Análise

Leifert que “paga o salário” de Ícaro Silva é o mesmo que defendeu Paula, não o que ensinou racismo a Rodolffo

Ator criticou BBB e incomodou ex-apresentador do reality show da Globo

Publicado em 22/12/2021

Na noite de 6 de abril de 2021, Tiago Leifert ensinou a Rodolffo o que é racismo. Antes de anunciar a eliminação do cantor no BBB21, o apresentador explicou com didatismo e muita paciência por que ridicularizar um black power, como fez o sertanejo ao comparar uma peruca suja ao cabelo de João Luiz Pedrosa, era um ato racista.

“Quando a gente faz um comentário sobre o cabelo do João, a gente não tá falando de penteado que é o que você achou que você tava fazendo. Como você encararia, e eu como homem branco por muitos anos encarei. Você tá falando de um símbolo. Você tá falando do que o João é, do que o João sente, do que o João viveu na pele dele, da história do João, da ancestralidade do João. Tem muito ali. ‘O black é a coroa’. E isso não sou eu que tô falando. Quem me ensinou isso é um cara que eu tenho um amor profundo […] O nome dele é Alexandre Santana, mas vocês devem conhecer pelo apelido, um apelido racista. Babu, que vem de babuíno, vem de macaco. Mas o Babu pegou o apelido… Na primeira vez que chamaram de babuíno, ele quebrou a cara de todo mundo na porrada… Mas depois ele falou: ‘Quer saber, eu vou usar o Babu também como símbolo de resistência. Eu vou usar meu nome artístico Babu’. Ele nos deu uma aula ano passado sobre o que é o black power, sobre abrir o black, como o black é a coroa”, disse Leifert.

Rodolffo, até hoje, não provou ter aprendido a lição ao vivo e insiste na defesa de que não foi preconceituoso (lembrando que a intenção aqui não é forçá-lo a se entregar à polícia, mas assumir, se desculpar e estar disposto a aprender com o erro).

Corta para a última terça-feira (21), Leifert, já fora da Globo, reage duramente à crítica de Ícaro Silva, especulado no BBB22 a um mês da estreia, que chamou o reality de “entretenimento medíocre”. O apresentador sentiu necessidade de defender o programa que viveu (não só comandou) durante cinco temporadas.

“Sua opinião sobre realities não é uma crítica construtiva e, sim, apenas uma agressão gratuita a quem nunca te fez mal (aliás, não só não te fizemos mal como provavelmente pagamos o seu salário nessa última ‘aê’!)”, escreveu o ex-titular do BBB.

Este trecho da resposta é o mais controverso e o que gerou mais reações negativas de ativistas da causa racial. É fato que nenhum outro programa da Globo fatura mais do que o BBB. A edição de 2021 foi a mais rentável da história (R$ 550 milhões). Este dinheiro, oriundo de cotas de patrocínio e comerciais, sustentou boa parte da emissora e de seus funcionários durante a crise agravada pela pandemia de coronavírus.

Por outro lado, tão “desrespeitoso” quanto o posicionamento de Ícaro sobre o BBB (na avaliação de Tiago) é o argumento de que o ator não pode achar ruim um programa de TV porque “paga o salário dele”, ignorando completamente a força de trabalho do ator. O que Leifert cometeu está claríssimo, segundo ativistas negros.

Para Leifert, Ícaro não pode achar “Boster” um programa que, nos últimos anos, se “especializou” em “cancelar” negros. Lumena, Karol Conká e Projota, na última temporada; e praticamente todos os pretos do BBB19: Gabriela, Danrley, Elena, Rízia e Rodrigo (este virou chacota da edição, que expôs todos os seus bocejos e deu ao dramaturgo a fama de “negro preguiçoso”).

Para Leifert, Ícaro Silva não pode achar “Boster” um programa que, em 2019, premiou uma participante que passou todo o confinamento provocando competidores negros com falas racistas contra o cabelo, a pele e religiões de matriz africana. “Venceu o BBB quem teve a audácia de ser imperfeita e teve a ousadia de ser real”, elogiou o apresentador.

Ícaro Silva está longe de ser “intocável” ou “metido” por não gostar do BBB. O desgosto dele não é por um produto de apelo popular. Se fosse por isso, ele não teria atuado em novelas “farofas” (apelido para tramas sem profundidade) nem aceitado o convite para o Show dos Famosos, do qual sagrou-se campeão em 2017.

Tiago Leifert, em contrapartida, vem mostrando que está mais distante daquele que aprendeu com Babu Santana a respeitar um black power e mais próximo daquele que elogiou “a ousadia de ser real” de uma sister racista.

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