Belaventura não sustenta os bons índices das “escravas” antecessoras

Publicado em 11/10/2017

Criada por acaso para abrigar a novela Escrava Mãe, que havia sido produzida para substituir Os Dez Mandamentos, mas acabou realocada, a faixa das sete da Record acabou fazendo sucesso. Escrava Mãe revelou-se um acerto da emissora, graças ao texto redondo de Gustavo Reiz, à reconstituição de época caprichada e boas atuações. Aproveitando o sucesso (e também para ganhar tempo), a emissora reapresentou A Escrava Isaura, continuação direta de Escrava Mãe, e manteve os bons índices de audiência do horário, mesmo tratando-se de uma trama de 2004 reprisada tantas outras vezes.

O bom resultado fez com que a Record continuasse a investir no horário das 19h30, o que foi uma boa ideia, já que o canal passaria a ter um horário para novelas não-bíblicas. No passado, a emissora produziu boas novelas com textos que não eram inspirados no Livro Sagrado e, portanto, seria uma boa seguir apostando em tramas inéditas, dando espaço para que seus autores criem. Surgiu, então, Belaventura, trama de cores medievais assinada por Gustavo Reiz. Entretanto, a atual trama das 19h30 não conseguiu manter a boa audiência de suas antecessoras.

O fraco desempenho de Belaventura poderia ser creditado, também, à saída da Record da TV paga, em razão do imbróglio envolvendo os canais da Simba. No entanto, os canais da Simba já retornaram aos pacotes de TV fechada, e a Record já viu sua audiência subir em vários horários. Mas Belaventura continuou apresentando desempenho mediano.

Belaventura é uma novela de qualidades. Gustavo Reiz, que também assinou Escrava Mãe e Dona Xepa no canal, é adepto do folhetim clássico, e usa sem pudores todas as artimanhas e reviravoltas que o formato permite. É o bom e velho clichê, mas usado de maneira inteligente, com uma arquitetura narrativa bem armada e envolvente. E, ao optar por contar uma história que se passa na Idade Média, com disputas de reinos, cavaleiros, reis e princesas, o autor abusa do tom de conto de fadas, numa proposta que até diverte. É a história de amor de sempre, mas aqui é uma plebeia que se apaixona por um príncipe, explorando todas as implicações que um romance proibido pode ter.

Provavelmente, o público de novelas da Record não comprou a proposta de Belaventura. O fato de a novela se passar na Idade Média, mas sem nenhum tom satírico (como era Que Rei Sou Eu?, por exemplo), pode ter causado estranheza. Afinal, os personagens surgem com um figurino pomposo, que mais parecem fantasias, e em cenários que não dialogam com a realidade. O Rico e Lázaro também é assim, mas está baseada na Bíblia, o que lhe dá credibilidade junto ao espectador fiel. Mas Belaventura acaba destoando demais da realidade, que é a proposta da novela, mas o público provavelmente rejeitou embarcar nesta fantasia.

E o curioso é que vem mais novela medieval por aí, já que a Globo também apostará no filão com Deus Salve o Rei, próxima trama das sete. Vamos ver se a audiência da emissora vai embarcar nesta fantasia. Porque o público da Record, já se sabe, não embarcou.

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*As informações e opiniões expressas nessa crítica são de total responsabilidade de seu autor e podem ou não refletir a opinião deste veículo.

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