Humor leve e tom teatral caracterizam Orgulho e Paixão

Publicado em 21/03/2018

Orgulho e Paixão, estreia da faixa das 18h da Globo na noite de ontem (20), estreou apostando numa fórmula já conhecida do horário. A trama de Marcos Bernstein, baseada em obras de Jane Austen, veio com uma proposta de imprimir mais leveza no horário, após uma trama mais dramática como Tempo de Amar. Mas mantém o estilo de sua antecessora, já que novamente a emissora aposta numa novela de época, com muito requinte e figurinos suntuosos.

Com a espinha dorsal inspirada no romance Orgulho e Preconceito, a nova trama apresentou seu casal protagonista, Elisabeta (Nathalia Dill) e Darcy (Thiago Lacerda), que teve um primeiro encontro explosivo. A mocinha, que vive no início do século e cuja mãe Ofélia (Vera Holtz) sonha com seu casamento, é daquelas jovens atrevidas e à frente de seu tempo. Ao contrário de suas quatro irmãs, ela não sonha em se casar, e sim em conhecer o mundo.

No entanto, a trama trata a temática feminista com um tom bem-humorado. Na verdade, toda a trama de Orgulho e Paixão usa e abusa de um senso de humor leve, um tanto ingênuo, com os atores todos falando um tom acima, quase teatral. Isso imprime um tom à história que beira a farsa, já que dá comicidade em momentos que poderiam ser dramáticos. O diálogo entre Elisabeta e Darcy, quando brigam por uma calça numa loja, demonstra bem isso. É um homem brigando com uma mulher, mas o tom humorado dos atores dá leveza ao momento.

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Com isso, Orgulho e Paixão resgata a típica comédia romântica do horário das seis. Formato, aliás, que consagrou Walcyr Carrasco na faixa, ainda mais se levarmos em consideração sua predileção por casais “gato e rato”, que vivem brigando apesar de se amarem. A diferença maior é a qualidade dos diálogos, menos didáticos e mais cuidadosos. Mesmo assim, neste primeiro capítulo, ficou claro que Orgulho e Paixão se baseará em tipos cômicos para narrar uma história sem grandes arroubos. Basicamente, a história é sustentada pelos personagens, e não o contrário.

Ao menos, há bons personagens que podem fazer a história render. Vera Holtz, como sempre, está à vontade como Ofélia, a matriarca meio caipira e bem engraçada que tenta casar as filhas. Há ainda as boas presenças de Alessandra Negrini como Susana, e Gabriela Duarte como Julieta, duas atrizes bissextas e que faziam falta na telinha, e que encheram a tela com suas presenças. O núcleo ainda tem a presença de Grace Gianoukas, que vive a empregada Petúnia, engraçada como sempre.

Orgulho e Paixão, portanto, diverte e tem bons momentos, que devem agradar à audiência da faixa. O que pesa contra é que, mais uma vez, a Globo tem abusado de novelas de época no horário. No início dos anos 2000, as tramas contemporâneas praticamente sumiram dentre as novelas das seis, fazendo com que a fórmula fosse perdendo fôlego a cada nova história. Tanto que, em 2008, Ciranda de Pedra foi substituída por Negócio da China, inicialmente concebida para às sete, mas que acabou mudando de horário na tentativa de estancar a perda de público (e que não funcionou, diga-se). A partir daí, o revezamento entre tramas de época e contemporânea se tornaram mais constantes, o que agora já não vem mais acontecendo (as próximas da fila também são de época). É preciso cuidado.

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