Pretensiosa, Apocalipse foi uma grande decepção

Publicado em 26/06/2018

Efeitos especiais grandiosos, elenco numeroso e repleto de estrelas, direção caprichada e produção esmerada. Apocalipse, novela da Record que terminou ontem (25), foi uma aposta pretensiosa da emissora após uma série de novelas bíblicas passadas na antiguidade. Mas, quanto maior a expectativa, maior é um possível tombo. E foi isso que aconteceu. Apocalipse revelou-se uma grande decepção e se tornou ponto destoante da atual dramaturgia da Record, que vinha numa linha de acertos.

O maior problema de Apocalipse foi seu tom excessivamente doutrinário. A trama usou e abusou da pregação, tornando-se uma grande propaganda de uma igreja. A autora Vivian de Oliveira reclamou publicamente de que não reconhecia a história que escrevera na tela. Ou seja, aos olhos do público, ficou claro que houve uma intervenção no texto que não foi positiva. Na reta final, a autora, que assinou o sucesso Os Dez Mandamentos, foi afastada da história. Sintomático.

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Com o insucesso da história do anticristo Ricardo (Sergio Marone, numa performance um tanto canastrona), a Record quebra uma sucessão de tramas bíblicas bem-sucedidas. Após o sucesso de Os Dez Mandamentos, a emissora apostou em A Terra Prometida e O Rico e Lázaro, que não repetiram o êxito anterior, mas mantiveram a faixa de novelas da emissora num bom patamar. E Apocalipse tratou de interromper esta trajetória bem-sucedida. Pior: arranhou a credibilidade das novelas do canal. As novelas anteriores eram novelas bíblicas. Já Apocalipse foi uma novela evangelizadora e doutrinária. Fica o desafio: como atrair o público novamente e fazê-lo acreditar que a próxima trama não repetirá esta “propaganda”?

Para piorar, a Record esbarra em sua falta total de planejamento. Para substituir Apocalipse, a emissora apostará numa minissérie, Lia. A próxima novela, Jesus, deveria vir na sequência, mas o canal não confirma a data de estreia. Ao que tudo indica, a produção está atrasada. Um “hiato” entre Lia e Jesus pode prejudicar ainda mais o horário de novelas da emissora.

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Apocalipse, então, com o perdão do trocadilho óbvio, foi o “apocalipse” das novelas da Record. A trama interrompeu uma sequência de sucessos. E, assim como o apocalipse representa uma renovação, ou seja, a destruição de um mundo antigo e o nascimento de um novo mundo, a novela também pode representar isso. Resta saber se Lia e Jesus irão representar este “novo mundo”, fazendo renascer novamente a dramaturgia da Record. Ao menos, as tramas trarão de volta os cenários da antiguidade, com os quais o público da emissora está mais familiarizado.

Assim como Apocalipse, Máscaras decepcionou em 2012

O que aconteceu com a dramaturgia da Record depois de Apocalipse remete ao último grande insucesso do canal. Depois que passou a apostar pesado em dramaturgia, a emissora teve seus sucessos e insucessos, o que é natural. Porém, depois de Máscaras, novela de Lauro César Muniz exibida em 2012, o canal tomou um tombo que parecia definitivo.

Máscaras derrubou a audiência da emissora na faixa de novelas das 22 horas. Suas substitutas não conseguiram reverter o cenário. Balacobaco, Pecado Mortal e Vitória não refrescaram a situação, colocando a dramaturgia do canal em xeque. As novelas da emissora só se reergueram com o início do projeto de novelas bíblicas e Os Dez Mandamentos. Seria, então, Apocalipse uma “nova” Máscaras?

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