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Fred Nicácio responde com maestria sobre pódio preto no BBB 23: “Não existe racismo reverso”

Protagonista desta temporada, médico ensina antirracismo e pacto da branquitude no Mais Você

Publicado em 12/04/2023

Em discurso vergonhoso para Fred Nicácio, Tadeu Schmidt sugeriu que a final com três participantes negros proposta pelo médico pode ter motivado por sua eliminação do BBB 23: “Até um pódio que você escolhe pode ser mal compreendido”. O inédito pódio preto como reparação histórica gerou uma onda extremista contra o brother, com acusações de “racismo reverso”, que não existe, e comparações criminosas com o ditador nazista Adolf Hitler, mentor do Holocausto.

Fred Nicácio rebateu com classe e maestria naturais de seu comportamento a interpretação distorcida de sua defesa aos brothers e sisters negros da atual temporada. No Mais Você desta quarta-feira (12), o médico assistiu a uma fala de Ricardo discordando do pódio preto justificando ser uma “opressão” baseada na cor, outra forma de dizer “racismo reverso”. Este conceito não existe porque brancos não foram nem são oprimidos por negros. Pelo contrário, foram os brancos que escravizaram os ancestrais de 56% da população brasileira. Desta opressão, surgiu a desigualdade social, o racismo e outras chagas da nossa sociedade.

A coluna prefere deixar que Fred Nicácio responda. Abaixo, a íntegra do discurso antirracista do protagonista do BBB 23:

“Nem todo mundo que tem lugar de fala sabe o que está falando. O Ricardo é um homem preto pouco letrado racialmente. Ele já declarou isso para mim, falou que tem muito a aprender, gostaria de aprender mais. Isso também não é culpa dele. É culpa de um sistema que impede que informações cheguem a pessoas como ele, que façam com que pessoas pretas tenham noção, ideia e letramento racial.

Quando ele estiver aqui fora, se quiser conversar sobre isso, ele vai entender melhor que não existe racismo reverso. Não existe. Racismo reverso não acontece porque não existe uma maioria preta que possa oprimir uma minoria branca. Nós somos maioria populacional. Segundo o IBGE, 56% da população brasileira é formada por pessoas pretas, mas somos minorias representadas.

Onde estão os juízes que julgam casos de racismo? Onde estão os médicos como eu? Você, por quantos médicos pretos já foi atendida na sua vida? Onde estão os políticos pretos? Onde estão os CEOs de grandes empresas pretos? Onde estão os diretores de TV pretos? Onde estão? Cadê? Se nós somos 56% dessa população, cadê essa galera?

Enquanto tivermos pessoas brancas pensando e julgando por pessoas pretas, nós vamos ter esse tipo de pensamento, inclusive reproduzido por pessoas pretas, porque esse letramento racial não chegou até elas. Isso é danoso e também é fruto do racismo, é resultado do que o sistema chamado branquitude quer. Quer que pessoas pretas não entendam a importância de ter uma reparação histórica.

Nunca em 23 edições tivemos um pódio todo preto. Nunca um homem preto ganhou uma edição do BBB. Jamais! Por que isso não pode acontecer? Quando eu proponho isso, proponho sim que seria incrível ver um BBB só de pessoas pretas. É incomum, e as pessoas se assustam com isso e não querem entender porque não querem aceitar, porque isso é perda de privilégio. Tudo que mexe com a perda de privilégio dessa branquitude incomoda.

Por que tem que ser apenas pretos? Por que não pode ser? Quantas vezes já foi somente branco? Quantos pódios foram apenas de brancos? Quantos top 5? E aí quando fala de top 5, top 7 somente de pretos isso assusta? Por quê? Porque tira privilégios de quem está acostumado a ter, garantia desse poder, dessa perpetuação. E eu não estou aqui para garantir privilégio de branquitude nenhum. Estou aqui para tirar esses privilégios e trazer uma paridade racial. Essa é uma das minhas missões nesse programa e é uma das minhas missões de vida.”

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