A TV aberta se esqueceu das crianças – menos o SBT

Publicado em 12/03/2018

É frequente na internet que haja brincadeiras em torno do programa Encontro Com Fátima Bernardes ter ocupado o espaço que era do infantil TV Globinho até 2012. Não é à toa. Em que pesem os bons resultados de audiência conquistados pela ex-apresentadora do Jornal Nacional e ex-mulher de William Bonner, a geração que cresceu com o infantil ocupando as manhãs da Rede Globo sente falta de algo assim no horário – mesmo que destinado a seus irmãos menores ou filhos.

Excluindo-se a TV Cultura (que não é um canal comercial), que na faixa diurna exibe diversos desenhos animados entremeados por esquetes pedagógicas no premiado Quintal da Cultura, e os programas Mundo Disney (sete dias por semana: das 8h30 às 10h30 de segunda a sexta, das 10h30 às 12h30 aos sábados e das 11h às 13h aos domingos) e Bom Dia & Cia., do SBT, que intercala desenhos com distribuições de prêmios para os espectadores que telefonam e participam ao vivo, nenhuma das outras redes dedica muito tempo às crianças. É também no SBT que, à noite, o público infantil tem para si a opção de assistir a uma novela que se comunica diretamente com ele, Carinha de Anjo. Nas manhãs dos finais de semana há o incansável Chaves, além de Patati Patatá aos sábados. Fora isso, praticamente mais nada – a não ser na TV paga.

Na Globo, durante o dia há uma sucessão de jornalísticos e programas de variedades ao vivo, das 5h às 15h, vindo na sequência um filme, uma reprise de novela e, já iniciando a noite, a primeira das quatro novelas inéditas que a emissora exibe diariamente. Na Record, a mesma fórmula, das 6h às 15h, seguida de duas reprises de novelas e o interminável Cidade Alerta com Luiz Bacci. Apenas nas manhãs de domingo, das 9h às 11h, é que a emissora se lembra das crianças e exibe o Record Kids – mesmo assim contando apenas com Pica-pau como atração.

A Rede TV!, entre variedades e horários vendidos para igrejas, reserva meia hora das manhãs (das 9h às 9h30) para Turma da Pakaraka, espécie de versão sua do Quintal da Cultura. Na Bandeirantes, o público infantil tem alguns desenhos perdidos pela madrugada (inclusive Transformers às 6h de domingo), apenas para tapar buracos, e Os Simpsons sete dias por semana – embora o desenho não seja exatamente para crianças. Na Gazeta, absolutamente nenhuma atração é dedicada ao público infantil.

Sou de uma geração que cresceu com diversas opções de programação na TV. Na Cultura (lembrando uma vez mais que a emissora não é comercial, logo suas preocupações com qualidade e pluralidade são maiores e mesmo obrigatórias), toda uma leva de bons e criativos programas destinados a diferentes faixas etárias e que estimulavam o aprendizado de conteúdos distintos sem deixar de lado a diversão: Rá-tim-bum, Castelo Rá-tim-bum, Mundo da Lua, X-Tudo, Glub Glub, O Professor, O Teatro dos Contos de Fada (de Shelley Duvall), além de desenhos como As Aventuras de Tintim, Doug e Animais do Bosque dos Vinténs. O SBT oferece desde sempre desenhos clássicos e modernos e contava na apresentação da Sessão Desenho com Valentino Guzzo na pele da Vovó Mafalda, além de Bozo, Mara Maravilha, Mariane, Sérgio Mallandro… A Globo teve a TV Globinho, a TV Colosso, o Xou da Xuxa, o Angel Mix e a “novelinha” Caça-talentos, o Bambuluá, além de reprises de Os Trapalhões e do Sítio do Picapau Amarelo, antes da nova versão produzida entre 2001 e 2007 e que também deixou uma lacuna na programação infantil. A Record exibiu por vários anos o programa de Eliana, e nos anos 1990 o ótimo Agente G com o saudoso Gerson de Abreu. E os exemplos são muitos. Não seria o caso de voltar a investir em atrações de qualidade dedicadas aos “baixinhos”?

Silvio Santos se manifesta contra seguir a corrente e eliminar também no SBT os horários dedicados às crianças. Enquanto a explicação comum para o fim dos infantis na TV aberta é a problemática do faturamento comercial que impede publicidade em atrações do gênero e empurrou programas e anunciantes para os canais pagos como Gloob e Discovery Kids, o SBT segue faturando milhões anualmente. Não perde dinheiro, nem público. Obrigado, Silvio, por manter no ar uma programação dedicada aos pequenos.

*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

© 2024 Observatório da TV | Powered by Grupo Observatório
Site parceiro UOL
Publicidade