ANÁLISE DA ESTREIA

Com Mion, Caldeirão resgata anarquia e deixa de ser palanque político

Novo Caldeirão traz de volta a descontração para as tardes de sábado, destoando da proposta adotada por Luciano Huck

Publicado em 04/09/2021

Estreia da Globo na tarde deste sábado (4), o novo Caldeirão com Marcos Mion resgatou a anarquia e a descontração de programas de auditório que foram exibidos nesta faixa. Trata-se de um tom bem diferente ao adotado pela versão original do programa, o Caldeirão do Huck (2000-2021), que encerrou seu ciclo após 21 anos de exibição para que Luciano Huck pudesse assumir os domingos.

É bem verdade que, pelo curtíssimo intervalo de tempo entre a criação de um novo programa – já que Luciano levará consigo seus quadros mais consagrados, como Quem Quer Ser um Milionário, The Wall e Lata Velha – e a estreia, não foi possível reinventar a roda.

Mas foi bom ver Tiago Leifert e companhia dançando Conga, Conga, hit que consagrou Gretchen como a rainha do rebolado. Ou então Mion resgatando a declaração de amor de Ana Maria Braga para o jornalista Thiago Oliveira. Para quem quer um papo mais íntimo, Paulo Vieira descartou seu pudor ao citar o “saco” (aquele mesmo que você está pensando caro leitor), como uma das partes que podem ser coçadas.

Domingão será palanque?

Com o passar do tempo, o programa precisará sim se renovar, sob o risco de não se tornar repetitivo, por mais que a desenvoltura e a experiência de Mion contem sempre ao seu favor. Mas, para um profissional criativo e que se mostra atento às redes sociais, se reinventar não é uma tarefa difícil. A missão do novo Caldeirão, aliás, parece ser bem menos ingrata do que a no Domingão com Huck.

Também pelas circunstâncias em que as mudanças ocorreram – a saída antecipada de Faustão forçou a Globo a implantar a nova grade meses antes do previsto – não é justo cobrar grandes inovações do Domingão neste primeiro momento. Mas, para a equipe de Huck, a ausência de novidades pode se transformar em um problema.

Há alguns anos, o conteúdo exibido no extinto programa de sábado lembra mais o de uma propaganda eleitoral. E isso o torna, não raramente, enfadonho. Por mais justa que seja a intenção de Luciano de dar visibilidade para o empreendedorismo social, a insistência no tema cansou.

A impressão de que se tinha era de que as entrevistas com os personagens do programa estavam sendo produzidas para uma campanha política. Faltava um espaço para quem quer apenas se divertir. E a julgar pelas primeiras chamadas do Domingão com Huck, essa proposta permanece na nova atração.

Só que assistencialismo no domingo já virou uma “arma” largamente utilizada pela concorrência. Ou seja, a chegada de Luciano pode acelerar ainda mais a fuga do público que busca alternativas ao chororô típico das matérias de superação.

Em suma, todos os envolvidos nessa dança das Cadeiras da Globo terão desafios pela frente, As produções dos dois programas precisarão buscar, necessariamente, novidades para fisgar a plateia. A Globo, por sua vez, terá como desafio rever seus planos caso o Caldeirão com Mion mantenha o sucesso em suas próximas edições.

Na comunicação oficial, o Caldeirão com Mion é tratado como um programa temporário, com data de validade. Mas será mesmo que a Globo vai ter coragem de tirá-lo do ar?

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Este texto marca a minha estreia como colunista no Observatório da TV. Meu nome é Piero Vergílio, sou jornalista e já passei por revistas e sites de entretenimento, como RD1, TV História e Notícias da TV. No Twitter, você me encontra no @jornalistavetv

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