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Carol Zoccoli lança álbum de comédia em inglês: “Gringos reagem ao Brasil com dor”

Humorista do programa A Culpa É da Carlota, do Comedy Central, vive no exterior há nove anos

Publicado em 13/01/2022

Há nove anos vivendo fora do Brasil, Carol Zoccoli transformou em comédia suas “tragédias” como imigrante pela primeira vez em áudio. A integrante do programa A Culpa É da Carlota, do canal pago Comedy Central, lança nesta quinta-feira (13) o álbum Legal, resultado de um show realizado em outubro no Canadá, disponível nas principais plataformas de streaming. Embora seja totalmente falado em inglês, a humorista expõe histórias íntimas pelas quais qualquer brasileiro no exterior se identificaria. “Dramas reais”, diria o público.

“Um assunto que permeia todo o álbum é o fato de eu ser uma imigrante brasileira. Há piadas sobre a pandemia, sobre ficar em quarentena com o meu marido. Escolhi o nome Legal porque é uma palavra que existe em português e inglês. Como me tornei uma cidadã canadense, começo falando sobre isso: uma pessoa que emigrou e teve que aprender inglês, lidar com comidas diferentes e o clima”, explica Zoccoli em entrevista exclusiva à coluna.

Zoccoli morou no Canadá durante oito anos e se mudou para Nova York em janeiro de 2021, mas voltou ao país vizinho só para o espetáculo: “Aqui sempre foi muito tradicional o comediante gravar álbum, mas também tivemos no Brasil. Lembra os discos do Costinha e do Ary Toledo? O que tento fazer com o meu texto, e dá para perceber no álbum, é falar, por exemplo, de alguma coisa brasileira, mas em camadas. O gringo vai rir, mas o brasileiro vai entender muito mais profundamente e vai rir mais ainda”.

Metade do público era formada por brasileiros. Em função das restrições durante a pandemia, Zoccoli pôde receber até 30 espectadores com distanciamento no local. O coronavírus, aliás, ficou de fora dos temas do show.

“É difícil até para fazer piada. Quando começou a pandemia, claro, nenhum de nós esperava isso, foi bizarro. Fiquei de quarentena com meu marido, mas somos imigrantes brasileiros. Éramos novos no país, e todo mundo tinha um ‘círculo de covid’, com três ou quatro amigos que se viam pessoalmente, mas eu só tinha uma amiga com quem conversava pelo Zoom. Foi muito solitário. Eu nem acompanhava as notícias daqui, só me ligava ao Brasil”, conta.

Capa do álbum Legal, de Carol Zoccoli
Capa do álbum Legal de Carol Zoccoli Divulgação

A preocupação da comediante aumentou com os discursos e atos negacionistas do presidente Jair Bolsonaro (PL), provocando mais de 620 mil mortes relacionadas à pandemia. Zoccoli afirma que o comportamento de seu público estrangeiro mudou a partir da chegada da extrema-direita ao poder no Brasil.

“Antes, quando eu falava ‘sou brasileira’, havia palmas, alegria, um olhar positivo. Eles não sabem nada da gente, mas tinham um sentimento de que o brasileiro é legal. Meses depois que o Bolsonaro ganhou a eleição, eu entrava no palco e falava: ‘Sou brasileira’, e o público fazia: ‘Uuhh’. Juro por Deus, faziam um som de dor. Quando falo do Brasil, é difícil não trazer à tona um lado pesado da nossa cultura. Tenho uma preocupação grande porque não quero zoar o Brasil a ponto de falar que é uma bosta. Meu objetivo é mostrar o que a gente tem de bom. Por mais que eu faça piada, sempre quero trazer coisas positivas. Mas isso mudou um pouco. É difícil hoje não falar do que está rolando. Aqui, a galera me para na rua: ‘O que está acontecendo no Brasil?’. Eles não entendem como a gente chegou a esse governo. Torço muito para a Anitta dar certo aqui para a galera ter uma referência do que é o Brasil e vai ficar mais fácil para explicar”, brinca.

Carol volta regularmente ao Brasil para rever seus parentes em Goiás e gravar A Culpa É da Carlota. Expoente do cenário feminino no stand up comedy, ela ajudou a fortalecer o movimento ao criar o Festival Mamacitas, em 2018, somente com mulheres. A comediante se orgulha de ter contribuído para o combate ao machismo dentro do humor.

“Em A Culpa é da Carlota, até câmera é mulher! Percebo que rola um desconforto dos convidados homens. Não porque a gente trata mal, mas é um desconforto natural que a mulher sempre sentiu na comédia. Quando comecei, muitas vezes eu era a única no meio. Mesmo tendo muitos amigos, em qualquer ambiente em que você se sente diferente rola um desconforto”, analisa.

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