Análise

Saída de Michelle Barros expõe portas fechadas da Globo a apresentadoras no jornalismo em SP

Emissora forma "panela masculina" e empurra mulheres para fora, como desabafou Veruska Donato à ex-colega

Publicado em 16/05/2022

Responda rápido: a Globo tem quantas mulheres titulares em seus telejornais de São Paulo? Nenhuma. A outra pergunta é mais difícil: quem foi a última apresentadora titular de um noticioso paulista? Carla Vilhena em 2013. Há quase dez anos, a sede da emissora na principal metrópole do país vem escanteando jornalistas promissoras para o comando de seus programas locais, o que explica a saída de Michelle Barros e o desabafo de Veruska Donato em apoio à ex-colega, na última quinta-feira (12).

“Amiga, a Globo é uma escola, mas ela nos empurra pra fora. Isso não é para você! Você merece mais , muito mais. A Globo perde”, aconselhou Veruska, que durante 21 anos na Globo esperou uma oportunidade como apresentadora, mas só conseguiu um quadro de empregos no Jornal Hoje. Sem espaço na TV e doente em razão da cobertura da pandemia, a jornalista preferiu realizar seu sonho fora do eixo Rio-São Paulo. Voltou à cidade natal, Campo Grande, onde é uma das principais estrelas da TV MS, afiliada da Record.

Michelle Barros deve seguir o mesmo caminho. Lançará em breve um podcast no Spotify e no YouTube, onde deverá misturar jornalismo e entretenimento, algo que apenas Fátima Bernardes pôde unir no canal durante uma década no Encontro. Longe dos holofotes, Michelle percebeu ser mais vantajoso buscar sua realização profissional em outro lugar do que aproveitar a visibilidade global ainda que infeliz no trabalho.

Apresentadora reserva da Globo em São Paulo, Michelle comandou praticamente todos os telejornais transmitidos da capital paulista. Entretanto, sobrou em todas as “danças das cadeiras”. Por exemplo, quando Roberto Kovalick foi promovido a titular do Hora 1, no lugar de Monalisa Perrone, e quando Cesar Tralli sucedeu Maria Júlia Coutinho no Jornal Hoje. Na última troca, José Roberto Burnier virou titular do SP2 após a aposentadoria de Carlos Tramontina.

Nos bastidores da Globo, ouve-se muito sobre má fama da diretora de jornalismo, Ana Escalada, citada por Michelle em seu textão de despedida. Para alguns colegas, a chefona do departamento simplesmente não gosta de mulheres comandando os telejornais da casa, por isso fecha tantas oportunidades às jornalistas.

Gloria Vanique, Carla Vilhena e Mariana Godoy são mais três exemplos de apresentadoras “empurradas para fora” pela Globo, como escreveu Veruska para Michelle. Com 13 anos de casa, Gloria nunca ocupou o posto de titular dos telejornais, apesar da experiência e de já ter substituído homens no rodízio de apresentadores. Em outubro de 2020, ao receber uma proposta tentadora da CNN Brasil para deixar as madrugadas e ter seu próprio programa, não pensou duas vezes e saiu da Globo logo após seu último Bom Dia SP ao lado de Rodrigo Bocardi.

O apresentador do noticioso matinal, sucedeu Carla Vilhena, rebaixada a repórter do Fantástico, enquanto Tralli reinou sozinho no SP1 após Mariana Godoy ser escanteada para o canal pago GloboNews. Ambas deixaram a Globo com sensação de alívio (Carla rumou para a CNN Brasil e Mariana para a RedeTV!).

Sabina Simonato, Cinthia Toledo, Luiza Vaz e Thaís Luquesi substituíram Gloria Vanique como parceiras de Bocardi no Bom Dia SP. Somente a primeira foi promovida a apresentadora, mas ainda no banco de reservas. A “panela masculina” comandada por uma mulher domina um time titular sem diversidade.

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