"Temos que pagar!"

Dubladores de Pokémon se rebelam e deixam série por falta de pagamento

Em abaixo-assinado, fãs do anime exigem troca imediata de estúdio

Publicado em 06/07/2021

A nova temporada de Pokémon, um dos animes mais populares do mundo, enfrenta uma crise no Brasil. Dubladores da fase atual, Jornadas, reclamam dos atrasos no pagamento do estúdio carioca Double Sound, responsável pela série, e parte do elenco já deixou os trabalhos enquanto a empresa não normalizar a questão financeira. Preocupados, fãs criaram uma petição exigindo a troca imediata da dubladora.

Exibida pelo canal pago Cartoon Network, Pokémon: Jornadas entrou para o catálogo da Netflix em junho e já aparece entre as dez produções mais vistas da plataforma de streaming. A dublagem, iniciada entre o fim de 2010 e o início de 2020, parou em função da pandemia de coronavírus e retomou gradativamente, com cada ator gravando as vozes na própria casa.

A coluna apurou que a Double Sound chegou a dever quatro meses de pagamento, incomodando os dubladores que trabalham como autônomos, sem vínculo empregatício, e recebem por trechos de 20 segundos do material (os chamados “loops” ou “anéis”).

Três atores deixaram Pokémon: Jornadas em decorrência dos vencimentos atrasados: Clécio Souto (voz do Capitão América na franquia Vingadores), intérprete de Leon; Luisa Palomanes (a Hermione da saga Harry Potter), voz da enfermeira Joy; e Renan Freitas (Creed, pupilo de Rocky Balboa, e Jon Snow de Game of Thrones), dublador de Roy.

Como os personagens não apareceram na série após a saída dos dubladores, a permanência deles nos próximos episódios depende da negociação com a empresa. A direção de dublagem também foi alterada pela mesma questão financeira: Renan Vidal foi substituído por Karina Fonseca.

O anúncio da Double Sound como responsável por Pokémon (a temporada anterior foi dublada na MGE Studios, também no Rio de Janeiro) gerou uma rebelião de profissionais que já sofreram calotes da empresa, antes mesmo do início dos trabalhos. Charles Emmanuel (Ash, protagonista da série), Angélica Borges (Delia Ketchum), Mariana Torres (oficial Jenny), Flávia Saddy (Jessie), Thiago Fagundes (James), Sérgio Stern (Meowth), Marcos Souza (Kiawe), Alexandre Drummond (Gladio) e Guilherme Briggs (Mewtwo) se recusaram a continuar na animação japonesa e tiveram suas vozes trocadas.

Procurados pela coluna, dubladores remanescentes de Pokémon confirmam o calote da Double Sound e desabafam sobre as dificuldades financeiras decorrentes da pandemia de coronavírus.

“Minha situação foi resolvida. Eu só não quero mais esse estresse. Toda vez é isso, como muitos profissionais que optaram por não trabalhar mais nessa casa. Não tenho nada contra o estúdio e as pessoas de lá. Não é nada pessoal, mas para mim e para muitos colegas não dá mais. É uma questão de valorizar mais o nosso trabalho em respeito à nossa profissão”, confidenciou um dublador, que pediu para não ser identificado.

“O estúdio deixou claro para mim que os pagamentos ficariam atrasados. Ainda estamos fazendo. Tudo que foi combinado comigo foi feito, de que haveria uma demora, por várias questões, e que seria pago. Recebi pelo trabalho e continuo recebendo. Topei essa proposta, para mim não houve problema, mas comigo houve atraso e foi pago normalmente”, relatou outro integrante do elenco, também sob condição de anonimato.

“Fiquei quase quatro meses [sem receber]. A situação da empresa está assim há bastante tempo. A empresa já foi importante, dublou filmes da Disney. É uma tristeza por ser uma série desse tamanho. É o nosso direito receber em dia. Estão em dia comigo, mas são muito enrolados. Não tem como a gente trabalhar assim. Meu desejo, de verdade, é que o estúdio fosse trocado, porque não acredito que vão se organizar, infelizmente. Eu assinei a petição”, criticou mais um ator em sigilo.

O abaixo-assinado mencionado pelo dublador foi criado por fãs e lançado na internet. Eles pedem a troca imediata de estúdio, além da manutenção do elenco e de Renan Vidal como diretor de dublagem. Esta é a segunda grande alteração na versão brasileira de Pokémon. A primeira ocorreu em 2016, quando migrou de São Paulo, onde estava havia 17 anos, para o Rio de Janeiro, após a saída de Fábio Lucindo (voz do protagonista, Ash) em função de sua mudança para Portugal.

“Mais vergonhoso é esse tipo de situação ocorrer justamente no ano da comemoração dos seus 25 anos e durante uma série que se propõe a resgatar personagens antigos, mas que serão re-escalados por dubladores que topem trabalhar em um estúdio sem saber quando ou se serão pagos por seus serviços. Basta! Esse movimento é um apelo: #MudaPokemon. Nos dirigimos tanto à Iyuno-SDI Group, grupo de mídia responsável por gerenciar a série na América Latina, como também à própria The Pokémon Company International. Nós queremos respeito aos nossos profissionais de dublagem, que dão o seu melhor para garantir um entretenimento de qualidade e com paixão. Desse modo, nós, fãs, também seremos respeitados”, diz a petição.

A Double Sound não atendeu aos telefonemas da coluna até a conclusão desta reportagem, que será atualizada assim que a empresa se manifestar sobre a crise na dublagem de Pokémon: Jornadas.

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