O Globoplay tem uma entrevista histórica com o militar da reserva Newton Cruz, que morreu de causas naturais na sexta-feira, 15, no Rio de Janeiro. Ele tinha 97 anos de idade.
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Trata-se de uma conversa cara a cara conduzida pelo repórter Geneton Moraes Neto (1956-2016).
Foi levada ao ar originalmente em abril de 2010.
O general Newton Cruz tinha sido chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI) e um dos nomes da chamada linha dura da ditadura militar.
Quando foi veiculada, a entrevista era parte do especial Os Generais Falam, exibido no programa Dossiê GloboNews – um material que deu ao canal de notícias Globonews à época o Prêmio Imprensa Embratel, na categoria Televisão.
A conversa integra a seleção especial de conversas jornalísticas agrupadas para celebrar o aniversário do Globonews: 25 anos em 25 Entrevistas.
Esta entrevista com Newton Cruz foi realizada na casa do general, um ambiente de decoração clássica, porém sem ostentação, e tem um ar um tanto intimista, com o general com a camisa ensopada de suor sob a luz de um abajur.
Nota-se como Geneton está sentado tão próximo de seu entrevistado, a ponto de o militar quase tocar seu nariz quando este lhe aponta o dedo em riste.
O jornalista permanece imóvel, preso na retidão do seu ofício, pronto para engatilhar a próxima pergunta.
Um dos grandes nomes do jornalismo televisivo, com estilo peculiar, Geneton Moraes Neto deixou sua marca com entrevistas diretas e sem titubear diante de entrevistados mais difíceis. Faz falta nos dias de hoje.
Vale observar como ele conduz a conversa diante de um militar austero, com constantes levantadas de voz, e ainda assim se mantém calmo.
Geneton, como jornalista da velha guarda, constantemente observa as anotações nos seus papeis nas mãos, esquecendo-se deles quando Newton Cruz faz revelações que eram um tanto inesperadas, imediatamente formulando novas questões.
O especial intercala a conversa a uma contextualização dos fatos, com imagens e narração de Sérgio Chapelin – esta também uma voz inconfundível dos documentários da marca Globo.
O general, de pele bronzeada, mesmo na idade avançada – ele usa um aparelho auditivo – mostra-se bastante alterado em alguns momentos.
No entanto, em outros, tem até alguma condescendência, um certo ar de zombaria. Mais do que uma vez clama pela macheza de seus atos.
Geneton começou a entrevista perguntando ao general, já na reserva e bastante altivo aos 85 anos de idade, questionando Newton Cruz sobre o episódio trágico do Rio Centro.
Explicanado: em 1981, militares planejaram lançar bombas em um evento organizado por civis na comemoração do 1 de Maio.
Era um atentado que, entretanto, não se efetivou, pois a bomba estourou dentro do carro estacionado no colo de um deles, matando um e ferindo gravemente o outro.
Newton Cruz admitiu que tinha ciência do planejamento – que ele tratou como um “ato de presença”. Segundo ele, “a ideia não era matar ninguém”.
Ele disse ter comentado o caso com o seu superior, pois ambos estavam em Brasília.
Cruz não levou o plano ao conhecimento do então presidente da República, general João Batista Figueiredo, como seria de se esperar. O Brasil estava em pleno regime militar (1964-1985).
Newton Cruz guardou para a entrevista a Geneton uma revelação inédita: havia um outro ataque semelhante em planejamento, que, no entanto, não foi adiante, pois desta vez ele ameaçou denunciar.
Serviço
GloboNews: 25 Anos Em 25 Entrevistas
Newton Cruz
Temp 1 – Ep 2
1 h