A Força do Querer acerta ao não “forçar” um núcleo cômico

Publicado em 16/06/2017

Para alcançar o maior e mais variado público possível, as novelas instituíram o núcleo cômico quase como uma obrigação. Em qualquer dramalhão, há sempre um grupo de personagens engraçados, que servem para aliviar as tensões das tramas mais densas. Isso seria muito bom se não tivesse se tornado quase que uma lei. O que mais se viu nas últimas novelas foram núcleos criados apenas para fazer rir, sem a preocupação de serem coerentes com o restante do enredo.

Só para ficar nas produções das nove da Globo, o que não faltam são exemplos de novelas com núcleos cômicos criados como “obrigação”, sem ligação com a história e, pior, sem a menor graça. Em A Regra do Jogo, de João Emanuel Carneiro, haviam várias histórias soltas de humor, como a do troca-troca de casais no Morro da Macaca e a do apartamento de Feliciano (Marcos Caruso). Tramas tão paralelas que pareciam habitar um universo paralelo, e cujas piadas não tinham a menor graça. Recentemente, em A Lei do Amor, havia o núcleo de Mileide (Heloísa Perissé), também sem graça e sem importância na história da novela.

Neste contexto, A Força do Querer se destaca positivamente. A novela de Gloria Perez já desponta como uma das melhores das nove dos últimos tempos pela trama bem armada, na qual tudo funciona de maneira harmônica. E isso inclui o humor. O grande trunfo da trama é que o humor não aparece num núcleo cômico forçado. O que há, na verdade, são personagens engraçados, que vivem situações cômicas, mas estão inseridos na trama em meio, também, às situações dramáticas.

Cândida (Gisele Fróes), por exemplo, é um tipo naturalmente engraçado, que diverte na maioria das cenas em que aparece. Mas ela é mãe de Jeiza (Paolla Oliveira), uma das protagonistas, e dona de uma história de viés dramático. Assim, Cândida oferece alívio às cenas mais pesadas da trama de Jeiza, mas também participa dos arcos dramáticos quando necessário. O mesmo vale para Edinalva (Zezé Polessa) e Abel (Tonico Pereira), também tipos cômicos, mas com seus momentos dramáticos. Deste modo, o humor não surge forçado, ou como uma obrigação.

E olha que estamos falando de Gloria Perez, uma especialista em criar núcleos cômicos localizados em bairros populares do Rio de Janeiro. Como esquecer da São Conrado, de O Clone, com Dona Jura (Solange Couto) e seus amigos cheios de bordões? Ou a Lapa de Caminho das Índias, também um palco de humor e tipos populares? Em A Força do Querer, felizmente, Gloria Perez saiu desta fórmula pronta e vem testando novas possibilidades de humor dentro de uma trama dramática. O resultado, como se vê na tela, é bastante positivo.

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*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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