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Você conhece a São Paulo de Bom Dia, Verônica?

Série ambientada na cidade dá destaque para ângulos inexplorados da megalópole; Prefeitura incentiva filmagens locais

Publicado em 09/10/2020

Com as externas filmadas em São Paulo, a série nacional Bom Dia, Verônica traz belos takes de locais pouco explorados da cidade nas telas. O diretor-geral José Henrique Fonseca, carioca, privilegia ângulos diferenciados até para os paulistanos na produção da Netflix.

Ao longo dos oito episódios, há poucos cenários clichês da megalópole, e mesmo pontos de referência como o Minhocão (Elevado Presidente João Goulart) e Edifício Altino Arantes (o antigo prédio do Banespa, hoje Torre Santander) são enquadrados de forma diferente do tradicional.

Elevado Presidente João Goulart (Minhocão), em São Paulo, mostrado na série Bom Dia, Verônica
Elevado Presidente João Goulart Minhocão em São Paulo mostrado na série Bom Dia Verônica ReproduçãoNetflix

Nada de destaque para cenários públicos manjados, como Parque do Ibirapuera, monumento às Bandeiras (o famoso empurra-empurra). Até a Avenida Paulista é enquadrada a partir de uma quadra pouco filmada, sem focalizar o Masp, o prédio da Fiesp ou o Parque Trianon.

Acontece que, em São Paulo, a Prefeitura incentiva empresas que fazem filmagens de cinema, TV e publicidade na cidade, num programa para atrair produções com grande potencial de impacto internacional.

Chamado de cash rebate, o programa restitui um percentual de 20% a 30% do valor total gasto por produções que escolham a cidade de São Paulo como locação. Os projetos contemplados precisam ter um gasto local mínimo de R$ 2 milhões para filmes, séries e obras publicitárias internacionais através de uma produtora local.

A protagonista de Bom Dia, Verônica mora numa casa – supostamente localizada entre os bairros de Brooklin e Santo Amaro, pelo que indica o trajeto mostrado na série. Para ir até o seu trabalho, na Polícia Civil, no Centro, ela percorre parte da Marginal Pinheiros.

O seriado, um suspense policial com toques de terror, já começa com uma tomada aérea da região da Ponte Estaiada – em geral, vista pela sua lateral esquerda, observada a partir dos estúdios de vidro dos telejornais diurnos da TV Globo em São Paulo.

Ponte Estaiada, em São Paulo, mostrada na série Bom Dia, Verônica
Ponte Estaiada em São Paulo mostrada na série Bom Dia Verônica ReproduçãoNetflix

Nem tudo é verdade

No entanto, as belas luz e fotografia podem enganar quem chegar à capital paulista de ônibus vindo de outro estado. Isto porque a série coloca a rodoviária da história onde na verdade funciona um terminal de ônibus locais.

Quando várias personagens secundárias chegam de ônibus vindas do Maranhão, o local de desembarque delas é na verdade o Terminal Sacomã – e não o Terminal Rodoviário do Tietê, principal da cidade.

Terminal Sacomã, em São Paulo, mostrado na série Bom Dia, Verônica
Terminal Sacomã em São Paulo mostrado na série Bom Dia Verônica

Dá pra entender a concessão artística do diretor, haja vista a beleza e iluminação das instalações do Sacomã, mais nova que a do Tietê ou do outro terminal rodoviário, na Barra Funda.

Já o final da primeira temporada acontece em outro ponto badalado do Centro Velho, o final da Rua da Consolação, nos arredores da Praça Roosevelt e da Praça da República. Uma cena com direito a um breve passeio ciclístico noturno, que deixa tudo ainda mais charmoso.

Psycho killer

A série policial Bom Dia, Verônica é adaptada do livro de Ilana Casoy e Raphael Montes, primeiramente lançado sob o pseudônimo Andrea Killmore. Traz a história de Verônica Torres (Tainá Müller), uma escrivã do DHPP, departamento da polícia civil de investigação de homicídios. Casada e mãe de dois adolescentes, ela não se contenta com a função burocrática.

A heroína, entre as várias tentativas de resolução de crimes contra mulheres, ainda tem tempo para cuidar do pai, um policial veterano acusado de corrupção e que foi dado como morto.

Verônica acaba por extrapolar suas funções e se aproxima de personagens nas investigações. Uma delas é a dona de casa Janete Cruz __ vivida de forma espetacular por Camila Morgado –, que é casada com um PM, interpretado pelo não mais que excelente Eduardo Moscovis.

Aliás, as melhores cenas da temporada são as deste casal que, com o perdão da palavra, roubou a cena do núcleo policial. Tanto Camila Morgado quanto Eduardo Moscovis estão irrepreensíveis nas suas caracterizações. O ator enfim tem um merecido grande papel após revezar com um gato na questionável O Sétimo Guardião (2018-2019), de Aguinaldo Silva.

Também, após tantos papeis sem importância em novelas, me pareceu muito merecida a escalação de Antônio Grassi como o chefe da delegacia, no papel do delegado Wilson Carvana, uma clara homenagem ao ator Hugo Carvana (1937-2014). Os responsáveis pela bonita direção de fotografia na série são Flavio Zangrandi e Rodrigo Monte, ABC.

O diretor José Henrique Fonseca certamente assimilou muito das histórias ouvidas do próprio pai. Afinal, o escritor Rubem Fonseca (1925-2020) trabalhou vários anos como escrivão policial no Rio de Janeiro antes de viver da literatura.

Vista noturna de São Paulo, mostrada na série Bom Dia, Verônica
Vista noturna de São Paulo mostrada na série Bom Dia Verônica ReproduçãoNetflix

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