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Fora da TV há dois anos, Chaves ganha “episódio inédito” em circo e surpreende elenco: “Crianças conhecem”

Coluna entrevista atores e direção do espetáculo Chaves – uma aventura no circo, em cartaz em São Paulo

Publicado em 31/07/2022

Há exatos dois anos, Chaves se despedia à força da TV. A briga que paralisou a exibição em todo o mundo, entre os herdeiros de Roberto Gómez Bolaños (criador do humorístico) e a rede Televisa (produtora e exportadora dos episódios) coloca em risco o futuro da série, que pode perder a primeira geração de telespectadores em cinco décadas. No Brasil, a comédia mexicana ganha sobrevida em um espetáculo inédito, ambientado em um circo, com forte presença de crianças na plateia.

A coluna acompanhou uma sessão de Chaves – uma aventura no circo, em cartaz desde 30 de junho no estacionamento do Mooca Plaza Shopping (zona leste de São Paulo). Em uma estrutura de 3.500 metros quadrados e com mesma equipe do premiado Chaves – Um Tributo Musical (vencedor de cinco Prêmios Bibi Ferreira, o mais importante do teatro brasileiro), o espetáculo tem duas missões. A primeira, levar trapezistas, contorcionistas e outros personagens circenses ao pátio da vila.

Embora não pareça, Chaves e circo são muito próximos. O cenário da vizinhança não deixa de ser um “picadeiro” onde os personagens praticam suas “palhaçadas”. Roberto Gómez Bolaños já homenageou a arte em seus programas e com a música Los Payasos (traduzida no Brasil para Amigos Palhaços). Atores do humorístico viajaram com seus circos pela América Latina (como Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, e Rubén Aguirre, o Professor Girafales, que percorreu cidades brasileiras).

A mistura dá certo. Com elementos do musical e atrações circenses, a equipe liderada pelos diretores Zé Henrique de Paula e Fernanda Maia criou um “episódio inédito” de Chaves, chancelado pelo Grupo Chespirito (administrador do legado de Bolaños). Na história, uma fã da série mexicana (Sofie Orleans) realiza o sonho de conhecer a vizinhança e, com sua imaginação (à moda Alice no País das Maravilhas), faz surgir no palco números diversos de circo com a participação dos moradores da vila, prendendo a atenção do público. A peça conta ainda com referências clássicas, como o hotel de Acapulco, e cenas inusitadas e jamais vistas na TV, como o encontro de Seu Madruga (Rodrigo Caetano) e Jaiminho, o Carteiro (Lucas Godoy), e uma luta hilária do pai de Chiquinha (Giovana Souza) com Chapolin Colorado (Luiz Rodrigues).

Seu Madruga e Chapolin duelam em Chaves – uma aventura no circo
Seu Madruga e Chapolin duelam em Chaves uma aventura no circo

“Fiquei [com medo]. Sempre rola um grande desejo de fazer tudo. Eu, por exemplo, olho para essas coisas todas que eles fazem, gosto principalmente das acrobacias e dos voos, e falo ‘Caramba, quero muito aprender!’, mas a primeira vez subindo no trapézio e aquilo levanta de verdade, nossa, é uma adrenalina muito legal!”, conta à coluna Luiz Rodrigues, intérprete de Chaves e Chapolin.

“Eu sou muito medrosa! Nas duas cenas em que estou mais envolvida com os números eu tenho medo real! Principalmente o tramp wall (trampolim com cama elástica), morro de medo! Toda vez é medo real, desespero! ‘Eu vou voar, eu vou embora para o meio da plateia!’. Toda vez é medo de verdade, mas é isso, tenho medo de sair do chão. Não tinha percebido isso até a gente começar a fazer. Achava assim: ‘Vou pular nessa cama elástica e vou arrasar!’. Na hora que subi, falei: ‘Não quero!’. Eu faço, mas saio com o coração na boca!”, admite Giovana Souza, a Chiquinha.

“Houve uma interação tão legal com o pessoal do circo, um entrosamento de entender onde iria encaixar, que a gente sentiu segurança desde o começo. Nunca voei, nunca tinha feito uma báscula (gangorra), mas eles nos deixaram muito seguros de fazer. Não há medo. É divertido, é gostoso fazer. Houve uma entrega legal dos dois lados”, elogia Vivi Bertocco, a Bruxa do 71… digo, Dona Clotilde.

“Dentro do roteiro, precisávamos fazer a bruxa voar, e surgiu a ideia de ser junto com número do trapézio, mantendo sempre a segurança da atriz. Foi muito satisfatório juntar os dois universos. Conseguimos criar um novo episódio do Chaves, como se o circo estivesse visitando, passando perto da vila, e os artistas ali interagindo. A ideia do sonho e das coisas que acontecem nesses lugares mágicos e incríveis nos possibilitou unir esses dois mundos”, explica Marcelo Marinho, diretor circense do espetáculo.

Em Chaves – uma aventura no circo, Chaves recria cena icônica de Acapulco; à direita, Bruxa do 71 "voa" em trapézio
Em Chaves uma aventura no circo Chaves recria cena icônica de Acapulco à direita Bruxa do 71 voa em trapézio

Circo do Chaves encanta crianças e até quem nunca viu a série

A coluna já explicou a primeira das duas missões de Chaves – uma aventura no circo. Falta a segunda, e esta só pôde ser cumprida na estreia e comprovada a cada nova sessão do espetáculo: provar que a série mexicana ainda tem um público fiel e apaixonado no Brasil. Os espectadores da peça, principalmente as crianças, provaram que Chaves, mesmo após dois anos sem exibições na TV, ainda vive.

Na apresentação de domingo à qual a coluna assistiu, meninos e meninas apareceram fantasiados de Chaves, Chiquinha, Quico e até Chapolin. Foram acompanhados de pais, tios, avós ou responsáveis maiores de idade que cresceram “atentos olhando para a TV”, como diz a famosa abertura brasileira. Adultos e crianças compartilharam, durante as duas horas de show, a mesma admiração construída durante quase 36 anos, por meio de reprises ininterruptas do SBT e na TV paga.

“Assisto pelo menos a um episódio antes de começar a sessão do dia, até para descobrir coisas novas, saber o que mais esse personagem me permite, é maravilhoso. Para mim, foi uma grande surpresa. Eu tinha uma memória de infância, sabia o que havia sido o musical, mas só tive ideia do que o Bolaños construiu, o tamanho e a contemporaneidade dessa obra, quando abrimos o espetáculo pela primeira vez e vimos uma plateia que reage a tudo, que ri, se emociona, chora, ovaciona, aplaude o cenário! A gente se emociona vendo muitos pais e avós emocionados de reviver isso, mas o quanto isso ainda toca as crianças e o quanto é um tipo de comédia que, além da piada de bater, do humor físico, retrata uma sociedade que ainda está aí, de pessoas e humanos que ainda fazem parte da nossa vida, da nossa vivência, da nossa sociedade”, analisa Luiz Rodrigues.

“É muito gratificante, um legado que vai ficar mesmo. Eu tenho 38 anos. Na minha época, Chaves não era atual, tinha sido gravado havia um tempo, e eu já gostava, e hoje você vê, mais de 30 anos depois, as crianças gostam. O mundo não está perdido, ainda gostam desse humor ingênuo, é muito gostoso”, comemora Annelis Roberta Kores, artista circense de duo faixa.

“A gente ainda questiona, como em qualquer trabalho, o que as pessoas vão achar e o que elas estão esperando. Ficamos um pouco tensos. Seguimos sabendo que é um sucesso estrondoso, sabendo que as pessoas têm saudade e acessam uma memória emotiva, muito latente em todo mundo que precisa ser manifestada de alguma forma. Mesmo assim, na hora que as pessoas veem a vila, a luz acende e elas começam a gritar, a gente arrepia inteiro e pensa: ‘Cara, olha esse negócio funcionando de novo!’. A aparição do Chapolin ou a própria participação do Jaiminho é uma catarse. Para mim, ainda é algo como ‘Caraca, eles estão histéricos sempre! Eles realmente estão sonhando em ver essa vila na frente deles!’. Isso é muito legal”, vibra Gabriel Malo, diretor residente.

Número de contorcionismo de Chaves – uma aventura no circo
Número de contorcionismo de Chaves uma aventura no circo

A euforia com o retorno de Chaves, ainda que somente no circo, também impressionou parte do elenco que nunca assistiu à série. Renan Souza, o Quico, e Sofie Orleans, a fã, só tiveram acesso aos episódios durante a preparação para o espetáculo e precisaram recorrer à informalidade para conhecer a obra de Chespirito (nome artístico de Bolaños), já que os programas também são bloqueados na internet.

“Eu não assistia a Chaves quando criança porque meus pais não deixavam! Tenho referência de um ou dois episódios que vi antes de conhecer o musical. Para mim, todos são inéditos. Só fui ver agora e me apaixonei, é muito divertido, muito mágico também. A equipe e a direção me ajudaram. Em uma das primeiras vezes que improvisamos, o Zé Henrique de Paula perguntou qual era a maior dificuldade que cada um de nós temos. A minha era fazer a bochecha. Não sabia fazer e fui aprendendo. Hoje, já encontrei um lugar em que consigo fazer. É difícil (risos), parece que não mas é muito”, afirma Renan Souza.

“Nunca tinha assistido! Não sei, acho que foi o jeito como fui criada, não assistia muita televisão. É muito interessante ver como isso ainda está vivo mesmo nas gerações mais novas. Eu tinha a impressão de que hoje em dia as crianças nem sabiam quem era Chaves. Ainda é uma febre. As crianças vêm fantasiadas, as famílias também, as pessoas se emocionam, talvez pela memória afetiva de infância. Eu tinha medo de as pessoas ficarem irritadas comigo, porque a peça começa só comigo, não tem vila. ‘Ai, gente, vão me odiar, eles só querem ver Chaves e tem essa menina, alguém manda ela embora!’. No final, muita gente vem falar comigo, é muito legal, porque acho que as pessoas acabam se enxergando nela. Eu sou uma pessoa da plateia, um fã que vai parar no mundo do Chaves. Já teve gente que me falou: ‘Você realizou o nosso sonho por nós'”, declara Sofie Orleans.

“A gente se emociona com o público. Ficamos no meio da plateia e vemos as pessoas rindo, daqui a pouco choram. A gente sente e percebe que é porque Chaves é algo nostálgico, pelo qual elas têm muito carinho. Ela sente falta, e o Chaves estava sem produto para consumir na televisão, na mídia, está fora do ar. O circo trouxe de volta esse produto e a pessoa pode consumir ali”, conclui Marcelo Marinho, diretor circense.

Elenco de Chaves – uma aventura no circo
Elenco de Chaves uma aventura no circo

SERVIÇO
CHAVES – UMA AVENTURA NO CIRCO
Apresentado por Ministério do Turismo e Santander Seguros e Previdência
Local: Estacionamento Mooca Plaza Shopping
R. Cap. Pacheco e Chaves, 313 – Vila Prudente, São Paulo – SP, 03126-000
Classificação Etária: Livre
Capacidade: 1200 lugares
Duração: 2h no total (com intervalo de 20 minutos)
Estacionamento no local
Sessões:
Quinta-feira: 20h
Sexta-feira: 20h
Sábado: 15h, 17h30, 20h30
Domingo: 15h, 18h
Valores: de R$ 25 a R$ 140 (obs.: Confira legislação para meia-entrada)
Ingressos disponíveis pelo link: https://www.ticketson.com.br/circo-do-chaves (compra com isenção da taxa de conveniência)

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