Não haverá outro galã como Tarcísio Meira. Herdeiro direto dos astros de Hollywood para a nossa TV, ele atraiu várias gerações para os sonhos românticos das telenovelas. Tal como os atores do cinemão norte-americano, fazia com que não apenas as mulheres mas também os homens prestassem atenção na sua voz potente, porte físico e largo sorriso num rosto marcante.
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Começo dos anos 1970 e a novela em cartaz na TV Globo era a clássica Irmãos Coragem, a trama de Janete Clair que se tornaria um clássico tupiniquim — a novela que está para o romance televisivo brasileiro como Os Irmãos Karamázov, de Dostoiévski, está para a literatura russa.
Tarcísio viveu o protagonista, João Coragem. De acordo com a TV Globo, a novela foi um sucesso tão retumbante que o seu penúltimo capítulo rendeu mais audiência do que a final da Copa do Mundo de 1970.
Eu era muito, muito pequena, mal começara a andar e ainda estava aprendendo a falar. Mas bastava a TV estar ligada na novela em preto e branco, ou passar alguma chamada durante a programação, para eu chegar perto da TV, apontar para o João Coragem de Tarcísio Meira e mostrar para todo mundo: “É o meu namorado”! E ai de quem negasse, pois eu começava a chorar.
Eu dizia isso para quem aparecesse em casa. Tenho apenas vaga lembrança dessas imagens, soltas, dispersas na memória difusa que é a da nossa primeira infância. Mas minha mãe (e como sinto falta dela e dessas histórias!) contou e recontou essa passagem ao longo de toda minha vida, da adolescência até a fase adulta, daquele jeito que só as mães sabem. Até no dia quando os namorados de verdade começaram a aparecer em casa!
Relato aqui essa breve história pessoal, pedindo licença à magnífica dama Glória Menezes, para ilustrar o papel do galã na nossa vida e como ele vira referência para a construção de um ideal de romance no nosso imaginário.
Tarcísio Meira não era apenas um rosto bonito. Teve escola de atuação: começou fazendo teatro em São Paulo com nomes como Sérgio Cardoso e Antunes Filho, foi para a televisão e fez cinema.
Foi o Irmão Coragem valente e honesto, foi a nossa mais marcante imagem de Dom Pedro I no cinema, no filme Independência ou Morte (1972, de Carlos Coimbra). Fez par romântico com as maiores beldades — Vera Fischer, Sônia Braga, Luma de Oliveira, Bruna Lombardi, entre tantas outras –, além da única esposa ao longo da vida, Glória Menezes. O casal estreou como par romântico em 25499 Ocupado , a primeira novela diária na nossa televisão, em 1963.
Verdadeiro ícone de nossa cultura, Tarcísio Meira ganhou dois troféus APCA de melhor ator de Televisão (prêmio concedido à categoria a partir de 1972). O primeiro deles, em 1975, foi como intérprete na novela Escalada. E novamente no ano 2000, foi premiado pelo seu desempenho na minissérie A Muralha, de Maria Adelaide do Amaral, que também levou o Grande Prêmio da Crítica no ano.
Ele encarnou papéis de vilão, fazendo-se feio em muitos momentos. Por meio dele, vivemos tantos sonhos, deixando-nos levar por personagens sedutores, maldosos, enigmáticos, engraçados. Tarcísio Meira viveu todos eles e até a idade mais avançada.
Assim como boa parte do Brasil, estou triste hoje com sua morte, aos 85 anos de idade. Permanecem nos acervos, arquivos e catálogos de filmes todos os personagens que ele nos deu de presente ao longo da carreira. Para mim, fica a doce saudade de um tempo quando ele era mesmo o meu namorado.