Em nova temporada, Filhos da Pátria fortalece crítica política e social

Publicado em 08/10/2019

Apesar dos inúmeros elogios da crítica, a primeira temporada de Filhos da Pátria teve resultados medianos de audiência. Por isso, o retorno da comédia para uma segunda temporada surpreendeu. Porém, não é difícil entender o motivo de a direção da Globo ter dado uma nova chance à série de Bruno Mazzeo. O atual contexto social e político do Brasil é um prato cheio para que se proponha novas reflexões sobre o rumo do país.

Na nova leva de episódios, a família Bulhosa deixa o Brasil Império e se instala em 1930, no início da Era Vargas. E o salto no tempo já é, por si só, uma crítica pertinente, afinal, os anos passam e o país segue na mesma. Geraldo (Alexandre Nero) ainda é um servidor público medíocre, Maria Tereza (Fernanda Torres) ainda é uma matriarca da classe média que sonha em pertencer à alta sociedade, e seus filhos ainda são jovens cheios de personalidade. Ah, uma coisa mudou: Lucélia (Jessica Ellen) não é mais uma escrava, e sim uma empregada doméstica. Porém, não foi uma mudança muito substancial. “Antes a gente dormia na senzala, agora a gente dorme na casa grande”, explicou ela.

Foi uma grande sacada levar os Bulhosa para a Era Vargas. Trata-se de um contexto histórico bastante agitado, e que tem interessantes (e tristes) alusões aos tempos atuais. Com isso, o texto brinca ao espalhar frases que fazem sentido (e muito sentido!) em 2019, como “acabou a mamata” e “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”. Ou seja, Filhos da Pátria retornou porque a inspiração está mais forte do que nunca.

Elenco

Liderando um elenco bastante competente, Alexandre Nero e Fernanda Torres fazem uma dupla e tanto em Filhos da Pátria. Isso porque ambos dão contornos humanizados a tipos bastante reconhecíveis. Afinal, trata-se de um burocrata acovardado e uma dona de casa de classe média bastante preocupada com o status social.

Aliás, o foco da trama está em Maria Tereza. É impressionante como Filhos da Pátria consegue fazer dela uma síntese da atualidade, com discursos, crenças e desejos contraditórios. Ao colocar Maria Tereza exatamente igual numa nova época, Filhos da Pátria deixa um claro recado: nada muda se nós mesmos não sairmos do lugar.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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