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Gorete Milagres revela bastidores de trabalho inédito com Eva Wilma: “Pode ser meu último filme”

Atriz relembra parceria com diva da televisão, vítima de câncer há um mês

Publicado em 15/06/2021

Há um mês, o Brasil se despedia de Eva Wilma, vítima de câncer no ovário aos 87 anos. A diva da televisão e dos palcos deixou um trabalho inédito: protagonizou o filme As Aparecidas, rodado em 2019. No longa-metragem, contracenou com Norma Blum, Neusa Borges, Karin Rodrigues, Miriam Mehler e Gorete Milagres, que relata à coluna os bastidores de sua convivência com a atriz.

Na trama, a personagem de Gorete, Rosicledes, cuida de Otília (Eva Wilma), que decide peregrinar até Aparecida (interior de São Paulo) com as amigas de infância. A história aproximou as duas atrizes, e Gorete se tornou “fiel escudeira” de Eva também fora das filmagens.

“O filme foi rodado praticamente dentro de um ônibus antigo, havia todas as dificuldades para as senhoras, e elas tiraram de letra. Ninguém percebia que Eva estava cansada. Eu sabia porque estava do lado dela, ela falava que o joelho estava difícil, mas em cena era uma aula. Fizemos cenas lindas. Apesar de a minha personagem ser pequena, estava sempre presente com ela. Ela estava com o joelho bem ‘dançado’, difícil de ficar em pé. Eu a segurava, dava o braço na hora em que acabava a cena, puxava a cadeira. Fui companheira dela o momento inteiro”, recorda Gorete.

O último contato pessoal com Eva remeteu Gorete ao primeiro encontro com a futura colega, em 2006, durante o Festival do Recife. No evento, ela ofereceu ajuda à veterana e conquistou para sempre sua simpatia. A atriz lembra com carinho os presentes que recebeu de Eva Wilma após conhecê-la na premiação.

“Eu era fã dela desde pequena, porque assistia a todas as novelas. Eu a encontrei no festival do Recife, onde até ganhei o prêmio de melhor atriz pelo filme Tapete Vermelho. Eu a vi saindo e subindo uma escada íngreme sozinha, e ninguém da produção viu. Quando vi aquilo, instintivamente saí correndo e fui dar a mão para ela subir aquela escada toda. Ela falou que não se sentia bem e queria ir embora para casa. Falei que fazia questão de acompanhá-la até o hotel. Ela pediu meu endereço para a produção e, quando cheguei em casa, havia presentes para mim e para minhas filhas, com um bilhete. Que mulher elegante, que mulher incrível!”, conta.

Sucesso como Filomena (do bordão “Ô, Coitado!”), Gorete quase não aceitou o convite do amigo, o cineasta Ivan Feijó, para trabalhar com ele em As Aparecidas. Embora reconheça a importância do diretor em sua carreira (foi o primeiro a aprová-la em um teste como Filó, há 30 anos, e sugeriu o nome artístico Gorete Milagres), ela temia repetir o papel de empregada doméstica para o qual sempre foi escalada. Um encontro inesperado com Eva Wilma a fez mudar de ideia.

“Ivan pediu para marcarmos uma leitura de texto para eu definir se faria ou não o filme. Dias antes, encontrei a Eva em um teatro, e ela disse: ‘Eu li que você vai fazer As Aparecidas!’. Perguntei: ‘Você vai fazer?’. E ela: ‘Eu vou fazer, porque o Ivan estava falando que estava fechando com outra atriz, mas estava em dúvida, e meses depois te encontrou’. Pensei: ‘Nossa, não posso perder a oportunidade de fazer um filme com a Eva Wilma'”, relembra a intérprete de Filó.

Em quase dois meses de convivência no set de filmagem, Gorete e Eva estreitaram seus laços afetivos e mantiveram a amizade após rodar o longa. Mesmo distante, a diva dos palcos apoiava a colega de cena: “Estava em Jericoacoara (CE) e ela me ligou. Ficamos mais de uma hora no telefone, falei dos meus projetos e ela me incentivava: ‘Isso, faça isso mesmo, porque nem todos os artistas têm essa oportunidade’. Era uma pessoa com quem tinha muito carinho”.

Gorete sentiu a morte de Eva como a perda de alguém da família. Ela ficou aliviada ao saber que a atriz assistiu ao primeiro corte filme dias antes de morrer. Na cama da UTI, a veterana gravou áudios como Otília para complementar cenas inacabadas da produção.

“Ela gravou o áudio, quis ficar com o roteiro lendo as cenas que não tinha gravado. Quando o filho avisou ao Ivan que o estado de saúde estava difícil, ele fez um corte seco, uma edição, botou uma trilha provisória e no Dia das Mães levou o computador para ela assistir ao filme”, afirma Gorete, que se inspirou na vitalidade de Eva e emendou outros trabalhos até a pandemia de coronavírus.

“Nos últimos anos, Eva trabalhou pouco, por causa da idade. Ela falava: ‘Esse filme é de muita importância para minha vida e minha carreira. Pode ser o último filme’. E eu falava: ‘Não, Eva, virão outros. Você vai fazer muitos filmes ainda’. Foi um filme lindo, em que ela foi a protagonista, naquela idade, com aquele vigor aos 86 anos, que quando você assistir vai falar: ‘Que mulher maravilhosa!’. Foi mágico, um aprendizado”, diz, emocionada.

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