Mídia e poder

Xodós de Silvio Santos, Fofocalizando e Vem Pra Cá se opõem sobre Bolsonaro

Patricia Abravanel defendeu atos pró-governo e criticou impeachment; Ana Paula Renault questionou pautas antidemocráticas

Publicado em 13/09/2021

A polarização política na TV chegou aos dois programas “favoritos” de Silvio Santos: Fofocalizando e Vem Pra Cá. “Intocáveis” na grade do SBT, são mexidos apenas por ordem expressa do “patrão”, que já “brincou” inúmeras vezes de trocar os horários das duas atrações. Na última semana, os atos a favor e contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) colocaram os “xodós” do dono da emissora em rota de colisão.

No dia 7, feriado de Independência, o Vem Pra Cá foi inteiramente dedicado à cobertura das manifestações antidemocráticas favoráveis ao presidente. Antidemocráticas porque os apoiadores do governo defendem a destituição dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e uma esdrúxula “intervenção militar”, proibida pela Constituição Federal. Mesmo assim, a apresentadora Patricia Abravanel manteve o tom ufanista durante o programa e afirmou que os atos eram “por um país melhor”.

Em outro momento, Patricia leu cartazes em inglês escritos erroneamente (o que não foi problema para ela, já que derrapou no português durante o programa, como “cidadões”) com reivindicações alardeadas por Bolsonaro, como a “liberdade” que o STF supostamente tirou do presidente e seus eleitores (em resposta à prisão de militantes bolsonaristas ameaçaram de morte os ministros da Corte).

Patricia Abravanel, além de filha “número 4” de Silvio, é “primeira-dama” do Ministério das Comunicações, que comanda a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), responsável por impor narrativas favoráveis ao governo (como o terrível “placar da vida” com os sobreviventes do coronavírus, excluindo as vítimas fatais) e perseguir opositores nas redes sociais (como já aconteceu com o comediante Marcelo Adnet).

O próprio Bolsonaro já declarou ter nomeado o marido de Patricia, Fábio Faria, para ministro das Comunicações por ser “genro de Silvio Santos” (como se esta fosse uma qualidade para comandar uma pasta importante do governo e como se isso não configurasse conflito de interesses).

Já a cobertura do Fofocalizando foi totalmente diferente. Ou melhor, quase, porque única semelhança foi a presença de Gabriel Cartolano, integrante dos dos programas. Chris Flores e Ana Paula Renault, opositoras de Bolsonaro, não esconderam a insatisfação ao ver milhares de manifestantes na avenida Paulista com revindicações antidemocráticas.

Em um ato de coragem, Chris Flores falou com todas as letras que a fala do presidente contra o STF era uma “ameaça”. Ana Paula Renault foi além e disse que apoiadores de Bolsonaro “se apossaram” da bandeira nacional e são incoerentes por pedirem, ao mesmo tempo, “liberdade” e “intervenção militar” (apelido para “ditadura”).

Quando se chamava Triturando, Chris Flores e Ana Paula Renault chegaram a emitir fortes críticas contra o governo. O programa, por exemplo, “triturou” Regina Duarte, então secretária de Cultura. Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social e amigo de Silvio Santos, perseguiu a apresentadora no Twitter. Depois disso, a política deixou o a atração.

No dia 9, durante a paralisação dos caminhoneiros, Patricia Abravanel mostrou sua real face e se manifestou contrária ao impeachment de Bolsonaro (logo depois de ter chamado o jornalismo do SBT de “independente”). Segundo ela, a emissora é sempre pró-governo (seja ele de esquerda ou de direita) e a destituição do presidente traria mais “sofrimento” aos brasileiros.

Compare a cobertura dos atos a favor e contra Bolsonaro no Vem Pra Cá e no Fofocalizando:

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