Análise

Ao demitir Coppolla, CNN Brasil demora dois anos para consertar pior erro de sua história

Idolatrado por bolsonaristas, bacharel em direito feriu credibilidade de canal de notícias

Publicado em 29/10/2021

Em 5 de novembro de 2019, a CNN Brasil, antes de estrear, anunciou mais duas contratações para seu já estrelado elenco. A primeira, Gabriela Prioli, continua contratada. A segunda encerrará sua trajetória tenebrosa em 31 de outubro de 2021, segundo comunicou o canal de notícias à imprensa. Caio de Arruda Miranda, bacharel em direito que criou o sobrenome artístico Coppolla, feriu a credibilidade da empresa jornalística com ataques e mentiras.

Caio, anunciado como Coppolla, foi apresentado pela CNN como “referência de opinião para o público conservador”. Na prática, espalhou preconceito e desinformação à moda conservadora, com falso moralismo e destruição de reputações sob o pretexto de “defender” a família, a moral e os bons costumes. Na rádio Jovem Pan, conseguiu fama às custas de bate-bocas ao vivo com colegas como Fefito (quando emitiu uma fala transfóbica contra a jogadora de vôlei Tifanny Abreu) e Edgard Piccoli (ao passar a mão na cabeça do presidente Jair Bolsonaro suavizando a declaração desrespeitosa contra o pai do presidente da OAB, vítima da ditadura militar).

O sucesso como sujeito repugnante o levou à CNN Brasil para debater com Gabriela Prioli, esta sim advogada. Entretanto, O Grande Debate, programa tradicional nos Estados Unidos, virou no Brasil o palco perfeito para Caio “triturar” colegas, como fez na Jovem Pan (Fefito e Edgard Piccoli saíram da rádio em razão do linchamento provocado pelo rebanho de “Coppolla” nas redes sociais).

O bacharel em direito transformou a troca de ideias em uma competição em que só interessa vencer para ter razão. Seguindo este modus operandi da extrema-direita, “eliminou” Gabriela Prioli (de quem “apanhou” no debate de ideias e saiu ao ser confrontada pelo mediador Reinaldo Gottino), Augusto de Arruda Botelho (chamado por ele de “sua laia”) e Marcelo Feller (contra quem desobedeceu as regras do quadro impedindo-o de ser o último a falar).

A antiga direção da CNN Brasil, contudo, parecia não se incomodar com seu “padrão de qualidade” ruindo na TV e na internet. Entre as mentiras espalhadas pelo denominado “Coppolla”, estão a falsa cobrança de aluguel pelo MTST (inventada para atacar Guilherme Boulos) e a comparação esdrúxula entre mortes por coronavírus e por engasgo nos Estados Unidos, com o objetivo de encorajar as pessoas a saírem de casa durante a pandemia (iniciativa estimulada por Bolsonaro para que a maioria da população contraísse a Covid-19).

Sob a carapuça de “contestador”, Caio de Arruda Miranda desrespeitou também as decisões da CNN. Ao defender o isolamento social só para pessoas do grupo de risco para Covid-19 (bandeira bolsonarista), ele argumentou que a própria emissora o colocava em perigo obrigando-o ao trabalhar presencialmente. Monalisa Perrone precisou desmentir o colega: “A CNN Brasil deixa muito claro que segue as regras e, para lembrar a todos, os debatedores, os senhores e as senhoras que nos acompanham, o trabalho da imprensa no mundo inteiro é considerado um trabalho essencial nesse momento de pandemia. Quem diz isso não sou eu, é a Organização Mundial da Saúde”.

A CNN, aliás, já tinha motivos para demiti-lo em agosto de 2020, quando ele defendeu o colega conservador Leandro Narloch, que havia sido dispensado do canal por ter distorcido uma pesquisa e associado o vírus da Aids à “promiscuidade” de homossexuais (sempre ele, o falso moralismo).

Caio de Arruda Miranda abriu as portas da CNN, marca forte e consolidada do jornalismo mundial, ao negacionismo. Em julho de 2020, a antiga direção da emissora contratou Alexandre Garcia, jornalista que faturou alto mentindo sobre a pandemia. Ambos conseguiram um espaço na emissora sem que pudessem ser rebatidos ou questionado, o quadro Liberdade de Opinião.

A partir da troca de comando na CNN Brasil, em março deste ano, iniciou-se a “limpeza” ética da emissora de notícias, primeiramente com a saída de Alexandre Garcia e, agora, ao dispensar Caio de Arruda Miranda. Infelizmente, demorou dois anos para a emissora perceber que dar “liberdade” a profissionais sem apreço com a verdade foi seu pior erro.

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