Verão 90 faz ótima estreia, mas parece novela de nicho

Publicado em 30/01/2019

Verão 90, a nova novela das sete da Globo, estreou muito bem. O primeiro capítulo deixou bem claro que a trama de Izabel de Oliveira e Paula Amaral pretende ser uma divertida viagem a um passado recente, destacando elementos icônicos das décadas de 1980 e 1990, quando a história se passa. No entanto, a novela precisa mostrar que tem uma história forte. Afinal, ao apostar somente na nostalgia, a trama tenderá a ficar muito segmentada, divertindo apenas os espectadores que viveram as épocas em questão.

O primeiro capítulo foi recheado de referências. Em um prólogo que mostrou a infância dos protagonistas, o que não faltou foram programas, músicas, objetos e situações típicas dos anos 1980. Estavam ali as cortinas de madeira, a TV de tubo com palha de aço na antena, a decoração kitsch dos ambientes, o programa do Chacrinha, enfim. Tudo para mostrar a saga de Manuzita (Melissa Nóbrega), João (João Bravo) e Jerônimo (Diogo Caruso), que formavam a Patotinha Mágica, um programa de TV que dava origem a um grupo musical de sucesso.

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No final do capítulo, Verão 90 chegou aos anos 1990. Aí, o espectador reconheceu a novela Tieta, da qual Manuzita (Isabelle Drummond) fazia elenco de apoio, o orelhão com ficha, os figurinos extravagantes… Tudo isso regado a canções da época (algumas delas do fim da década, é verdade, mas não chega a ser um problema).

Verão 90 tem cara de novela dos anos 1990

A nostalgia não era vista apenas nos elementos cênicos, mas também na estética da própria novela. As passagens de cena cafonas, o excesso de luz e colorido e os cenários menos realistas rementem às próprias novelas dos anos 1990, anteriores aos filtros de imagem atuais.Para completar a salada saudosista, a abertura também está lotada de elementos dos anos 1990. Há ali as cenas com chroma key, luzes e cores, a mola que desce as escadas, os videogames de 16 bits, a moda das academias e até o Pião da Casa Própria (!).

Ou seja, Verão 90 foi feita, assumidamente, para agradar quem viveu a década retratada. Isso é seu trunfo e seu problema. É um trunfo, pois dá personalidade à novela. Mas é um problema, porque a trama acaba ficando distante do público mais jovem. Para quem nasceu no final da década, estas inúmeras referências não dizem nada.

Trama

Sendo assim, para agradar ao público mais jovem, Verão 90 terá a responsabilidade de trazer uma trama realmente envolvente. Neste sentido, o primeiro capítulo foi promissor. Há um bom triângulo amoroso jovem, formado por Manuzita, João (Rafael Vitti) e Jerônimo (Jesuíta Barbosa), que pode agradar os “shippadores”. E há duas protagonistas maduras muito interessantes, Janaína (Dira Paes) e Lidiane (Claudia Raia).

O contraponto entre Janaína, um arquétipo de mãe, dedicada e preocupada com os filhos; e Lidiane, uma mãe mais “torta”, espalhafatosa e um tanto irresponsável; é que poderá mover a novela para um lugar vigoroso. Há aí um grande acerto na escalação. Dira Paes imprime humanidade à Janaína, uma personagem que poderia cair no clichê e aborrecer. E Claudia Raia está um desbunde como Lidiane, um papel que parece escrito sob medida para ela.

Ou seja, Verão 90 tem potencial. Mas, para engrenar, terá a responsabilidade de ir além da nostalgia pura e simples. Pois o espectador do horário já anda cansado de novelas com muita embalagem e pouco conteúdo. E não há nostalgia que segure 160 capítulos.

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