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Há 35 anos, dose dupla de Francisco Cuoco em O Outro marcava volta do astro às novelas

Cartaz do horário nobre, primeira história solo de Aguinaldo Silva foi acusada de plágio

Publicado em 23/03/2022

“De todo o meu passado/ Boas e más recordações/ Quero viver meu presente/ E lembrar tudo depois/ Essa vida passageira/ Eu sou eu, você é você/ Isso é o que mais me agrada/ Isso é o que me faz dizer/ Que vejo flores em você…”. O conjunto Ira! embalou de março a outubro de 1987 o horário nobre da TV Globo com ‘Flores Em Você’, tema de abertura de O Outro, primeira novela de Aguinaldo Silva como autor titular sem parceria.

Anteriormente, no gênero o escritor havia assinado Partido Alto (1984), dividida com Glória Perez, e Roque Santeiro (1985/86), criação de Dias Gomes, da qual Aguinaldo atualizou os primeiros 50 capítulos e escreveu cerca de outros 100.

Assim como O Terceiro Homem, de Carol Reed, O Segundo Rosto, de Frankenheimer, Kagemusha, de Akira Kurosawa, O Duplo, de Fiódor Dostoiévski, Vidas Cruzadas, de Ivani Ribeiro, e O Semideus, de Janete Clair, O Outro tratava de duas figuras idênticas, ou ao menos bastante semelhantes entre si, e da troca de uma por outra ante a família, os negócios e os problemas da vida.

“Você é único? Ou, em algum lugar, existe um outro igual a você? A sua imagem refletida em outra pessoa; alguém que pode mudar a sua vida” – esse era o mote da promoção da novela antes de sua estreia, ocorrida em 23 de março de 1987. “O tema já foi explorado, mas a maneira de contar a história será sempre diferente”, declarou Aguinaldo Silva à época.

Isso além da volta triunfal de Francisco Cuoco ao vídeo, em projeto pensado para ele. Na ocasião, o ator estava ausente das novelas desde o término de Eu Prometo, última novela de Janete Clair, encerrada em fevereiro de 1984.

Nesse meio tempo, Cuoco recusou o convite para reviver o papel-título de Roque Santeiro, que era seu em 1975, quando a história fora censurada. Em 1985, a história enfim chegou ao público, após 10 anos proibida. José Wilker foi Roque.

A história central de O Outro

Paulo Della Santa (Francisco Cuoco) em O Outro
Paulo Della Santa Francisco Cuoco em O Outro

Francisco Cuoco interpretava dois personagens em O Outro: o empresário do ramo imobiliário Paulo Della Santa e o dono de ferro-velho Denizard de Mattos. Embora não sejam gêmeos, eles se parecem muito, e moram no mesmo bairro, Copacabana.

Paulo é filho de Agostinho (José Lewgoy), dono de um dos últimos casarões que restaram na Avenida Atlântica, e não vive o melhor momento de seu segundo casamento, com Laura (Natália do Valle). O empresário tem dois filhos: a rebelde Marília (Beth Goulart) e o médico sanitarista Pedro Ernesto (Marcos Frota).

Denizard de Mattos (Francisco Cuoco) em O Outro
Denizard de Mattos Francisco Cuoco em O Outro

Já Denizard é um sujeito do tipo despachado, alegre, pai de uma adolescente, Zezinha (Cláudia Abreu). A jovem não vê com bons olhos o namoro do pai com a secretária, a bela Índia do Brasil (Yoná Magalhães). Mesmo assim, Índia a protege e orienta quando é o caso, porque deseja ser amiga da moça.

Depois de ver seu “outro” num sonho, Paulo se encontra com Denizard por acaso, num posto de gasolina. No entanto, uma explosão ocorre e os dois acabam trocando de lugar. Paulo é dado por desaparecido, enquanto Denizard vai para o seio da família Della Santa, que passa a influenciar com suas atitudes.

Acusação de plágio a O Outro

Pouco antes da estreia da novela, a TV Globo implementou o projeto da Casa de Criação Janete Clair. Liderada por Dias Gomes, a iniciativa tinha por objetivo fomentar o surgimento de novos profissionais para a escrita de televisão, novos projetos de dramaturgia e colaborar com as produções em curso e/ou já no ar.

Em parceria com Marilu Saldanha, a cineasta Tânia Lamarca apresentou à Casa de Criação uma sinopse intitulada Enquanto Seu Lobo Não Vem. Para sua surpresa, ao acompanhar os capítulos de O Outro identificou elementos que coincidiam com alguns da sinopse apresentada, o que a levou a acionar a Justiça numa acusação de plágio.

No entanto, Aguinaldo Silva não teve culpa alguma na história. Embora fosse o autor de O Outro, a história passou por análises da Casa de Criação, e no decorrer dos trabalhos, pode-se dizer até que, sem intenção, ingredientes de trabalhos indicados para apreciação podem ter se embaralhado e levado ao que caracterizou o plágio – reconhecido pela Justiça, inclusive, depois da devida investigação.

Tânia Lamarca venceu o processo que moveu contra a TV Globo, e o episódio levou à norma de que nenhum funcionário da emissora recebesse materiais como sinopses de quem quer que seja. Além de ter colaborado fortemente para o fim de uma ideia interessante como a da Casa de Criação. Tanto assim que Dias Gomes já assinou a substituta de O Outro, Mandala.

Confira abaixo o vídeo do TBT da TV do Observatório da TV sobre a novela que trouxe Francisco Cuoco de volta em dose dupla, após uma ausência de três anos da telinha!

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