Pais e Filhos

Análise: Sucessão na Globo replica modelo de gestão familiar na TV brasileira

Herdeiros de Roberto Marinho reassumem direção dos negócios; tradição se repete nas demais redes

Publicado em 19/10/2021

Não há nada muito extraordinário no anúncio feito pela Globo na semana passada sobre a nomeação de suas novas lideranças. Mais um caso típico de processo sucessório resolvido dentro da própria casa.

É tradição e regra na mídia brasileira, formada por empresas de capital fechado, os sócios-proprietários e seus familiares e descendentes atuarem na gestão dos negócios.

João Roberto Marinho assumirá a presidência do Grupo Globo e Paulo Marinho (filho de José Roberto Marinho), hoje diretor de Canais da Globo, comandará a Globo (que tem a Globo Comunicação e Participações S.A. como razão social).

Por Globo, entenda-se o conceito de uma só Globo, que abrange: Rede Globo de Televisão, Globosat, Globo.com e Globoplay.

João Roberto e Paulo, respectivamente, filho e neto do fundador Roberto Marinho (1904-2003), substituirão a partir do início de 2022 o executivo do primeiro escalão Jorge Nóbrega, que atualmente acumula os dois cargos.

Diz a nossa legislação que todas as emissoras de rádio e TV têm que ter pelo menos 70% do seu capital pertencente, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos.

Paulo Marinho
Paulo Marinho que assumirá o comando da Globo no início de 2022 foto Divulgação

Eles exercem obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecem o conteúdo da programação.

Historicamente, os grupos de comunicação perpetuam ao longo das décadas os familiares dos sócios nos principais cargos executivos.

Cargos e funções de comando passam de pai para filhos e netos, tais como a titularidade das concessões do serviço público de radiodifusão.

Herdeiros

Na Globo, desde que o fundador deixou suas funções, os três herdeiros de Roberto Marinho (Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto) vinham se dividindo na administração da nave-mãe que é a TV e todo o conglomerado.

Roberto Irineu Marinho esteve à frente do Grupo na maior parte do tempo e enfrentou no início dos anos 2000 o seu período mais complicado.

Foi quando a empresa altamente endividada teve de vender alguns de seus ativos mais valiosos, como por exemplo as afiliadas de TV no rico interior de SP.

Também foi nesse período que a Globo teve de recorrer a empréstimo junto ao BNDES – o mesmo foi feito na época por outros grupos de mídia.

Desde então, João Roberto ficou mais dedicado ao grupo de jornais, revistas e rádio e José Roberto sempre teve maior afinidade em atuar em proximidade com as atividades da Fundação Roberto Marinho.

A partir do afastamento de Roberto Irineu Marinho do dia a dia da empresa no inicio de 2017, movimento que teve mais um desdobramento em abril deste ano , toda a engrenagem para troca do comando foi acelerada.

Os três irmãos também vão igualmente ocupar cadeiras no Conselho de Administração do Grupo.

Outras redes

No SBT, todas as empresas do Grupo Silvio Santos estão a cargo das suas seis filhas e a divisão das funções segue muito bem desenhada com vistas à sucessão empresarial.

No ano passado, quando o sobrinho Guilherme Stoliar se aposentou, as funções já ficaram bem delineadas no conglomerado.

Na Band, João Carlos Saad segue na presidência do grupo e à frente de todas as decisões pelo menos até 2026.

Há pouco mais de dois anos, houve questionamento judicial sobre essa gestão impetrado por duas de suas irmãs.

Ainda hoje seguem em trâmite processos de interesse da família por conta do espólio do fundador da Band. João Jorge Saad morreu em 1999, deixando cinco filhos.

Na  RedeTV!, o sócio majoritário  Amilcare Dallevo Jr. tem dois filhos em cargos estratégicos na empresa: Amilcare Dallevo Neto é o homem à frente de negócios comerciais e Alexandre Dallevo,  está à frente da Peanuts, que cuida das estratégias da empresa para a área digital.

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