca por novos olhares. Além disso, o texto não foge do bom e velho folhetim. Amor de Mãe é um melodrama, e não tenta se vender diferente disso. Ou seja, traz novidades, mas é uma novela. Não foge de suas origens.

Drama demais

Esta proposta de sair do lugar-comum é o grande trunfo de Amor de Mãe. Num momento de novelas cada vez mais pasteurizadas, é importante que um grupo de autores e diretores ainda se sinta confortável para tentar ir além do óbvio. Por isso, até aqui, Amor de Mãe é uma experiência muito bem-sucedida.

Se há algo negativo a ser apontado, talvez seja o excesso de drama. Todas as histórias contadas em Amor de Mãe são pesadas, que envolvem mortes, sequestros, acidentes e violência. Não é um demérito, apenas uma constatação. Há a preocupação de se colocar assuntos urgentes, o que é válido, mas poderia haver algum alívio vez ou outra.

Comédia

E quando se fala em alívio, não se fala necessariamente em núcleo cômico. Aliás, núcleo cômico jamais deveria ser obrigação em novelas, como acabou se tornando nos últimos anos. Na tentativa de trazer alguma graça ao público, os autores vinham criando núcleos de comédia desconexos da trama principal, e com humor de gosto bastante duvidoso. Se for apenas pra constar, melhor não ter mesmo.

Neste ponto, trata-se de mais um acerto de Manuela Dias não enfiar goela abaixo do público núcleos cômicos forçados. Amor de Mãe tem momentos engraçados, mas que surgem naturalmente. A sequência em que Lurdes faz a filha posar para fotos segurando um vaso de planta é um exemplo de momento de humor bem encaixado.

É assim que tem que ser. Amor de Mãe não precisa mesmo de núcleo cômico. Só poderia ter momentos mais leves, de modo a fazer o público respirar entre um drama e outro.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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