correria

Amor de Mãe emociona, mas ritmo apressado prejudica reta final

Trama perde os momentos contemplativos que marcaram primeira fase

Publicado em 18/03/2021

Reencontrar os personagens de Amor de Mãe após praticamente um ano da pausa da novela é uma oportunidade para se reconectar com a bela história escrita por Manuela Dias. Acompanhar o desfecho da busca de Lurdes (Regina Casé) por Domênico (Chay Suede) chega a ser confortante para o espectador.

E os capítulos finais, eletrizantes, estão caprichados na emoção. Lurdes está cada vez mais perto da verdade, e Thelma (Adriana Esteves) está perdendo de vez as estribeiras para proteger o seu segredo, rendendo grandes momentos. Com isso, a novela chega ao seu clímax de uma maneira alucinante.

Entretanto, esta carga de energia acima da média fez com que Amor de Mãe perdesse um pouco do seu charme. Afinal, além do texto muito bem resolvido, o folhetim ainda tinha uma direção mais arrojada, que permitia alguma contemplação e poesia em meio a todo o melodrama. Na “temporada anterior”, havia um caminhar, um silêncio e um olhar que preenchiam momentos onde a emoção estava nas pequenas coisas.

Isso se perdeu na fase final. Ter apenas 23 capítulos para colocar um ponto final na vida de tantos personagens obrigou a autora a escrever, como ela mesma definiu, vários “últimos capítulos”. O ritmo se tornou cadenciado, com acontecimentos a todo instante, com pouca (ou nenhuma) pausa para respirar.

Toda a sequência que culminou com a morte de Marconi (Douglas Silva), por exemplo, foi às pressas. Do sequestro de Betina (Isis Valverde) à chegada de Sandro (Humberto Carrão), passando pelo embate de Raul (Murilo Benício) e Álvaro (Irandhir Santos), foi tudo acelerado. Quem piscou, perdeu algum momento importante.

A novela não perdeu todo o seu lado mais artístico, bem entendido. Sequências, como a que Thelma toma uma chuveirada após matar a melhor amiga, ajudam a manter esta característica da obra. Mas é inegável que os momentos mais contemplativos estão acontecendo a conta-gotas.

Mas…

Isso não tira o brilho de Amor de Mãe. A novela acertou ao dar um salto de seis meses e ir explicando, por meio de flashbacks, o que aconteceu com os personagens neste tempo. A abordagem da pandemia também não incomoda, pelo contrário. Os personagens têm dado bons exemplos ao público, o que vem a calhar neste contexto em que o negacionismo impera.

Acima de tudo, Manuela Dias segue provando sua mão firme para a condução das situações que propõe, seja pelos diálogos muito bem escritos, seja pela reverberação das ações de um núcleo para outro. A estrutura bem armada é o grande mérito da novela.

É uma pena que não poderemos acompanhar uma reta final menos apressada, com um tempo maior para a resolução dos conflitos. Mas, considerando todos os acontecimentos do último ano, a oportunidade de acompanhar um final já é algo a ser celebrado.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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