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Destaque da Band no Brasileirão Feminino, Alline Calandrini também quer comentar futebol masculino

À coluna, ex-jogadora admite ter perdido amizades por comentários na TV

Publicado em 12/09/2021

A decisão do Campeonato Brasileiro Feminino de futebol, neste domingo (12), é considerada a mais equilibrada de todos os tempos, pela rivalidade entre Palmeiras e Corinthians e pelo nível das equipes, com jogadoras de seleção. Um dos destaques da competição também fez história com a camisa verde e amarela, porém atua fora de campo. Aline Calandrini, ex-zagueira, trocou as chuteiras pelo microfone e tornou-se uma das principais comentaristas da modalidade esportiva na Band.

A experiência, obtida com muito trabalho e algumas broncas no ponto eletrônico, a credencia a comentar também partidas de futebol masculino, um desejo pessoal de Calan (como é conhecida). Em entrevista exclusiva à coluna, ela celebra o crescimento do futebol feminino no Brasil na televisão e em outras plataformas, como TikTok e o canal Desimpedidos, do YouTube.

“Se antes era só a Band, virou Band e Twitter, depois Band, Twitter e SporTV a final. Hoje, a SporTV já passa as semifinais. O Sportv também pegou o Campeonato Sub-18. É mais gente assistindo. É muito mais visibilidade”, comemora Calandrini.

A ex-jogadora decidiu ser comentarista após encerrar precocemente a carreira, aos 30 anos, em função de lesões no joelho. Paralelamente, começou a estudar jornalismo e, em 2017, participou do reality show Exathlon Brasil, da Band, onde está até hoje nas transmissões de futebol feminino e no Band Esporte Clube, ao lado de Cris Dias. Suas referências são o comentarista Pedrinho, da Globo e do SporTV, e Glenda Kozlowski, sua colega de emissora, apresentadora do Show do Esporte.

O início de Alline na TV, no entanto, foi difícil. Além de ouvir muitas reclamações no ponto eletrônico, precisou se afastar de jogadoras que se incomodam com seus comentários na Band.

“Recebia muita chamada de atenção no ponto: ‘Fala mais lento’, ‘Fala mais rápido’, ‘Tem que ser mais curto’, ‘Não enrola tanto’. Passei por uma certa lapidação, porque não tinha noção. Admiro absurdamente o trabalho do Pedrinho, acho ele um cara muito técnico, passa uma informação muito simples, não tem rabo preso com ninguém, quando tiver que falar ele fala, e eu também passei por esse processo. Estou lidando de forma mais tranquila hoje, mas tive alguns problemas com algumas colegas e amigas que se incomodaram com críticas durante o jogo e não entendem que a modalidade está vivendo um momento diferente. Não tenho que ficar passando pano, tenho que falar se foi bem ou não. Perdi sim algumas amizades. Algumas jogadoras do Palmeiras não gostam de mim, porque acham que por eu ter jogado no Corinthians eu puxo para o lado do Corinthians. Passei por isso, mas hoje tenho a maturidade e a tranquilidade de ser íntegra e dar o meu melhor, 100%, independentemente de ser amiga ou não, porque é minha conduta do início ao fim”, explica.

A narradora Isabelly Morais e as comentaristas Milene Domingues e Alline Calandrini ReproduçãoTwitterisabellymoraiis

“Futebol feminino é resistência”

Um dos comentários de Alline Calandrini ultrapassou as quatro linhas do futebol. Em um Corinthians x Palmeiras como o deste domingo, ela criticou a publicação preconceituosa da atacante Chú, do time alviverde, contra o ator Paulo Gustavo, vítima da Covid-19. Para a ex-zagueira, a jogadora praticou LGBTfobia e intolerância religiosa em sua rede social.

“Acho que, independentemente se ela um dia se relacionou com uma mulher ou não, ou se mudou de religião ou não, ela foi preconceituosa, Foi ridículo, ódio gratuito. É uma pena. Ela não perdeu só a convocação para a seleção brasileira, perdeu muito mais do que isso. Futebol feminino é resistência. Mulher é resistência. Minha namorada [Stephanie Paula] acabou de fazer aqui aquele braço do ‘We can do it’ [símbolo feminista]. Por isso entende, sabe das dores”, analisa.

Veterana da atual equipe de transmissão do Brasileirão Feminino na Band, Alline Calandrini ganhou duas colegas e um time 100% feminino: a ex-jogadora Milene Domingues e a narradora Isabelly Morais. A parceria entrosou rapidamente, e o trio também trabalhou nas partidas da seleção feminina de futebol durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, pelo canal pago BandSports.

“A Isa é do rádio, teve que pegar o timing certo da narração de TV, mas ela agregou muito à transmissão, independentemente de gênero. Acho que tem que ser tudo igual, mas que bom que a Band faz uma transmissão 100% feminina e de mulheres que manjam muito. A Isa acrescentou absurdamente. E cada uma tem o seu perfil de comentários. Milene tem um jeito de comenta. Eu sou mais direta, mais técnica. É uma mistura, cada uma no seu jeito se completa e acaba ganhando muito aqueles que assistem sempre. Foi um pontaço da Band trazer as duas para se juntar a mim, mudou realmente o nível das transmissões”, elogia.

“Fiquei realmente só no futebol feminino, o que me incomoda muito. Tive esse ano uma surpresa muito interessante que foi fazer os comentários com a Cris [Dias] no Band Esporte Clube. Ali, falo de futebol independentemente do gênero. Temos na Band muitas mulheres falando de futebol, a Cris Dias, a Glenda Kozlowski, a Livia [Nepomuceno]. A Band, cada vez mais, abre espaço para a mulher falar de futebol. Na verdade, sempre teve, Renata Fan está aí, ícone total. Ela tem uma energia, uma tranquilidade, fala de um jeito surreal. Por estar no meio de um monte de homens, ser bonita, ter sido Miss Rio Grande do Sul e ter que quebrar esses paradigmas que a gente sabe que acontece, ela tem o respeito de todo mundo. Sei que no início tem sempre a dúvida, mas ela é um exemplo gigante de muito conteúdo”

Alline Calandrini, comentarista esportiva da Band

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