Reportagem especial

Maior hospital psiquiátrico do País, Juquery é tema de documentário da GloboNews

Filme vai ao ar no domingo (22), às 23h

Publicado em 18/05/2022

Neste domingo (22), às 23h, a GloboNews exibe Juquery – Lugar Fora do Mundo, documentário original do canal de notícias. O especial fala do maior hospital psiquiátrico do Brasil, o Juquery, cujas portas foram fechadas no ano passado.

Durante mais de 120 anos, milhares de pessoas foram abandonadas no local e tiveram sua dignidade roubada pelo Estado, além das muitas que perderam a vida por lá.

Localizado no município de Franco da Rocha, na Região Metropolitana de São Paulo, o complexo foi construído em 1898 para oferecer tratamento a pessoas portadoras de doenças mentais. Mas a realidade lá dentro era bem diferente.

Ex-pacientes, ex-funcionários e pesquisadores falam sobre as inúmeras violações aos direitos humanos que aconteceram nesse misterioso hospital, incluindo seu uso como aparato da Ditadura Militar.

“É um hospício que nasce com o advento da República e, portanto, com uma vocação de tornar o ambiente público higienizado e com uma perspectiva eugênica, ou seja, de raça pura. As pessoas que de alguma forma se diferenciavam daquilo que era considerado normal deviam ser ‘hospedadas’ nesse hospício. Os primeiros hóspedes foram negros, prostitutas e imigrantes desempregados”, explica a psicóloga e pesquisadora Isabel Cristina Lopes.

Outro pesquisador ouvido em Juquery – Lugar Fora do Mundo, João Fernando Marcolan, acrescenta que também era alvo quem discordasse ideologicamente do movimento politicamente instituído: “Mulheres que iam contra o patriarcado, por exemplo, também eram internadas”, revela.

O Complexo Hospitalar Juquery chegou a ter mais de 16 mil pacientes na década de 1970 e foi palco de diversas atrocidades. O ex-funcionário Walter Faria conta que a instituição tinha condições insalubres e que tratamentos com eletrochoque e insulinoterapia eram comuns.

“O Juquery fedia, os pacientes urinavam e defecavam em tudo quanto é lugar, as medicações eram precárias. Eles deitavam os pacientes no chão, sentavam em cima para que não se mexessem e vinham com a máquina de choque por trás. Muitos apagavam na hora e só acordavam cerca de duas horas depois ou não acordavam mais. Aplicavam insulina na veia do paciente e ele entrava em coma. Diziam que era para melhorar. Como melhorar? Era mais para punir do que para curar”, revela o ex-funcionário que acabou sendo internado quando se deu conta do que acontecia lá e se recusou a trabalhar.

“Quando eu comecei a ter algumas noções, me internaram como louco. Rasparam minha cabeça, arrancam todos os meus dentes e me jogaram numa cela. Era muito sofrimento. Isso não devia existir em lugar nenhum”, desabafa.

O documentário revela que o Manicômio Judiciário, que integrava o Complexo Hospitalar do Juquery, serviu para presos políticos serem torturados durante a Ditadura Militar.

“Eu cuidei de um paciente que chegou com hemorragia e precisou fazer uma cirurgia. Ele ficava algemado e a Polícia Militar ficava na porta do centro cirúrgico. Ele me contou que era jornalista e que foi preso durante uma passeata no Rio Grande do Sul. Foi transferido para São Paulo e acabou indo parar no Manicômio, onde rasparam a cabeça dele e tiraram todos os dentes”, conta uma ex-funcionária que não quis se identificar. 

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