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Autor do Plantão da Globo fala pela primeira vez após vencer briga judicial

João Nabuco, compositor de vinheta famosa, processou Unilever por violação de direito autoral

Publicado em 25/05/2021

No ar há 30 anos, o Plantão da Globo assusta até quando é exibido por engano, como na manhã desta terça-feira (25), durante o intervalo do Encontro. Com apenas dois segundos no ar, a vinheta ficou entre os assuntos mais comentados nas redes sociais e surpreendeu Fátima Bernardes na volta do comercial.

“Entrou um pedacinho da vinheta e parou, e foi para o intervalo comercial. A trilha musical do plantão de jornalismo da Globo foi composta em 1991 pelo maestro João Nabuco. Eu fico impressionada com a força dessa composição que ele fez, porque quando roda todo mundo para”, disse Fátima, que lembrou uma situação curiosa envolvendo a música: “Eu já ouvi essa vinheta no cinema. Era o toque de chamada de alguma pessoa que achou legal botar isso. Eu, como trabalhava ainda no Jornal Nacional, acho que quase me agarrei no teto do cinema, porque falei: ‘O que está acontecendo neste momento?'”.

O autor da vinheta, João Nabuco, se assustou com sua própria composição por outro motivo. Em 2015, ele assistiu a uma campanha publicitária com o tema do Plantão da Globo e levou um choque porque não havia sido consultado para negociar o uso da música. Apenas a Globo, que encomendou a trilha para Nabuco há três décadas, pode executá-la em sua programação e até explorá-la comercialmente, mas a emissora recusa para preservar a principal marca de seu jornalismo.

A execução do Plantão da Globo em uma propaganda foi parar na Justiça. João Nabuco processou a Unilever por ter usado sua música sem autorização para uma uma animação produzida para o Rock in Rio, em que dois tomates aparecem como apresentadores de um telejornal, Plantão Hellmann’s.

Segundo o site Jota, especializado em notícias jurídicas, Nabuco derrotou a Unilever e deverá ser indenizado em R$ 40 mil por violação de direitos autorais. A decisão foi tomada pela juíza Clarissa Rodrigues Alves, da 14ª Vara do Foro Central Cível de São Paulo. Os vídeos da ação publicitária já desapareceram das redes sociais da marca.

Em entrevista exclusiva à coluna, João Nabuco comentou pela primeira vez sobre a vitória judicial e explicou por que precisou, pela primeira vez na carreira, exigir seus direitos. Ele afirma ter procurado a Unilever para negociar o uso da trilha, porém não foi atendido e se viu obrigado a contratar um advogado.

“Não tive saída, porque vivo de música. Temos que lutar, porque isso tem valor, senão não estariam usando. As músicas têm um autor, uma editora, têm donos, parcerias. Várias pessoas que participam da posse desse bem. Este é um bem intelectual. Ninguém pode pegar a minha música e botar em um comercial de maionese no maior festival de música daquele momento e falar que é uma paródia. Não foi uma coisa usada ‘en passant’ para fazer uma piada, foi uma campanha que eles passaram por cima de um direito que eles sabem muito bem que não poderiam ter passado, porque fazem isso há bastante tempo, mas ignoraram isso e preferiram fazer isso dessa maneira”, disse o maestro.

Nabuco esclarece que não é contra o uso da vinheta do Plantão da Globo em memes e outros fins. A música tenebrosa já tocou em carro de pamonha e até em alto-falantes carregados por burros para alertar sobre o coronavírus. O músico é fã de todas as brincadeiras, mas exige seus direitos se uma empresa multinacional utiliza sua produção para faturar.

“Toda vez que a música toca, as pessoas têm histórias da vida dela relacionadas a ela. Isso tem um valor inclusive mercadológico. Você está lidando com o inconsciente coletivo. Se eu fizer uma música similar, não terá o mesmo valor, porque não está no imaginário das pessoas”, conta.

Procurada pela coluna, a Unilever não se manifestou sobre o processo. A reportagem será atualizada assim que a empresa se posicionar.

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