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“Sou a dona do SBT”, brinca Christina Rocha, apresentadora mais longeva do canal

À coluna, titular do Casos de Família diz que superou "gelo" em Silvio Santos e trauma por demissão

Publicado em 19/08/2021

O SBT “nasceu” em 19 de agosto de 1981, e Christina Rocha esteve no “parto”. À frente do programa O Povo na TV, participou da inauguração marcada pela assinatura da concessão do canal 4 de São Paulo, em cerimônia com Silvio Santos transmitida diretamente de Brasília. Além do “patrão”, a apresentadora é a única remanescente daquela estreia que ainda trabalha no canal, o que lhe dá o direito de “reivindicar”, com bom humor, o posto de “dona” da emissora, aniversariante desta quinta-feira.

Em entrevista exclusiva à coluna, Christina Rocha relembra a comoção dos funcionários na estreia do SBT. Antes da TV, a atual titular do Casos de Família cursou jornalismo, foi professora infantil (deu aula para Lúcio Mauro Filho!) e atuou em dois filmes dos Trapalhões, até ser contratada pela TVS, no Rio de Janeiro, em 1980. Com a implantação da rede, também passou a gravar em São Paulo, onde ficou em definitivo.

“Só víamos o Silvio quando participávamos dos programas dele como convidados. Depois da inauguração da rede, passamos a trabalhar uma semana no Rio e uma em São Paulo. Ficávamos hospedados em um hotel na esquina da avenida Ipiranga com a São João, viramos amigos dos travestis da região. Para nós, aqueles estúdios na Vila Guilherme eram gigantes. No dia da estreia, apareceu o Silvio assinando a concessão em Brasília, cortou para o estúdio e foi uma emoção. Depois, o Wilton Franco anunciou: ‘Boa tarde, este é o Sistema Brasileiro de Televisão'”, recorda a apresentadora.

Christina Rocha em O Povo na TV (1982), Musicamp (1986) e Aqui Agora (1993) (Montagem/Francisco Rosa/Tetsuo Hatai/Carlos Manfredo/SBT)
Christina Rocha em O Povo na TV 1982 Musicamp 1986 e Aqui Agora 1993 MontagemFrancisco RosaTetsuo HataiCarlos ManfredoSBT

No SBT, Christina se transformou em “curinga” e participou de dezenas de atrações no jornalismo e no entretenimento, como Show da Tarde, Sessão Premiada, O Preço Certo, TV Powww e Musicamp. Foi jurada do Show de Calouros, marcou história na bancada do Aqui Agora e, nos anos 90, ainda apresentou Programa Livre, Fantasia e o programa que levou seu nome, Alô, Christina (lembrado até hoje, apesar da curta duração).

A ligação próxima com o SBT virou “caso de família” quando Christina se casou com Rubens Passaro, irmão de Iris Abravanel e cunhado de Silvio Santos. Apesar do casamento bem-sucedido, que lhe rendeu dois filhos, ter sido parente do “patrão” durante 12 anos prejudicou a apresentadora no ambiente de trabalho.

“As oportunidades para mim se tornaram muito mais difíceis. Como cunhada, nunca pedi nada para o Silvio, nem tocava no assunto, mas ficava travada ao gravar com ele porque me preocupava em não confundir as coisas. Depois da separação, é um tocando a bola para o outro. Ele sempre fala que sou a mesma Christina antes e depois do casamento. Silvio me conhece como a palma da mão. Profissionalmente, hoje me sinto muito mais à vontade gravando ele”, compara.

Silvio Santos e Christina Rocha ReproduçãoSBT

A longevidade de Christina no SBT só não foi maior porque, em 2000, após duas décadas, foi demitida. Durante sete anos, peregrinou por outros canais, como Gazeta, Record e Band, porém com as três letras da antiga casa tatuadas na testa: “Foi o maior trauma da minha vida. Na minha cabeça, eu não me via fora do SBT. Lembro até hoje que, depois da demissão, comprei um sundae gigantesco e fiquei olhando o pôr do sol me perguntando: ‘E agora, José?’. Foi um choque, nunca pensei que fossem me mandar embora”.

Por causa deste período longe do SBT, Christina fica atrás do próprio Silvio e de Luis Ricardo como artistas mais longevos da emissora. Em 2008, ela voltou para o relançamento do Aqui Agora, mas o sucesso do programa policial dos anos 90 não se repetiu. Na “geladeira”, viu Silvio Santos reformular o Casos de Família após a saída de Regina Volpato e participou dos testes para ser a nova apresentadora.

Com Christina, o Casos de Família assumiu de vez o formato “telebarraco” e se eternizou na cultura pop brasileira. A apresentadora passou a ignorar as críticas ao programa (como as denúncias de armação) e entrou de cabeça nos memes. O sucesso levou a apresentadora pela primeira vez aos Estúdios Globo, onde gravou o Que História É Essa, Porchat? para o canal pago GNT.

“Há muito tempo o Fábio Porchat tentava me levar para o programa. Eu o adoro, é um fofo. Caio Castro, aquele gato, me chamou de ‘ícone’! Virou cult gostar do Casos de Família”, analisa Christina, que nega ser “barraqueira” atrás das câmeras: “O pessoal pensa que sou brava, carrancuda. Pelo contrário, sou uma palhaça, mas tenho gênio forte. Se alguém me manda para aquele lugar, mando de volta. Nunca maltrato alguém, só me defendo”.

Christina Rocha superou o trauma da demissão e a relação fria com Silvio Santos em função do parentesco. Aos 64 anos e com quatro décadas no SBT, a apresentadora se orgulha do rótulo de “popular” e de ser o rosto feminino mais presente na emissora.

“Sempre fui a mesma Christina. Já passei meu WhatsApp para seguranças e câmeras do SBT. Eles gostam de mim, até me emociono. Eles dizem que sou especial. Por um ponto, tenho a mesma pureza de quando comecei, mas ao mesmo tempo consegui uma certa malandragem. Meu lema é fazer o meu e não especular ou me comparar aos outros. Agradeço todos os dias por estar empregada. Eu me sinto a ‘dona’ do SBT sem ser, e mais preparada psicologicamente se me mandarem embora outra vez”

Christina Rocha

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