O dia 21 de abril é feriado nacional. Muita gente nem sabe por que razão. Nesta data, em 1792 – portanto, há 230 anos -, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, de apelido Tiradentes, foi enforcado e esquartejado na cidade de Vila Rica, hoje Diamantina, em Minas Gerais, por ser o líder do movimento conhecido por Inconfidência Mineira, que defendia a independência do Brasil, então colônia portuguesa, em razão de uma série de insatisfações.
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O dia é feriado também porque nesta data, em 1960, foi inaugurada uma nova capital para o País, Brasília, obra do governo do presidente Juscelino Kubitschek em seu plano de desenvolver o Brasil “50 anos em cinco”, mas essa é outra história.
A teledramaturgia não costuma visitar com frequência o final do século 18 em suas tramas, nem isso era comum quando a tônica dos enredos era mais fantasiosa e descompromissada com a realidade – anos 1960, com alguns resquícios na década seguinte. Mesmo assim, Tiradentes foi personagem de duas novelas, com simbologia curiosa em relação à vida real dos espectadores em suas épocas de exibição.
Em 1969, Ivani Ribeiro estreou sua décima terceira novela seguida para o horário das 19h30 da TV Excelsior, e escolheu para protagonista da história justamente Tiradentes. Inspirada numa célebre frase atribuída ao mártir da Inconfidência, que a teria dito pouco antes de morrer em punição por trair a Coroa (“Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria, para salvar as deles!”), a novelista batizou o novo projeto de Dez Vidas, e o primeiro capítulo foi ao ar em agosto.
Carlos Zara dava vida a Joaquim José da Silva Xavier, e a trama, que partia do livro Tiradentes – A Áspera Estrada Para a Liberdade, escrito por Luiz Wanderley Torres, alinhavava também os conflitos particulares de outros personagens importantes do movimento da Inconfidência.
Entre eles estão Tomás Antônio Gonzaga (Gianfrancesco Guarnieri), Bárbara Heliodora (Nathália Timberg), Padre Rolim (Fábio Cardoso), Cláudio Manoel da Costa (Fernando Torres) e Alvarenga Peixoto (Edson França), além, é claro, do traidor Joaquim Silvério dos Reis (Stênio Garcia).
Tomás Antônio e seu triângulo amoroso com Marília (Maria Isabel de Lizandra) e Carlota (Arlete Montenegro) foram um ponto forte da novela, ante os vários cortes impostos pela Censura à trama histórica.
Até a rainha de Portugal na época em que a história se passava, D. Maria I, deu as caras na novela, em interpretação de Rita Cleós.
A Censura implicou muito com o projeto, que tinha como figura central justamente um ícone da subversão ao governo, embora quase 200 anos antes, e a TV Excelsior acabou mudando o horário da novela de 19h30 para 20h30.
As dificuldades de produção também eram muitas – e em parte motivadas também por questões políticas da vida real, já que o governo militar dificultou muito a vida das empresas da família Simonsen, que era proprietária da emissora, notadamente as exportações de café e as operações da companhia aérea Panair.
O atraso no pagamento de salários e a necessidade de deslocar atores do elenco de uma novela em curso para outra, de outro horário, escalados que estavam para mais de uma produção ao mesmo tempo, fez com que diversos profissionais deixassem o elenco de Dez Vidas.
Foi o caso, por exemplo, de Regina Duarte, que vivia Pompom e deixou a Excelsior atendendo a convite da Globo, emissora na qual estrearia ainda em 1969 como a Andreia de Véu de Noiva, de Janete Clair; Pompom passou a ser interpretada por Leila Diniz após a saída de Regina.
Ainda no elenco, que foi minguando no decorrer da novela, as presenças de Cláudio Corrêa e Castro, Vera Nunes, Lélia Abramo, João José Pompeo, Gracindo Júnior, Cleyde Blota, Newton Prado, Ruthinéa de Moraes, Osmano Cardoso, Vida Alves, Antonio Pitanga e Geraldo Louzano, entre outros.
Dirigida por Gonzaga Blota, Gianfrancesco Guarnieri e Reynaldo Boury, Dez Vidas teve seu último capítulo no ar em janeiro de 1970.
Em 2016, a última produção da faixa das 23h da Globo a ser chamada de novela até aqui também localizou sua trama na época da Inconfidência e pouco depois dela.
Liberdade, Liberdade, de Mário Teixeira com argumento de Márcia Prates, tinha início justamente em 1792, quando Joaquim José da Silva Xavier (Thiago Lacerda) foi perseguido e morto devido a sua participação no movimento revoltoso.
O que ninguém sabia é que ele havia tido uma filha com Antônia (Letícia Sabatella): Joaquina (Mel Maia). A menina é adotada por Raposo (Dalton Vigh), um simpatizante do movimento inconfidente, e levada para a Europa.
Anos depois, em 1808 – época da vinda da Família Real portuguesa para cá –, ela retorna ao Brasil sob outra identidade, Rosa, a fim de não sofrer retaliações por ser filha de quem é, e se torna alvo do amor de Rubião (Mateus Solano) – justamente o homem que traíra seu pai e o levara à morte –, hoje intendente de Vila Rica.
Para desenvolver o argumento da novela Márcia Prates baseou-se num romance de Maria José de Queiroz intitulado Joaquina, Filha do Tiradentes.
Dirigida por Vinícius Coimbra, Liberdade, Liberdade foi exibida de abril a agosto, e teve em seu elenco ainda as presenças de Bruno Ferrari, Nathália Dill, Marco Ricca, Maitê Proença, Zezé Polessa, Juliana Carneiro da Cunha, Lília Cabral, Caio Blat, Ricardo Pereira e Lu Grimaldi, entre outros.
Ainda, a título de curiosidade, Francisco Cuoco interpretou Tiradentes numa participação especial em Saramandaia (1976), de Dias Gomes, quando o alferes foi encontrado pelo professor Aristóbulo (Ary Fontoura) numa das andanças que fazia em suas noites de insônia.
Por fim, Cláudio Cavalcanti deu vida ao personagem histórico em Tiradentes, Nosso Herói, especial exibido na Sexta Super em 20 de abril de 1984.
Com roteiro de Lafayette Galvão e direção de Augusto César Vannucci, o programa teve como proposta falar sobre a Inconfidência Mineira para o público infantojuvenil e seguiu a trilha de outros projetos do diretor como Pirlimpimpim (1982) e Plunct, Plact, Zuuum… (1983).