Análise

Xuxa orgulha Sikêra Jr., seu pior rival, ao sugerir presos como cobaias

Apresentadora foi comparada a nazistas e pediu desculpas por declaração

Publicado em 27/03/2021

Xuxa Meneghel pediu desculpas pela declaração absurda durante uma live sobre direitos dos animais promovida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), mas o estrago foi feito. A apresentadora sugeriu testar remédios e vacinas em presos porque “serviriam para alguma coisa antes de morrer” e, reconhecendo a gravidade da fala, reclamou do “pessoal dos Direitos Humanos” que, com razão, impediria esta desumanidade.

“Eu tenho um pensamento que pode parecer muito ruim para as pessoas, desumano. Na minha opinião, existem muitas pessoas que fizeram muitas coisas erradas e estão aí pagando seus erros para sempre em prisões, que poderiam ajudar nesses casos aí, de pessoas para experimentos. Acho que pelo menos serviriam para alguma coisa antes de morrer, para ajudar a salvar vidas com remédios e com tudo. Aí vai vir o pessoal dos Direitos Humanos dizer que não podem ser usados. Mas se são pessoas que está provado que irão passar sessenta, cinquenta anos na cadeia e que irão morrer lá, acho que poderiam usar ao menos um pouco da vidas delas para ajudar algumas pessoas, provando remédios, vacinas”, disse a apresentadora.

Xuxa não reparou que sua sugestão a coloca na mesma prateleira de seu pior rival em 2020: Sikêra Jr. Os dois se enfrentaram na Justiça após o apresentador sensacionalista da RedeTV! ter associado a rainha dos baixinhos à pedofilia por escrever um livro sobre uma criança com duas mães. Foi uma resposta à campanha de Xuxa e Luisa Mell contra ele por ter feito piada com um estupro de um animal no programa Alerta Nacional.

Sikêra Jr., um dos pilares da apelação na TV atual, comemora a morte de qualquer suspeito de crime, culpado ou inocente. “Antes ele do que eu”, canta em seu programa segurando uma placa de “CPF cancelado”. Xuxa, ao propor o uso de presos como cobaias para experimentos medicinais sem importar se eles morrerão por isso, automaticamente se candidata a participar do Alerta Nacional, pulando com a placa de “CPF cancelado” junto de seu rival.

A fala de Xuxa foi comparada pelo “pessoal dos Direitos Humanos” que ela criticou a um dos regimes mais sanguinários do século 20: a Alemanha de Adolf Hitler (1889-1945). O cientista Josef Mengele (não confundir com Meneghel) torturava presos do campo de concentração de Auschwitz para encontrar a “raça pura” desejada pelo nazismo. Não à toa, ficou conhecido como “Anjo da Morte”.

A gravidade da declaração piora considerando as múltiplas falhas do sistema carcerário brasileiro, que tornariam a sugestão de Xuxa ainda mais injusta e discriminatória. Dados de junho de 2019 do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, mostram que um de cada três presos (33,47%) ainda não foi condenado e, portanto, são considerados, presumidamente, inocentes.

Além disso, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, dois terços da população carcerária com informação de raça disponível é negra (66,7%). Pretos também são as maiores vítimas de prisão injusta por reconhecimento fotográfico (83%, segundo levantamento do Condege, entidade que reúne defensores públicos de todo o País). Como não considerar grave a sugestão de sacrificar em experimentos científicos pessoas (em sua maioria negras) que podem ser inocentes?

Xuxa, que completa 58 aos neste sábado (27), felizmente percebeu que havia falado uma idiotice e pediu desculpas em vídeo publicado no Instagram.

“Estou aqui pedindo desculpas a todos vocês. Eu que não usei as palavras certas. Pensei em uma coisa, pensei em muitas coisas, quis falar sobre muitos assuntos e não fugir do assunto, que era dos animais, dos maus-tratos, pessoas que maltratam vidas, e também fiz a mesma coisa, também julguei, também maltratei, também usei palavras que não deveriam ter sido usadas. Então estou aqui pedindo desculpa a todos vocês. Algumas pessoas usaram a expressão que fui falando sobre raça, presidiários negros, pobres. Não me passou nada disso pela cabeça. Me veio primeiro uma pessoa que estupra uma criança, que fica em um presídio, fica anos ali, poderia pensar em ajudar outras pessoas de alguma maneira. É errado? É errado. Me expressei mal? Me expressei mal. Estou vindo aqui para pedir desculpas a vocês, porque sei que a gente tem realmente algumas falhas no Brasil, e uma delas é essa. Quem sou eu para dizer que essas pessoas estão ali e devem ficar ali ou morrer ali? Quem sou eu para fazer isso? E se eu faço isso, estou sendo ruim tanto quanto as outras pessoas que também maltratam outras vidas, que não deveriam fazer isso”, afirmou.

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