Em A Dona do Pedaço, Deborah Evelyn faz o que pode com Lyris, que repete elementos da obra do autor

Publicado em 29/06/2019

A personagem de Deborah Evelyn em A Dona do Pedaço, Lyris, desde o princípio da história demonstra excessivamente seu amor, seu desejo e seu orgulho pelo marido Agno (Malvino Salvador). Na história criada e escrita por Walcyr Carrasco, Lyris é bastante dependente do marido. Em todos os sentidos, já que ela há muitos anos não trabalha e com o casamento trouxe a tiracolo a mãe, Gladys (Nathalia Timberg), e um irmão boa-vida, Régis (Reynaldo Gianecchini).

Ante a rejeição de Agno a suas tentativas de intimidades, Lyris começou a traí-lo

Desde os capítulos iniciais da segunda fase de A Dona do Pedaço, ou seja, desde a segunda semana de exibição, ainda em maio, Agno evita transar com a mulher. Inventa para isso diversas desculpas, como cansaço após o dia de trabalho. No entanto, suas saídas à noite, sempre sozinho e supostamente para participar de jantares de negócios, começaram a despertar desconfiança. Embora até ali ele nunca tivesse dado na vista quanto a eventuais puladas de cerca.

Em certa ocasião, ao chegar em casa, Agno flagrou Lyris em pleno exercício do adultério com um entregador dos Bolos da Paz, Tonho (Betto Marque). Ela seguiu a sugestão de Linda (Rosamaria Murtinho), amiga da família, que deu a ideia de Lyris se divertir com outro homem, uma vez que Agno claramente a estava traindo com outra mulher. Mesmo flagrada pela mãe logo após transar com Tonho, Lyris não se fez de rogada e disse a Gladys que “terceirizou”.

Ao se ver na pior, Lyris oferece a Deborah Evelyn sua primeira grande cena na novela

Agno desejava ter o apoio de Fabiana (Nathália Dill) para arrumar um jeito de se livrar do casamento com Lyris e das muitas obrigações financeiras com sua família sanguessuga. De tal forma que resolveu inclusive colocar uma câmera oculta na cozinha, onde viu Lyris com Tonho, para registrar outras eventuais traições da mulher e usar as gravações como provas de adultério em juízo. Com efeito, o potencial de “perdas financeiras” na Justiça cai consideravelmente no caso do marido apresentar provas do adultério da esposa, na visão do empresário.

Nos próximos capítulos, Agno demonstrará cada vez mais seu desejo por Rock (Caio Castro), o jovem que deseja patrocínio para levar adiante sua carreira de lutador profissional. Os dois são aproximados um do outro por Fabiana, que deseja desde sempre tirar partido da relação com o empresário, sócio de Otávio (José de Abreu), pai adotivo de sua irmã Vivi (Paolla Oliveira). Agno chegará a pedir que Rock dance nu para ele em troca do patrocínio. No entanto, depois se arrependerá da atitude.

Nada de novo no front: uma mulher e seu marido que oculta a orientação sexual não são novidade na teledramaturgia, nem na obra de Walcyr Carrasco

Já vimos tudo isso antes, como lembrou o jornalista Renan Vieira em matéria recente; e há menos tempo do que parece. Em sua novela imediatamente anterior, O Outro Lado do Paraíso, Walcyr Carrasco apresentou o núcleo do Dr. Samuel (Eriberto Leão). Homossexual, ele escondia da mãe, Adineia (Ana Lúcia Torre), seu desejo por homens. Chegou a viver um casamento ridículo com a enfermeira Suzy (Ellen Rocche), mesmo mantendo um caso com Cido (Rafael Zulu). E chegou mesmo a colocar o namorado dentro de casa, ainda que na condição de empregado.

Lyris ou Suzy?

Aliás, essa condição relegou Cido a verdadeiro capacho, tanto de Suzy, quanto de Adineia, e mesmo do próprio Samuel. Ademais, mesmo que em A Dona do Pedaço tal situação não seja reeditada, até porque Agno e Lyris vão se separar logo após o adultério dela ser denunciado por ele, haverá pelo menos uma cena já vista com Suzy em O Outro Lado do Paraíso.

Diante da iminência de ficar com apenas uma magra pensão equivalente a um salário mínimo, Lyris se revoltará ao tentar chantagear Agno para melhorar sensivelmente seus proventos pós-separação. Só para ilustrar, ela ameaça tornar público o fato de que ele é gay se não receber uma pensão que mantenha seu padrão de vida e ficar com o apartamento em que vive. Com a reação dele, que pouco se importa com a chantagem, Lyris perderá o controle e sairá gritando pelos corredores da construtora que Agno é gay. Suzy fez a mesma coisa com Samuel, só que nos corredores do hospital onde ambos trabalhavam… Tudo bem que todo autor se repete, mas em duas novelas seguidas e separadas por tão pouco tempo exige paciência do telespectador mais condescendente.

Deborah Evelyn dispensa comentários, e merece bons papéis

Há mais de 30 anos conhecida do público de teledramaturgia, desde sua estreia como a Leninha da minissérie Meu Destino É Pecar (1984), Deborah Evelyn já provou em diversas ocasiões a atriz competente e talentosa que é. Quando é escalada para uma boa personagem, especialmente as pedantes, arrogantes, um pouco desequilibradas e do tipo que sufocam marido e filhos, sai de baixo. Ao interpretar a mulher desagradável, Deborah se sai muito bem. Quem viu Celebridade (2003/04), Insensato Coração (2011) e Tempo de Amar (2017/18), só para exemplificar, sabe do que falo. Com efeito, Lyris ainda pode trilhar caminhos melhores e menos superficiais. Inclusive isso está previsto. Só depende do autor, porque com o elenco nos garantimos.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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