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Paula Barbosa detalha romance com Tadeu e defende Zefa em Pantanal: “Não é só fofoqueira”

Em entrevista à coluna, atriz apoia Maria Bruaca e revela "medo" de avô, Benedito Ruy Barbosa

Publicado em 09/07/2022

“Linguaruda”, “intrometida” ou “fofoqueira”, cada telespectador de Pantanal tem um apelido para Zefa, empregada da fazenda de Tenório (Murilo Benício). Nos últimos capítulos da novela das nove da Globo, ela vem soltando indiretas para Maria Bruaca (Isabel Teixeira) após flagrar a patroa na cama com o peão Alcides (Juliano Cazarré). Paula Barbosa, intérprete da personagem, assegura que seu coração é muito maior do que sua língua.

Em entrevista exclusiva à coluna, a atriz comenta a repercussão da novela e o empoderamento de Bruaca, além de antecipar o futuro de Zefa na trama. Nos próximos capítulos, ela irá se aproximar de vez de Tadeu (José Loreto), por quem mantinha uma admiração a distância em respeito à filha dos patrões e ex-namorada do peão, Guta (Julia Dalavia).

“Muitas pessoas veem a Zefa como uma simples fofoqueira. No caso da Guta e do Tadeu, ela se mete porque tem interesse pelo Tadeu, e vai muito além disso. É uma pessoa muito pura, que tem empatia e amor pelo próximo”, defende Paula Barbosa.

Neta de Benedito Ruy Barbosa, a atriz passou a infância ouvindo histórias sobre o Pantanal, mas visitou o local pela primeira vez somente durante as gravações da novela. Encantada pela paisagem, ela agora entende o que impressionou o avô e o inspirou a ambientar sua principal novela no bioma.

“Meu avô, no fundo, morria de medo de que a gente viesse para cá. Ele ficou super preocupado quando soube que eu vinha. ‘Mas vô, como assim?’, ‘É perigoso!’. E de fato é. Os animais são mais selvagens, livres e soltos, e é isso o que mais me encanta. Conheci o Pantanal pelos ‘causos’ dele, muito além das novelas, e vir para cá é a realização do sonho”, comemora.

Confira abaixo a íntegra da entrevista com Paula Barbosa, a Zefa de Pantanal:

Paula Barbosa, a Zefa de Pantanal
Paula Barbosa a Zefa de Pantanal

PAULO PACHECO: Você tem uma ligação familiar com Pantanal. Dentro de casa, cresceu sabendo do sucesso da novela? Imaginava que a Globo um dia iria fazer o remake?

PAULA BARBOSA: Tenho muita lembrança da minha família sempre toda junta na sala assistindo. Na época, eu não conseguia dimensionar a coisa do sucesso, era muito nova, mas anos depois, sempre que alguém sabia que eu era neta comentava de Pantanal. Quando decidi me tornar atriz e me formei, comecei a entender a importância do meu avô na TV brasileira. [A Globo] não queria fazer, meu avô pediu demissão e fez em outra emissora [Manchete]. Essa história ele fez questão de contar a vida inteira e levo como questão de vida. Hoje, posso entender o tamanho de Pantanal. Nunca imaginei que fossem refazer, para ser sincera. Às vezes, a gente pensa que as pessoas têm receio de refazer obras-primas e que uma novela de 30 anos hoje não faria sucesso. Os trabalhos do meu avô são atemporais, não só Pantanal, mas de fato não imaginava que seria feito. Foi uma surpresa boa.

PP: Qual o peso de atuar em uma trama tão importante para sua família? Você já trabalhou em outras novelas do seu avô (Paraíso e Meu Pedacinho de Chão), mas Pantanal traz uma responsabilidade maior?

PB: Não sei se maior, porque para mim todas as oportunidades eu tomo uma responsabilidade muito grande para a gente ir bem e o caminho continuar. Na primeira vez que tive a oportunidade de fazer um trabalho do meu avô, a minha responsabilidade era enorme, porque se eu não me saísse bem, com ele não seria nunca mais, entendeu? Quando a novela começou e a gente viu a dimensão que se tornou, o sucesso, os olhos voltados para isso, veio um peso. Não porque é Pantanal nem por ser da nove, mas pelo que se tornou e está se tornando no ar, e quando ganha essa dimensão a nossa responsabilidade aumenta junto. Para mim, é uma honra poder fazer, saber que meu avô também queria que eu fizesse parte, porque isso me deixa claro que estou no caminho certo. Ele sempre fez questão de deixar claro que dele as oportunidades viriam se eu de fato merecesse. Eu sou muito profissional, encaro qualquer trabalho, de família ou não, da mesma forma.

PP: Aliás, como soube que iria interpretar Zefa? Chegou a assistir à primeira versão ou preferiu se distanciar?

PB: Quando soube que a novela iria acontecer, meu avô de cara queria que eu fizesse, mas dependia de outras coisas, como a direção, o perfil da personagem, é um elenco considerado pequeno para uma novela das nove. Minha expectativa era grande, até que depois de um tempo de produção chegou a notícia de que eu seria a Zefa. Fiquei muito feliz, foi um baita presente e um baita desafio também, porque é desafiador refazer um sucesso, tem esse peso. Fui ao YouTube, assisti a tudo que tinha para assistir e depois zerei para começar a minha Zefa. Diferentemente da Giovanna [Gold, a Zefa de 1990], eu já tenho a trajetória toda da personagem, posso traçar a minha curva até o final, e para ela a personagem foi acontecendo aos poucos. Para mim é positivo, mas o que a gente menos quer é fazer cópia, não é o caminho, até porque estamos falando de Pantanal 30 anos depois, temos que reinventar para os dias de hoje.

PP: O sucesso do remake, de certa forma, te surpreende? Como tem reagido às mensagens dos fãs da novela e de Zefa?

PB: A surpresa, na verdade, não é só o sucesso, porque quando a gente começa um trabalho já tem a expectativa do sucesso e faz acreditando nele. Quando acontece, é a resposta de que estamos no caminho certo e a felicidade de fazer algo tão grande. Tenho amado as mensagens dos fãs. Ela começou aparecendo tão pouquinho e a galera já estava se divertindo. Ela é leveza, ela é autêntica, e acho que isso falta hoje em dia para algumas pessoas. Quando a gente vê isso, a gente torce: ‘Que legal, fala mesmo aquilo que ele merecia ouvir!’. Estou focando nisso, em fazer com verdade, não só a piadinha, a graça, e fica uma coisa gostosa de ver. Você acredita que aquela menina que trabalha lá, a empregada da casa, está falando um desaforo desse para o patrão! O pessoal tem gostado muito, estou adorando, e ainda há muita coisa por vir. Não acho que está ganho, espero que continue agradando.

PP: Zefa se “mete” na relação conturbada da família de Tenório. Acha que em briga de marido e mulher ela tem que meter a colher? Por quê?

PB: Há 30 anos, esse ditado ‘em briga de marido e mulher não se mete a colher’ era quase uma regra. Hoje não, pela violência que as mulheres sofrem nos casamentos, nas relações. A gente inclusive tem incentivado, como mulheres, que outras mulheres se ajudem, se metam sim, independentemente de qualquer coisa. Muitas vezes a mulher não consegue sair disso. A gente viu o sofrimento da Bruaca. É muito fácil, de fora, vir e falar: ‘Larga esse cara!’. A gente sabe que não é assim. Hoje, é trazer essa outra mensagem, com a mesma personagem e a mesma história. Metam a colher, sim. Se puderem ajudar em uma situação dessas, ajude. É mais uma coisa que eu trago na cabeça. Ela não está simplesmente fazendo uma fofoca, simplesmente se metendo. Ela está se colocando e tentando de alguma forma ajudar, do jeito dela, com a simplicidade dela, mas de certa forma é se meter para ajudar, porque ela acha um absurdo, e acho que se colocar em algumas situações é importante. Muita gente também precisa desse apoio e a Zefa traz isso também.

PP: Nesta versão, a trama de Tenório e Maria Bruaca ganhou mais destaque por causa da discussão sobre o machismo. O que acha da libertação de Bruaca?

PB: Eu tinha certeza de que a Bruaca teria muita torcida. É um assunto que tem que ser falado e mostrado cada vez mais, o tempo todo, e acho importante a Bruaca não simplesmente sair disso, dar a volta por cima, mas, como a gente está vendo, ela vai e volta, ela oscila, porque isso faz parte. Até ela se entender, se conhecer e realizar o que foi aquela situação, até ela se enxergar leva um tempo, porque as pessoas que passam por isso não têm que se culpar, não tem que desanimar, se você deu um passo para trás, se você não teve força, faz parte do processo. É extremamente importante a gente abordar esse assunto, até porque há 30 anos tinha muita coisa que era engraçadinha, divertida, a gente dava risada. Hoje já é visto com outros olhos, principalmente pela nova geração que está acompanhando e está na torcida das mulheres. Não só elas, há muitos homens incríveis que torcem e acompanham, de algum jeito se identificam com aquilo. Essa volta por cima da Bruaca já está tendo oscilações, e isso é muito real, faz parte e todo mundo precisa ver.

PP: Zefa teve atritos com Guta e agora vai se aproximar do ex dela, Tadeu. Qual final você gostaria para sua personagem? Com Tadeu, com outro peão ou sozinha e feliz?

PB: O atrito dela com a Guta é muito pelo interesse pelo Tadeu, mas vocês vão poder ver também que é por um cuidado com a Guta. Ela tem uma cena em que admite para Guta: ‘Eu fiz isso sim porque eu gosto dele, mas também fiz porque me preocupo com você’. Porque a Zefa sabe que a Guta não é apaixonada por aquele cara, se os dois se casarem não vai estragar só a vida do Tadeu, vai estragar a vida dela. É isso que a Zefa, da maneira simples dela, fala. Acho isso muito legal, porque muitas pessoas veem a Zefa como uma simples fofoqueira que se mete ali. No caso da Guta e do Tadeu, ela se mete porque tem interesse pelo Tadeu, e vai muito além disso. É uma pessoa muito pura, que tem empatia e amor pelo próximo, independentemente se o Tadeu vai ficar com ela ou não, porque no fundo, para ela, Tadeu, o maior peão do pedaço, nunca olharia para ela. No fundo, ela se mete sem imaginar que poderia de fato acontecer algo entre ela e o Tadeu. É legal vê-la perdida, ‘meu Deus do céu, o que eu faço agora?’, e se perder nas crenças dela, como não transar antes do casamento. Vai muito além da fofoca, da intriga, de acabar com o relacionamento dos dois. Isso dá mais força para a Zefa, e acho que as pessoas vão acabar gostando mais dela. Eu torço para ela ficar com o Tadeu sim, porque ela o ama e eles vão descobrindo esse amor aos poucos, vão se identificando, vão vendo o quanto eles têm em comum. No começo é só uma admiração e depois o amor acontece entre os dois. Quando a coisa é verdadeira, a gente torce, e eu torço muito para que ela fique com o Tadeu e feliz.

PP: Voltando à sua família, qual a sua relação com o bioma Pantanal? Já tinha viajado para a região? Como está sendo a experiência?

PB: Tudo que eu conhecia do Pantanal era pelas histórias do meu avô. Ele contava para a gente, para os netos, depois do almoço, todos os netos pequenos em volta dele, sempre contava sobre a sucuri, as piranhas, a onça-pintada, mas eu não conhecia de fato, até porque meu avô, no fundo, morria de medo de que a gente viesse para cá. Ele ficou super preocupado quando soube que eu vinha. ‘Mas vô, como assim?’, ‘É perigoso!’. E de fato é, a gente da cidade chega a um lugar desse, está andando por esse mato todo e esquece que pode brotar uma cobra a qualquer momento. Os animais são mais selvagens, livres e soltos, e é isso o que mais me encanta. Ver os animais o tempo todo aparecendo, várias espécies de pássaros, meu avô vivia falando dos tuiuius. Conheci o Pantanal pelos ‘causos’ dele, muito além das novelas, e vir para cá é a realização do sonho. Eu já tive vontade de vir ao Pantanal, mas tenho um filho pequeno, de cinco anos, então fui adiando. Vir nessa oportunidade é ainda mais especial. Tenho curtido cada momento, aprendendo muito, aprendi a estar comigo, aprendi a viver no silêncio, sentir o silêncio, sem aquele desespero de quem vive na cidade, aquela correria. Está sendo muito especial e transformador, com toda a certeza.

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