Canal Viva

Selva de Pedra chega ao fim no Canal Viva: valeu a pena

Remake da novela teve alguns problemas de condução

Publicado em 18/02/2020

Nesta terça-feira (18), o Canal Viva encerra sua reprise da novela Selva de Pedra, estreada em 22 de agosto de 2019. Foram reexibidos na íntegra os 155 capítulos da história criada por Janete Clair em 1972, aqui em versão adaptada no ano de 1986 por Regina Braga e Eloy Araújo. Consta que tenham sido 160, mas esse número se refere à quantidade oficial de capítulos escritos e gravados. Em 1986 foram 31 semanas de exibição, de modo que a produção se encerrou com 160 capítulos exibidos em 155 noites.

Conforme entrevista à revista Amiga, na época do final de Selva de Pedra, Regina e Eloy tiveram diversas dificuldades no processo de adaptação. Com efeito, talvez o acesso aos roteiros de Janete ter ocorrido aos poucos e não de uma vez possa ser considerado o maior desses percalços. Além disso, os primeiros 20 capítulos foram reescritos pela dupla três vezes, até que o texto ficasse do agrado do diretor inicial da produção, Walter Avancini. Ele comandou os dois terços finais da versão original, e por isso foi escolhido para implantar o remake. Do capítulo 21 em diante, outros diretores assumiram os trabalhos.

Adaptação do original aos poucos prejudicou os responsáveis pelo novo texto

Regina Braga e Eloy Araújo declararam que recebiam os capítulos da novela em blocos, sem que tivessem a visão do conjunto da história previamente. De modo que isso dificultou o processo, uma vez que a atualização (conforme os créditos da abertura) não poderia trair o espírito da obra original. Ao mesmo tempo, o projeto teria que modernizar conflitos e temáticas eventualmente datados nos 14 anos que separavam as duas versões. Todavia, como modificar uma história sem saber o que vem pela frente, que pode ser comprometido e/ou truncado a partir do que você modificar em diálogos, atitudes, relacionamentos entre os personagens? Com toda a certeza, algo que dificultou ainda mais a tarefa já difícil de saída. Adaptar um dos maiores sucessos da teledramaturgia e da obra de Janete Clair, autora das mais importantes.

Muitos diretores, uma só novela: Selva de Pedra e seus quatro comandantes

Dennis Carvalho foi o diretor-geral de Selva de Pedra da saída de Avancini, prevista desde o princípio, até mais ou menos a metade da novela. Daí até o final, José Carlos Pieri e Ricardo Waddington, que já dirigiam a novela sob a batuta de Dennis. A saber, Pieri chegou a assinar como diretor-geral ainda na fase que contava com Dennis. Além das próprias mudanças na história, que vai dificultando cada vez mais o acerto da vida de Simone (Fernanda Torres) e Cristiano (Tony Ramos), sem dúvida as trocas constantes de profissionais à frente da direção levaram a desníveis no decorrer da história.

O “neorrealismo italiano” da direção de Avancini

Os primeiros 20 capítulos, da “fase Avancini” (apresentados em 16 noites), introduziram a história de uma maneira bem mais crua e sem medo da sensação de angústia que tomava especialmente o personagem Cristiano. Com um quê dos filmes do neorrealismo italiano, livres de butiques e perfumarias e que usavam do universo pobre e sofrido sem subterfúgios. Grandes exemplos disso pudemos acompanhar com Cristiano vivendo de uns poucos trocados obtidos de um cego, Túlio (Wilson Fragoso), ao qual serviu de guia, ou sendo assaltado e chegando às raias de ter que atuar como garoto de programa para agradecer a um homem que o salvou dos ladrões e o levou para sua casa.

A própria crueza da vida difícil da família Vilhena em Duas Barras, com cenários reais bastante pobres, a casa de pintura gasta, rachaduras nas paredes e péssimas condições, também davam esse clima. Fora o figurino paupérrimo de Sebastião (Sebastião Vasconcelos), Berenice (Yara Lins), Diva (Iara Jamra) e Zelinha (Neuza Caribé), respectivamente pais e irmãs do protagonista.

Dennis fez uso de práticas identificáveis em outros trabalhos seus, como jogos de claro e escuro, níveis diferentes de intensidade da iluminação em partes distintas do mesmo cômodo, por exemplo. Pieri e Waddington mantiveram algumas dessas características, ao mesmo tempo em que também “clarearam” ambientes. Especialmente locais novos que surgiram no enredo, como as novas casas de Laura (Maria Zilda Bethlem), ao lado dos maridos Bartô (Miguel Rosenberg) e Poli (Kleber Drable).

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