Viva a Diferença elevou Malhação a um novo patamar

Publicado em 06/03/2018

Com o final da temporada Viva a Diferença no final da tarde de ontem (05), Malhação foi elevada a um novo patamar. O programa nasceu como um seriado adolescente fantasioso, se tornou uma soap opera com certo compromisso social, e evoluiu ao ponto de se tornar uma marca, até chegar ao formato atual, de novela fechada que troca autores, diretores e elenco a cada temporada. Esta última mudança livrou Malhação de amarras, permitindo mudanças de tom e de narrativas a cada nova história.

E foi este formato que tornou possível Viva a Diferença, temporada que mostrou que Cao Hamburger, nome forte do entretenimento infantojuvenil brasileiro, poderia ser um excelente novelista. Ao propor narrar a história das “five”, cinco meninas de universos distintos que se conhecem ao participarem de um parto num metrô, Cao mostrou domínio do folhetim, mas também demonstrou segurança em seu próprio trabalho ao incluir no enredo novos paradigmas.

Deste modo, Malhação: Viva a Diferença ficará marcada como a temporada que melhor soube abordar a temática adolescente, sem descambar para um tratado sociológico, mas com os pés bem fincados na realidade. Os romances de folhetim permaneceram na essência, mas ganharam contornos menos inspirados em contos de fada e mais próximos da realidade. Keyla (Gabriela Medvedovski), Benê (Daphne Bozaski), Tina (Ana Hikari), Lica (Manoela Aliperti) e Ellen (Heslaine Vieira) tiveram seus conflitos amorosos, mas também familiares e sociais. E quebraram barreiras.

A partir daí, Viva a Diferença tocou em assuntos importantes e urgentes. Falou sem pudores de gravidez na adolescência, alcoolismo, homossexualidade, racismo, homofobia, abuso sexual, fake news e tantos outros assuntos que estão na ordem do dia. Além disso, teve como mote central a educação brasileira, explorando com competência os domínios de seus dois cenários centrais, o colégio público Cora Coralina e o colégio privado Grupo. E deixou a mensagem de que um ensino público de qualidade é possível, quando há o interesse da sociedade, dos gestores e dos professores. Mensagem que parece puramente idealista, mas não é. Exemplos positivos existem.

E o melhor de tudo é que Cao Hamburger e seus colaboradores conseguiram tratar de todos estes assuntos sem cair na panfletagem gratuita. Toda a temática esteve amarrada a uma trama envolvente, que conseguia passar sua mensagem sem perder de vista o entretenimento. E o melhor: sem hipocrisia. Temporadas passadas de Malhação já tentaram tratar de assuntos sérios, mas tudo era mostrado com tanto pudor e de maneira tão hipócrita que colocava tudo a perder.

E o último capítulo de Malhação: Viva a Diferença foi de uma sensibilidade rara na televisão brasileira. As “five” terminaram o Ensino Médio e se despediram, já que cada uma delas partirá para novas experiências. Foi uma despedida emocionante, e que tocou fundo no sentimento do espectador. Um retrato fidedigno desta fase da vida onde tudo é tão intenso, que parece que vai durar para sempre. Mas que a vida trata de mostrar que os ciclos se encerram para outros possam começar. Foi lindo. Viva a Diferença deixa saudades.

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