A explicação brilhante de Silvio Santos sobre identidade de gênero, exibida no último domingo (12), surpreendeu muitas pessoas que compartilharam o trecho nas redes sociais. O dono do SBT recebeu em seu programa drag queens e artistas trans para duelarem no quadro Não Erre a Letra. À sua maneira, ensinou respeito e nem de longe pareceu o artista “cancelado” dos últimos anos. Prestes a se aposentar, o maior comunicador da TV está disposto a reverter a imagem que ele próprio corroeu.
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Este colunista, que é fã de Silvio Santos, foi um dos “canceladores” após sucessivas manifestações de preconceito e desrespeito contra mulheres negros, crianças, gays e outras parcelas da sociedade. Confortável em cima de seu pedestal de “mito”, nunca mostrou interesse em corrigir deslizes ou aprender novas visões de mundo. Além disso, está rodeado de familiares fundamentalistas, que usam a Bíblia para ditar o certo e o errado, e um estafe feroz com quem ousa desconstruir a “mitologia” em torno do apresentador. O resultado: “cancelamento”, processos e condenações judiciais.
Em dois minutos de conversa com Ava Simões, Miss Trans Star International 2019, Silvio desfez toda a impressão do parágrafo anterior deste texto. Lúcido, o senhor de 91 anos reconheceu a existência de mulheres que nascem no corpo de homens. Ainda que com algumas derrapadas (como chamar orientação sexual e identidade de gênero de “preferências”), o apresentador tratou com educação ímpar pessoas que são abominadas por seus apoiadores na política ou pela religião do “núcleo duro” de sua família.
Silvio sempre levou em seu programa mulheres trans, travestis e drag queens, porém todas representadas como “homens vestidos de mulher”. O aparente apoio à comunidade LGBTQIAP+, na verdade, foi um entretenimento barato e exótico, com questionamentos totalmente preconceituosos sobre o “nome de menino” e o órgão genital das convidadas. Esta entrevista com Roberta Close, em um Show de Calouros de 1988, resume bem o “show de horrores” pelo qual elas passavam na TV.
Por esse motivo, o respeito de Silvio pelas candidatas do Não Erre a Letra surpreendeu. Felizmente, Ava Simões não passou pela bateria de perguntas indigestas e se impressionou com a capacidade do apresentador de assimilar a identidade de gênero.
“Quando Silvio Santos começou a falar daquela forma, foi um presente! Ele começou a falar com tanta clareza, tão bonitinho, tão dentro da visão de mundo dele, da visão de um hétero, de um senhor conservador. Falei comigo: ‘Fique só observando caso tenha que corrigi-lo’. Mas foi tão claro que não precisou. Pedi palmas a ele porque foi muito incrível, ainda mais para mim, que vim de uma cidade de sete mil habitantes”, conta à coluna Ava Simões, que nasceu em Recreio (MG).
Dentista no Rio de Janeiro, a miss de 45 anos (completará 46 na próxima quinta) considera ter recebido de Silvio um prêmio muito maior do que os R$ 2 mil do quadro musical: uma “aula” de como enxergar o próximo sem ódio e preconceito. Nos bastidores do programa, gravado na última quinta, as outras participantes da gincana repercutiram a manifestação do dono do SBT, praticamente prevendo o impacto da fala nas redes sociais.
“Quando saímos juntas, só se falou nisso: ‘Gente, vocês têm noção do que aconteceu?’. Eu, meio perdida: ‘O que eu falei de errado?’. Naquele momento, vi que ele estava falando tudo certo. Eu não ia fazer a militante e puxar: ‘Essa a minha voz de fala, Silvio Santos! Eu que tenho que explicar isso!’. Todas nós estávamos eufóricas e assustadas”, recorda ela.
Assista abaixo à conversa de Silvio Santos com Ava Simões:
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