Com capítulo ágil, mas sem pressa, Segundo Sol faz boa estreia

Publicado em 15/05/2018

Estreia da noite de ontem (14) na Globo, Segundo Sol provocou um verdadeiro alívio aos ouvidos do público: saem os diálogos no estilo jogral de Walcyr Carrasco, entra o bom texto de João Emanuel Carneiro, mais limpo, direto e bem elaborado. Não que a nova trama reinvente a roda. Segundo Sol é um folhetim tradicional. Centrada num romance, a atração faz uma brincadeira interessante com a realidade, além de ser essencialmente musical, no melhor sentido da palavra.

Segundo Sol começa quando o cantor de axé Beto Falcão (Emílio Dantas) se dá conta de que seu sucesso, acontecido há três anos, não existe mais. E tal situação foi mostrada de maneira bem criativa pelo texto e direção: a novela abre com grandes imagens do Carnaval de Salvador, e, na sequência, foca em Beto cantando sua animada canção. No entanto, quando a imagem abre, percebe-se que o cantor está num trio elétrico modesto e praticamente sem público ao redor. Poucas palavras e imagens já explicaram ao público o contexto da obra.

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Pouco tempo depois, Beto é dado como morto, causando uma comoção nacional. Algo que soaria exagerado à primeira vista, já que o cantor, como revelou a primeira cena, estava decadente. No entanto, ao encontrar ecos na realidade, Segundo Sol ganha credibilidade e gera imediata identificação no público. Não foram poucos os exemplos da vida real que coincidem com a situação apresentada. Mais adiante, Beto aparece vivo e é convencido pelo irmão e pela ex-namorada a seguir com a farsa. Com problemas financeiros, ele topa e vai se esconder num lugarejo, onde conhece a mocinha Luzia (Giovanna Antonelli).

Aí, Segundo Sol entra no folhetim rasgado, mas muito bem armado. Apesar de o romance entre os dois surgir rapidamente, há química entre o casal, o que ajudou a convencer o público. Beto e Luzia funcionaram. Já vieram depois disso planos para o casamento e uma gravidez, até que Karola (Deborah Secco), a ex-namorada de Beto, aparece no lugar dizendo-se grávida dele. Pronto, é lançado um gancho eficiente, aliás, uma marca do autor João Emanuel Carneiro. Assim, Segundo Sol conseguiu apresentar seus personagens principais e sua história, tudo de maneira bastante ágil, mas que não soou apressada. Pelo contrário, conseguiu instigar a audiência.

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Ou seja, Segundo Sol será, antes de mais nada, uma história de amor tradicional com uma roupagem moderna, regada a ótimas canções. Além disso, a trama acertou na escalação de atores. Emílio Dantas, completamente diferente de seu Rubinho, de A Força do Querer, mostra que está pronto para encarar um protagonista. Giovanna Antonelli segue sendo uma mocinha eficiente, enquanto Deborah Secco mostrou maturidade para encarnar sua primeira grande vilã em horário nobre. Enquanto isso, Adriana Esteves mostrou, numa única cena, que sua Lauretta nada tem a ver com a Carminha, de Avenida Brasil. Uma personagem que deve render.

O maior problema de Segundo Sol é realmente a falta de representatividade. Claramente, faltam atores negros em cena numa história passada na Bahia. Trata-se de um problema antigo das novelas brasileiras em geral, mas que ganhou força nesta produção situada em Salvador. O lado bom disso é que a discussão foi levantada e espera-se que, a partir de agora, atores negros realmente ganhem mais espaço na televisão brasileira. Já passou da hora de isso acontecer. No mais, Segundo Sol é uma novela de qualidades, que tem tudo para manter a boa fase de audiência do horário.

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